Colômbia importa café do Brasil para preservar suas exportações
O café colombiano é apontado como uma das principais razões para turistas do mundo todo visitarem o país. Para quem pensa em conhecer o terceiro maior produtor mundial de café e saborear os famosos "suaves lavados" produzidos nos vales formados pelas três cordilheiras dos Andes - Oriental, Central e Ocidental - vale um cuidado. Na xícara colombiana pode estar um produto colhido no sul de Minas ou na Mogiana paulista, duas das mais tradicionais regiões produtoras de café arábica do Brasil.
Sim, a Colômbia se rendeu a seu principal concorrente e está importando café brasileiro para atender, mesmo que de forma tímida, uma parte pequena da demanda de seu mercado interno. Em fevereiro, os colombianos compraram do Brasil 5 mil sacas de café arábica e deram um sinal de reconhecimento à qualidade do produto nacional.
E o motivo para os colombianos estarem tomando café brasileiro está diretamente relacionado à produção daquele país. A renovação do parque cafeeiro, problemas climáticos e de renda fizeram com que a safra atual fosse reduzida para aproximadamente 9 milhões de sacas, bem abaixo das 12 milhões tradicionalmente produzidas nas montanhas colombianas.
Com uma demanda doméstica de 1,1 milhão de sacas e exportações estimadas em 8,3 milhões, a Colômbia precisa de café para atender o mercado interno. É por esse motivo que os colombianos estão procurando no Brasil parte da oferta necessária para não comprometer os estoques do país, que estão sendo direcionados para exportação, estratégia mais rentável aos produtores daquele país.
"Os colombianos estão com problema de quebra em sua safra. Em anos anos anteriores eles importaram do Brasil café conillon para abastecer a indústria de café solúvel que eles possuem e usam essa variedade como matéria-prima", observa Guilherme Braga, diretor-executivo do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé).
A Colômbia comprar café verde do Brasil não deixa de ser um reconhecimento do produto nacional. O fato histórico, no entanto, extrapola a espera da qualidade para se concentrar na âmbito econômico. O café colombiano tem um valor de mercado nas bolsas internacionais muito superior ao brasileiro e chegou a valer quase duas vezes mais que o produto nacional em meados do ano passado.
Dados da Organização Internacional do Café (OIC) indicam que em fevereiro deste ano, mesmo mês em que a importação aconteceu, o café colombiano foi negociado na bolsa de Nova York a um preço 71% superior em comparação ao brasileiro. Enquanto o produto nacional teve um preço médio de US$ 1,216 por libra-peso, o café colombiano foi vendido a US$ 2,083. Na prática, os colombianos preferem vender no mercado internacional um produto que tem alto valor agregado e atender sua demanda interna com um produto de preço inferior, no caso, o que foi importado do Brasil.
Mesmo com uma demanda doméstica superior a 1 milhão de sacas, os colombianos ainda estão longe de ser considerados grandes consumidores de café. O consumo anual é de 1,5 quilo por habitante, bem abaixo dos quase 6 quilos que cada brasileiro consome todos os anos.
Todavia, essa não é a primeira importação colombiana de café arábica brasileiro. Dados do próprio Cecafé indicam que em 2004 saíram dos portos brasileiros com destino à Colômbia 5,4 mil sacas de café arábica. "Nos últimos anos estamos percebendo um aumento no comércio de café entre os países produtores. Dados da OIC mostram que só no ano passado esse fluxo foi de 3,8 milhões de sacas, o que não é nada desprezível", afirma Braga.
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