Lula diz não ter decisão sobre nomes para o BC e espera Haddad
Por Lisandra Paraguassu
BRASÍLIA (Reuters) - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou nesta segunda-feira que ainda não tem decisão sobre os nomes a serem indicados para o Banco Central e irá discuti-los com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, inclusive o do próximo presidente, que terá de substituir Roberto Campos Neto.
"A hora que ele (Haddad) falar comigo nós vamos indicar (presidente do BC). Eu espero que a gente encontre uma pessoa que seja, do ponto de vista técnico, muito competente, seja, do ponto de vista político, muito honesto e muito sério, e que seja uma pessoa que efetivamente ganhe autonomia pela sua respeitabilidade, pelo seu comportamento", afirmou em entrevista a agências de notícias internacionais, incluindo a Reuters. "Na hora que for para eu indicar eu vou combinar com Haddad."
A equipe econômica, e o próprio Campos Neto, têm apontado que preferem ter logo a indicação do novo presidente do órgão, que ainda terá que passar por uma sabatina no Senado antes de ser aprovado. Em ano eleitoral, esse processo só deve se feito depois de outubro.
O nome apontado como mais cotado para a presidência do Banco é o do atual diretor de Política Monetária da autarquia, Gabriel Galípolo, ex-secretário-executivo do Ministério da Fazenda e muito próximo a Haddad.
Até o final deste ano, além do novo presidente, Lula terá que indicar mais dois diretores, o que dará ao atual governo a maioria no Conselho de Política Monetária (Copom). A mudança não garante que o governo terá poder de alterar os rumos da política monetária, já que o BC é independente, mas pode ter um colegiado mais alinhado com o pensamento do atual governo.
Desde o início do mandato de Lula, apesar da tentativa de uma trégua patrocinada por Haddad, a relação entre o presidente e Campos Neto é ruim. Lula não esconde o desagrado com o presidente do BC e durante a entrevista nesta segunda-feira voltou a criticá-lo duramente.
"Alguém precisa dizer para ele que a inflação só acontece quando o aumento de salário é superior à produtividade da sociedade", disse Lula. Como pode um rapaz, que se diz autônomo, presidente do Banco Central, estar incomodado com o fato do povo mais humilde estar ganhando aumento de salário? Talvez na cabeça dele (presidente do Banco Central) o bom para inflação seja criança morrendo de desnutrição, seja criança morrendo de fome."
No mês passado, Campos Neto citou preocupação com a possibilidade de o mercado de trabalho apertado afetar a inflação de serviços, apesar de ressaltar que isso não era observado ainda.
Lula voltou a dizer ser contra a autonomia do Banco Central, mas lembrou que em seus primeiros mandatos (2003-2010), o então presidente do BC Henrique Meirelles teve toda autonomia para trabalhar. Segundo Lula, Campos Neto teria tido, nos quatro anos de mandato de Jair Bolsonaro, 31 reuniões com o presidente.
"Meirelles não teve isso nos oito anos do meu mandato. Presidente do BC não precisa se reunir com o presidente da República", afirmou.
Lula reforçou que o governo mantém a seriedade fiscal para que se possa reduzir a taxa de juros, que considera o maior impeditivo para o crescimento do país. Ele afirmou que sua responsabilidade com o risco de inflação é maior porque "conhece seus efeitos na pele."
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