Preço do café canéfora supera o arábica no Brasil em momento raro na história, diz Cepea
Por Roberto Samora
SÃO PAULO (Reuters) - Os preços do café canéfora, que incluem as variedades conilon e robusta, superaram os valores do arábica no Brasil na última sexta-feira, em momento raro na história, de acordo com dados levantados pela Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq/USP.
Normalmente, os preços do arábica têm um prêmio em relação ao robusta ou conilon, já que o primeiro é mais suave e preferido por cafeterias e consumidores em geral, enquanto os canéforas são utilizados para produção de cafés solúveis e também para "blends", para composição do torrado e moído vendido nos supermercados.
Mas a menor oferta no Vietnã e na Indonésia, grandes produtores de robusta, e uma safra de canéforas abaixo do esperado no Brasil, estão dando sustentação aos preços. Os exportadores brasileiros estão recebendo forte demanda do exterior, com os embarques registrando seguidos recordes nos últimos meses, na medida em que estão cobrindo parte da participação dos países asiáticos no mercado global.
O indicador Cepea/Esalq do robusta tipo 6, que acumulou expressivo avanço de 16,73% em agosto, fechou a 1.483,95 reais a saca de 60 kg na última sexta-feira, novo recorde da série histórica do Cepea, iniciada em novembro de 2001 para a variedade --os valores foram deflacionados pelo IGP-DI.
Ja o indicador do café arábica encerrou no mesmo dia a 1.448,24 reais/saca, com alta de 2,3% no acumulado do mês. A diferença entre os preços das variedades foi de 35,71 reais por saca, com vantagem para o robusta.
Renato Garcia Ribeiro, pesquisador de café do Cepea, disse que o mercado interno vem refletindo -- além das cotações recordes no mercado internacional, que superaram 5 mil dólares a tonelada na sexta-feira -- também a cadência nas vendas de produtores do Brasil.
"Os produtores já entenderam que a oferta é curta no curto prazo, então o pessoal está esperando (para vender) se tiver necessidade de caixa ou períodos com pico maior de alta. Aí a negociação acaba sendo bastante cadenciada, até porque o volume desta safra não foi tão grande assim, mas as margens estão bem boas", disse Ribeiro.
Até sexta-feira, considerando-se as séries históricas do Cepea de ambas variedades, a única vez que o robusta havia operado acima do arábica foi entre outubro de 2016 e janeiro de 2017. Anteriormente, a maior diferença entre as variedades chegou a 20 reais (no dia 3 de janeiro de 2017).
"Isso significa que o robusta nunca esteve tão mais caro que o arábica", afirmou o Cepea.
Nesta segunda-feira, o café robusta em Londres, referência global, operava em queda de mais de 4%, com operadores citando que o mercado havia ficado tecnicamente sobrecomprado após a disparada dos preços na sexta-feira.
Mas os operadores do mercado global acrescentaram que os preços do robusta deverão ficar sustentados, considerando que a oferta apertada e o calor registrado mais cedo neste ano poderão reduzir a colheita de 2024 do Vietnã, o maior produtor de robusta, à frente do Brasil, que por sua vez é líder em arábica e também o maior em café, considerando as duas variedades.
Segundo Ribeiro, do Cepea, nos últimos meses, uma vez que os preços do robusta e conilon vinham subindo, os produtores já foram "organizando suas vendas".
Ele acrescentou que muitos já estão com o "caixa equilibrado", o que ajuda a deixar o mercado mais na mão dos produtores, visto que há também forte demanda pelo produto do Brasil, considerando a menor oferta na Ásia.
Na última vez que o robusta superou o arábica no Brasil, o robusta enfrentava problemas de oferta no Brasil e na Ásia, lembrou o Cepea.
O movimento de alta no preço do robusta vem sendo verificado pelo Cepea desde o último trimestre de 2023.
"Assim, os preços da variedade atingiram patamares recordes reais em março de 2024, os quais vêm sendo renovados com certa frequência desde então, sobretudo nas últimas semanas", segundo o Cepea.
Ajudaram a fortalecer os preços uma safra menor do que a esperada no Brasil. Consultorias privadas reduziram as expectativas de produção em julho e agosto, citando uma menor colheita de café canéfora por problemas climáticos.
(Por Roberto Samora, com reportagem adicional de Nigel Hunt, em Londres)
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