Taxas futuras de juros voltam a subir com mercado à espera de medidas fiscais
SÃO PAULO (Reuters) - Após o alívio da véspera, as taxas dos DIs voltaram a subir nesta sexta-feira, em meio à ansiedade do mercado antes do anúncio de medidas de contenção de gastos pelo governo Lula e ao avanço dos rendimentos dos Treasuries no exterior.
Apesar da alta no dia, as taxas terminaram na maioria dos vencimentos abaixo dos níveis vistos na sexta-feira passada, quando encerraram muito próximas de 13% em vários vértices. Ainda assim, elas seguem em níveis elevados, pressionadas por dois fatores principais: a incerteza fiscal no Brasil e a possibilidade de vitória de Donald Trump na eleição dos EUA.
No fim da tarde a taxa do DI para janeiro de 2025 -- que reflete as apostas para a Selic no curtíssimo prazo -- estava em 11,244%, ante 11,224% do ajuste anterior. A taxa do contrato para janeiro de 2026 marcava 12,685% ante 12,602%.
Entre os contratos mais longos, a taxa para janeiro de 2031 estava em 12,75%, ante 12,704%, e o contrato para janeiro de 2033 tinha taxa de 12,67%, ante 12,615%.
Em um dia de agenda esvaziada no Brasil e nos EUA, os agentes se apegaram ao cenário mais amplo para operar. Se na véspera declarações do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, trouxeram alívio para a curva brasileira, nesta sexta-feira os receios com as contas públicas voltaram a sustentá-la.
“Primeiro, temos uma ansiedade pelo pacote de corte de gastos que o governo prometeu apresentar depois do segundo turno das eleições”, comentou Matheus Spiess, analista da Empiricus Research.
“Em segundo lugar, temos o rali do yield norte-americano, tanto por conta da percepção de excepcionalismo no crescimento da economia quanto pelo ‘Trump-trade’, que ganhou corpo”, acrescentou.
Nas últimas semanas, as apostas de que o republicano Trump derrotará a democrata Kamala Harris na eleição dos EUA aumentaram nos mercados preditivos, enquanto pesquisas eleitorais têm indicado que a disputa está tecnicamente empatada.
A possibilidade de vitória de Trump é interpretada como “inflacionária” para a economia dos EUA, o que tem dado força aos rendimentos dos Treasuries e, em paralelo, às taxas dos DIs e ao dólar no Brasil.
O avanço das taxas nesta sexta-feira foi mais perceptível nos vencimentos a partir de janeiro de 2026, enquanto a ponta curta da curva seguiu precificando elevação de 50 pontos-base da taxa básica Selic em novembro. Hoje a Selic está em 10,75% ao ano.
Perto do fechamento a curva precificava 92% de probabilidade de alta de 50 pontos-base da Selic em novembro, contra 8% de chance de elevação de 75 pontos-base. Na quinta-feira os percentuais eram os mesmos.
Ainda que a curva sugira que os investidores estão convictos quando à decisão, eles estarão especialmente atentos à comunicação do Comitê de Política Monetária (Copom) do BC. Isso porque o colegiado se reunirá em 5 e 6 de novembro e anunciará ao fim do segundo dia o patamar da Selic, enquanto a eleição norte-americana ocorrerá em 5 de novembro, com o vencedor da disputa ainda indefinido no dia 6. Para completar, a decisão do Federal Reserve sobre juros ocorrerá em 7 de novembro -- já após o Copom.
Até o encontro do Copom, investidores estarão atentos às negociações políticas em Brasília e aos dados fiscais a serem divulgados. A má notícia é que, em função da greve dos servidores, o Tesouro adiou para o fim de outubro a divulgação dos números referentes à dívida pública. A previsão inicial era de divulgação nesta sexta-feira.
No exterior, os yields seguiam em alta no fim da tarde. Às 16h37, o rendimento do Treasury de dez anos -- referência global para decisões de investimento -- subia 4 pontos-base, a 4,244%.
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