Produtora de café na Chapada Diamantina garante que dá para produzir cafés especiais com práticas regenerativas e ainda ser premiada
Isabela Pessoa Fagundes de Azevedo, produtora de café em Ibicoara, na região da Chapada Diamantina, na Bahia, diz que a relação dela com o café começou desde quanto ainda estava na barriga da mãe, já que seu pai, Paulo Roberto Pinto de Azevedo, planta café há mais de 40 anos na propriedade da família. "Cresci em Salvador e sempre ia para a roça nas férias".
Isabela se formou em administração, e seu primeiro contato profissional com o café foi trabalhando na holding JBE, que atua junto de marcas grandes e comerciais do produto, período de cerca de seis anos.
"Mas sempre pensava que um dia iria morar na Chapada Diamantina, e assim eu fiz. Quando saí deste emprego, fiquei mais alguns meses em Salvador e depois fui para a Chapada, e lá comecei a trabalhar na Cooperativa dos Produtores Rurais de Ibicoara, e começou o processo de transição de gestão da roça do meu pai para mim".
Em 2018, o pai de Isabela, Seo Paulo, ganhou o concurso da Abic de melhor café do Brasil, e a partir de então, a família embarcou de vez no mundo dos cafés especiais. "Na região de Ibicoara a cultura é de vender a saca de café verde, e era assim que o pai de Isabela vendia. Lá, a prova do café é pegar uma amostra, cheirar e dizer, conforme explica a produtora: "esse café bebeu! ou esse café não bebeu". E ela questiona como é possível saber com este método se o café é especial ou não.
Ela relata que o pai sempre vendeu café verde, possivelmente um café de qualidade, porém não sabia. Por muitos anos ele fez cursos em entidades que representam a produção cafeeira no Brasil, e, percebendo esse movimento de apreciação de um café melhor por parte do consumidor, ele mandou uma amostra do café dele e foi premiado em 2018.
"Foi uma surpresa muito agradável. Trabalhamos com o café por vários anos, e muitas vezes nem era classificado. E depois conseguimos o prêmio de Melhor Café do Brasil. Eu acho muito importante a transferência de conhecimento, quase como um milagre, além do esforço da gente. E essa feira (E-Agro, em Salvador, na Bahia) é um espaço muito bom, tanto para vendas quanto para divulgar o produto", disse Seo Paulo.
A partir de então, Isabela decidiu que o melhor café do Brasil, que leva a marca de Café boa Nova, não poderia ser vendido daquela forma. E foi então que em 2019 ela e o então namorado, hoje marido, Douglas, foram morar em Ibicoara.
O aprendizado com o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar) da Bahia teve início em 2019/2020 para o casal com o curso de colheita e pós-colheita, preparando-os tecnicamente para a produção de cafés especiais. Mais cursos em outras entidades também complementaram a capacitação do casal.
Em 2022, o Concurso Olam Specialty Coffee premiou o Café Boa Nova com a quarta colocação, e neste mesmo ano, o produto ficou entre os 150 melhores cafés na premiação da Semana Internacional do Café (SIC), e em 2023, o café da família de Isabela garantiu o 6º lugar em um concurso regional de cafés da Chapada Diamantina.
"Nós trabalhamos com o sistema de produção regenerativa. Tínhamos o acompanhamento de uma consultoria que presta serviços para a Nestlé e começamos a investir cada vez mais nisso. Nossa propriedade é arborizada, com cobertura de solo, , usamos adubação orgânica, biológicos e organominerais", explicou.
Desta forma, o Café Boa Nova recebeu o selo de Café Regenerativo Avançado pela empresa de consultoria, o que significa que a produção alcançou um nível de sustentabilidade e rentabilidade fazendo uso de práticas regenerativas. No ano passado, a produção foi de 140 sacas de café, e este ano, foram 180, nos mesmos 10 hectares de área plantada.
"Ainda reduzi um pouquinho da área para montar um campo experimental, porque na minha propriedade predomina o café catuari arara, e agora plantei bourbon amarelo, graúna, topázio, para ter uma a´rea piloto", disse.
Isabela detalha que a certificação de café produzido com práticas renováveis auxiliou a abrir um nicho importante de um público que busca um produto que tenha a sustentabilidade como algo importante na produção.
"É muito importante difundir o café com práticas regenerativas para outrs pessoas que estejam na cadeia produtiva, que traz rentabilidade. Há três anos eu transformei o trabalho do meu pai, da saca do café verde para o Café Boa Nova, para trazendo mais valor ao produto", finalizou.
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