Investigação por parte da China sobre carne bovina importada tem caráter protecionista, dizem analistas

Publicado em 27/12/2024 10:43 e atualizado em 27/12/2024 15:36
Preços da carne bovina produzida localmente no gigante asiático recuaram, e com as importações, pressionaram ainda mais os valores da proteína

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O Ministério do Comércio da China anunciou nesta sexta-feira (27) uma investigação sobre as importações de carne bovina por parte do gigante asiático. A busca por informações aprofundadas se concentrará sobre as compras de carne bovina fresca, carne bovina resfriada, cabeças de boi e carne bovina congelada importadas entre 1 de janeiro de 2019 e 30 de junho de 2024, segundo dados das autoridades locais. A investigação envolve todos os exportadores da proteína bovina para a China e foi declarada a partir de formalização de pedidos por parte de entidades que representam o setor da pecuária no gigante asiático.

A medida, ainda que incipiente e sem consequências concretas, causa certas preocupações, uma vez que a China é o maior importador da proteína bovina brasileira, conforme destaca a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (ABIEC). “Em 2024, mais de 1 milhão de toneladas foram exportadas para a China, um suprimento fundamental para complementar a produção local chinesa, hoje estimada em 12 milhões de toneladas”, apontou a entidade, em nota. 

O Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA) emitiu nota oficial na manhã desta sexta-feira, e apontou que "durante os próximos meses, e seguindo o curso e os prazos legais da investigação, o governo brasileiro, em conjunto com o setor exportador, buscará demonstrar que a carne bovina brasileira exportada à China não causa qualquer tipo de prejuízo à indústria chinesa, sendo, pelo contrário, importante fator de complementariedade da produção local chinesa".

De acordo com analistas de mercado ouvidos pelo Notícias Agrícolas, esta medida, que pode causar a elevação da tarifa de exportação da carne bovina brasileira de 12% para 22% e, consequentemente, diminuir os volumes importados pela China, tem caráter protecionista. 

Felipe Fabbri, analista de mercado da Scot Consultoria, destaca que se trata de uma medida protecionista, tendo em vista o cenário da pecuária chinesa, em que o preço do boi local caiu a patamares abaixo do brasileiro (em dólares). 

“O boi chinês está mais barato que o brasileiro em dólar, e isso coloca uma pressão grande no mercado local. Com carne bovina importada entrando forte em detrimento à carne suína e pressionando a suinocultura chinesa, vemos isso como um freio protecionista. Soma-se a isso uma possível alta nos preços do boi no Brasil no ano que vem, e que pode impactar os valores para exportação”, disse Fabbri.

Fernando Henrique Iglesias, analista da Safras & Mercado, corrobora o que disse Fabbri, que a medida é uma tentativa de diminuir a disponibilidade de outras proteínas em solo chinês e fazer com que os chineses voltem a consumir mais carne suína. Vale lembrar que a China perdeu cerca de metade do rebanho suíno durante uma grave crise de Peste Suína Africana iniciada em meados de 2018 e fez um investimento vultuoso para tecnificar a produção de suínos e recuperar o plantel. 

Neste final de 2024, o governo Chinês também anunciou um plano de uma década para aumentar o consumo de grãos de cereais e desenvolver a indústria por meio de padrões de produção mais elevados, pesquisa e cooperação internacional como parte dos esforços para melhorar a segurança alimentar. Os grãos de cereais incluem trigo, milho, arroz, cevada, sorgo, trigo-sarraceno e aveia. Uma grande parte da produção de milho da China é para ração animal.

“Pelo que eu vi eles estão querendo aumentar as taxas de 12% para  22%, e se isso for confirmado, pode trazer impacto negativo para as nossas vendas e também para os preços no mercado interno”, disse Iglesias, mas ressaltando que os impactos no mercado brasileiro ainda não são possíveis de serem mensurados.

Questionado sobre a redução nos números de exportação de carne bovina divulgados em novembro e dezembro pela Secretaria de Comércio Exterior (Secex) do Brasil e se há uma conexão com esta intenção do governo chinês, Iglesias aponta que isso foi um movimento natural do mercado. 

“Mas se esta questão da China aumentar a taxação e reduzir o volume importado se concretizar, pode ser um problema, porque representa 50% das exportações em volume de carne bovina brasileira. A gente vai começar a observar o impacto caso aconteça o volume exportado em relação à China mais para fevereiro ou março. Isso pode gerar problemas no mercado brasileiro em um momento em que há um enfraquecimento na demanda do mercado interno, mas não é possível mensurar isso no momento”, explica Iglesias.

Para o analista da Safras & Mercado, é importante que o setor pecuário do Brasil fique atento às questões de biosseguridade, para que consiga abrir mercados como Japão e Coreia do Sul, principalmente quando atingir a meta de 2026 de eliminar a febre aftosa e a necessidade de vacinação contra a doença. 

“Por enquanto tudo ainda é muito subjetivo, mas é certo que a China vai continuar priorizando o Brasil nas compras, tanto pelo preço, quantidade e sanidade”, finalizou Iglesias. 
 

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Por:
Andressa Simão e Letícia Guimarães
Fonte:
Notícias Agrícolas

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