Menos açúcar no mix: clima afetou concentração de sacarose no caldo e deve resultar em menos produção de açúcar
No início da safra de cana-de-açúcar o mercado trabalhava com um número de 52% da produção voltada à produção de açúcar e os 48% restantes destinadas a produção de etanol, como indicam dados da Pecege. Porém, uma série de fatores, alheios à vontade de produtores e usinas podem entrar no cenário e alterar essa divisão no mix sucroalcooleiro em 2024.
Diretor de inteligência Setorial da UNICA, Luciano Rodrigues, explica que a produção de açúcar é determinada por uma série de fatores como a capacidade de produção de açúcar x etanol, equilíbrio térmico das usinas, período chuvoso, diferenças regionais entre o Centro-Sul e o Nordeste, qualidade da cana e composição do ATR.
“Haveria a tendência de se fazer mais açúcar nesta safra pelas condições de mercado, mas o cenário até agora ficou aquém do que o mercado esperava”, afirma Rodrigues.
O último levantamento da UNICA divulgado na quarta-feira, 28 de agosto, indica que, na primeira quinzena de agosto, o nível de Açúcares Totais Recuperáveis (ATR) atingiu 151,09 kg por tonelada de cana contra 149,22 kg de ATR/tonelada no mesmo período 2023/24, aumento de 1,25%.
Apesar deste crescimento no ATR, os dados da UNICA apontam que a produção de açúcar no memos período caiu 10,24% na comparação à safra passada, registrando apenas 49,27% da matéria-prima disponível direcionada para a produção de açúcar, ante 50,82% do mesmo período de 2023/24.
“A variável que talvez mais desapontou neste ano seja o ATR. Estamos neste momento, pico de safra, com bons níveis de ATR, o que para algumas pessoas pode ser um indicador otimista, mas não é porque estamos vindo com a pureza de caldo muito baixa. Isso é fruto de variáveis como o estresse da cana no campo e altas temperaturas. Então estamos vendo uma pureza do caldo baixa, ou seja, não estamos vendo tanta sacarose para ser convertida em açúcar quanto imaginávamos e isso está levando um menor mix de produção de açúcar, diferentemente do que era imaginado anteriormente”, relata Haroldo Torres, economista do Pecege.
Em nota oficial enviada ao Notícias Agrícolas, o Centro de Tecnologia Canavieira (CTC) informou que “a safra 2024/25 de cana-de-açúcar apresenta uma leve queda na pureza do caldo, com uma redução de cerca de 1,4% em relação ao ciclo anterior, segundo os dados acumulados até julho. Essa diminuição é influenciada pela concentração de sacarose (Pol) e pelo aumento dos açúcares redutores no caldo”.
“Embora a pol da cana tenha registrado um ligeiro aumento nesta safra, refletindo um ATR um pouco superior, a elevação na concentração de açúcares redutores foi mais acentuada. Especialistas atribuem esse fenômeno a fatores como a seca enfrentada durante o veranico deste ano, além de possíveis impactos de manejo e maior incidência de pragas e doenças", conclui o CTC.
Rodrigues explica que o ATR é uma unidade de medida que soma glicose, frutose e sacarose, esta última, a única que cristaliza e é convertida em açúcar. Ele conta que o que está acontecendo nesta safra é justamente uma contração menor de sacarose no caldo.
“No mesmo ATR pode ter mais ou menos proporção de sacarose e mais sacarose é mais produção de açúcar, já que frutose e glicose não cristalizam e não fazem açúcar. Nessa safra, por conta das condições climáticas a concentração de sacarose no total é menor do que os outros anos em relação aos açúcares redutores (frutose e glicose). As situações de incêndios também podem impactar, já que a planta usa o açúcar do caule como energia para rebrotar e isso vai refletir no potencial de produção de açúcar depois", diz.
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