Agro conectado ao mundo é Brasil fortalecido

Publicado em 09/09/2024 16:23
Por Sebastião Pedro - Chefe-geral da Embrapa Cerrados

Ao longo da minha jornada profissional tenho observado e, felizmente, contribuído para uma grande transformação. O Brasil deu um salto nas últimas décadas no desenvolvimento de práticas sustentáveis de produção no campo. Com um território tão vasto, clima favorável e tecnologia, o agronegócio nacional alcançou o patamar de um dos principais fornecedores de alimentos do mundo. Não há uma discussão de sustentabilidade e futuro junto às grandes nações que desconsidere nosso papel.

O PIB do agronegócio representa cerca de ¼ de todas as riquezas produzidas por nós. Nesse contexto, direciono o olhar para o Cerrado brasileiro, um gigante pela própria natureza, suportado por anos de pesquisa e inovação. Ele responde por uma área de dois milhões de quilômetros quadrados, sendo que pouco mais da metade (54%) ainda intacta. Ele já tem contribuições significativas para a produção nacional de carne bovina (34%), cana-de-açúcar (36%), soja (50%), café (23%), feijão (43%), milho (49%), sorgo (83%) e algodão (86%) gerando 60% de toda a produção agrícola do país.

O nosso cerrado segue sendo palco de uma série de estudos e práticas que auxiliarão o Brasil como fornecedor global e como protagonista em sustentabilidade. Se o planeta demandará o dobro de alimentos nas próximas décadas o desafio brasileiro é grande, mas totalmente possível. Conheço de perto as práticas relacionadas a soja. Um grão tão pequeno e de relevância singular. Trata-se do principal cultivo da nossa pauta de exportação, sendo essencial nas cadeias produtivas vegetais e das proteínas animais. No Brasil, a soja também prepara o solo para o milho, o feijão, o trigo, sendo parte da integração Lavoura-Pecuária-Floresta. 

Sabemos que o caminho para ser cada vez mais destaque mundial na oferta de alimentos para o mundo é longo, mas é possível, pois sabemos aonde chegar e temos boa parte das ferramentas necessárias para suportar esse desafio.

Um dos habilitadores nessa caminhada (e que faz muita diferença nessa tarefa) envolve os meios de transporte para o escoamento da produção. Aquilo que nos diferencia no momento da produção, a dimensão territorial, não pode ser um entrave quando chega a hora do escoamento. A matriz logística brasileira ainda está focada nas rodovias e precisa ser mais diversificada. A infraestrutura não está pronta para o grande desafio. Os fluxos rodoviários precisam ser revistos não somente por uma questão de custo, mas também pela emissão de gás carbono. Nossos sistemas logísticos precisam evoluir, estarem cada vez mais conectados e proporcionarem fluidez entre campo e portos. Nesse sentido a multimodalidade e o papel das ferrovias são o passaporte para avanços. 

Um bom exemplo dessa relação de parceria entre campo/logística e que exemplifica o tamanho do desafio pode ser visto a partir de uma iniciativa da Embrapa Cerrados para promover o desenvolvimento sustentável territorial em regiões do Tocantins e Minas Gerais, Goiás e Bahia. Ao nosso lado está a VLI, empresa responsável pela Ferrovia Centro-Atlântica (FCA). A criação de uma rede de agroinovação, chamada de LabCerrado, para aumentar a produção do noroeste mineiro, do leste goiano e do sudoeste baiano se baseia nas inovações que desenvolvemos, no fato de que esses territórios estão na área de influência da FCA e por essa malha a produção pode ser escoada pelos portos capixabas. A renovação do contrato de concessão da FCA evidencia como a combinação logística e agronegócio é essencial para o país. A malha já movimenta milhões de toneladas de grãos e de fertilizantes por ano. O Brasil precisa dos trilhos para exportar parte da sua produção agrícola. O bom funcionamento desse trecho e a possibilidade de investimentos oriundos de um novo contrato de longo prazo serão determinantes para o êxito dessa iniciativa. É a aliança de políticas públicas no campo e na infraestrutura para tornar nossa economia mais vigorosa.

O LabCerrado tem como foco uma área cultivável potencial de cerca de 7 milhões de hectares. O fortalecimento da produção agrícola dessas regiões vai gerar benefícios para os estados produtores e para o Espírito Santo, que terá o aumento do fluxo portuário. Já contamos com produtores e outros parceiros nessa empreitada. Além de aumentar a relevância do Brasil no cenário mundial, o agronegócio tem como característica auxiliar o desenvolvimento das regiões, por meio da geração de empregos, melhoria da qualidade de vida e estímulo a cadeia de fornecedores.

Na Embrapa Cerrados a nossa missão é gerar e viabilizar soluções para a sustentabilidade do bioma Cerrado atendendo às necessidades da sociedade. Acreditamos que essa conexão entre diversos agentes nos conduz a isso. O tempo de semear para o futuro está diante dos nossos olhos e precisamos atuar agora para uma colheita que gere frutos para todos.

Sebastião Pedro é chefe-geral da Embrapa Cerrados. Graduado em Agronomia (1988) e mestre em Genética e Melhoramento de Plantas, ambos pela Universidade Federal de Viçosa (UFV). PhD em Biotecnologia Agrícola (2001) pela Tokyo University of Agriculture, Japão, também possui MBA em Gestão Empresarial (2003) pela Fundação Getúlio Vargas (FGV).

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Fonte:
Sebastião Pedro

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