Embrapa Gado de Leite: clima altera produção de leite no Brasil e reduz oferta
*Por Glauco Rodrigues Carvalho, Kennya Beatriz Siqueira, José Luiz Bellini Leite, Lorildo Aldo Stock; Paulo do Carmo Martins, Ricardo Guimarães Andrade, pesquisadores e Analistas da Embrapa Gado de Leite
O mercado internacional segue indicando baixo crescimento da oferta de leite nos principais países exportadores. Estados Unidos, com recuo no rebanho leiteiro, vem desacelerando a produção. Argentina e Uruguai, com problemas climáticos e de rentabilidade, também vêm apresentando queda da produção de leite até o momento. Na União Europeia, a produção se recuperou um pouco, mas ainda de forma irregular entre os países do bloco e com queda no mês de julho. Finalmente, na Oceania, há um cenário um pouco melhor na oferta da Austrália e da Nova Zelândia, com tendência de alta. Portanto, no geral, a situação de oferta segue limitada, dando sustentação aos preços internacionais, com leite em pó integral no patamar de US$3.500/tonelada. É importante destacar também a instabilidade e os conflitos no Oriente Médio, prejudicando escoamentos pelo Mar Vermelho e afetando o custo logístico entre Oceania/Ásia e Norte da África/Europa.
No Brasil, o cenário de preços de leite e derivados se alterou ao longo do último mês, resultado de um clima quente e seco, que prejudicou a oferta, e de bons indicadores econômicos, que estimularam a demanda.
Pelo lado da demanda, os indicadores de mercado de trabalho (emprego e renda), crédito e auxílios de programas sociais têm impulsionado as vendas. O número de pessoas ocupadas atingiu 102 milhões em julho e a massa de salários na economia (número de ocupados vezes o salário médio) cresceu 7,5% no período de janeiro a julho na comparação com o mesmo período do ano passado. O volume de crédito para pessoa física atingiu R$316 bilhões no acumulado em 12 meses até julho de 2024, crescendo 15,5% em relação ao período anterior. Como consequência, as famílias têm aumentado seu consumo, com as vendas de supermercado subindo 5,5% em 12 meses até o mês de julho.
Por outro lado, a oferta nacional de leite vem mostrando crescimento tímido, com o primeiro semestre registrando expansão de apenas 1,58%, ajustado por dia. As enchentes que causaram perdas no Rio Grande do Sul e posteriormente, o clima quente e seco em boa parte das regiões produtoras do País limitou a expansão da produção e deu sustentação aos preços, mesmo com elevação das importações.,
No campo, o preço do leite ao produtor, que havia recuado em julho, voltou a subir em agosto e se manteve firme em setembro. No mercado atacadista, a valorização também ocorreu nos diversos derivados ao longo do mês de setembro. Isso deu sustentação às cotações também no mercado Spot.
Para os próximos meses, espera-se alguma recuperação da oferta, com os volumes de chuva aumentando ao longo de outubro e proporcionando maior crescimento das pastagens. Como a produção do Brasil ainda possui uma sazonalidade importante, a tendência é de mais leite ofertado nos próximos meses. Esse crescimento da oferta também deverá ser estimulado por melhorias na rentabilidade das fazendas ao longo de 2024.
É importante também acompanhar o período de plantio da safra de verão de grãos no Brasil, cujos preços de importantes insumos como milho e soja, acabam ficando com maior volatilidade. As incertezas climáticas podem trazer incrementos nestes preços. Nas últimas semanas houve valorização do milho e do farelo de soja no mercado brasileiro, devido a atrasos no início do plantio. Mas, as perspectivas seguem positivas para o setor lácteo em 2024, com custos relativamente acomodados e um bom volume de vendas, que vem absorvendo a oferta interna e os produtos importados. O crescimento econômico para 2024 está previsto em torno de 3,0%, o que também é positivo.
No entanto, é sempre bom lembrar para o foco em gestão de fazendas e de laticínios, na perspectiva de obtenção de melhores resultados econômicos. O setor lácteo brasileiro vem passando por transformações e consolidação, tendência que deve seguir ao longo dos próximos meses e anos. Portanto, buscar sempre melhorar a eficiência produtiva, o emprego de tecnologias e a inovação em produtos e processos é o caminho para seguir em atividade no setor lácteo brasileiro.
0 comentário
Leite/Cepea: Preço sobe em setembro, mas deve cair no terceiro trimestre
Comissão Nacional de Pecuária de Leite discute mercado futuro
Brasil exporta tecnologia para melhoramento genético de bovinos leiteiros
Preço do leite pago ao produtor para o produto captado em outubro deve ficar mais perto da estabilidade, segundo economista
Pela primeira vez, ferramenta genômica vai reunir três raças de bovinos leiteiros
Setor lácteo prevê 2025 positivo, mas com desafios