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Menor área de milho no Brasil gera busca por alternativas e nova compreensão sobre a agricultura sustentável

Publicado em 19/07/2024 07:15 e atualizado em 19/07/2024 09:54
Baixa rentabilidade e problemas climáticos desanimaram produtores, que buscam substitutos para manter a sustentabilidade regenerativa

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De acordo com estatísticas da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a área plantada da segunda safra de milho no Brasil apresentou uma diminuição, passando de 17,179 milhões para 16,199 milhões de hectares. O Centro-Oeste, principal região produtora de grãos do país, teve a redução mais significativa, diminuindo de 11,389 para 10,592 milhões de hectares. Esse decréscimo acende um alerta para o manejo de plantio direto, uma das principais práticas da agricultura nacional e que utiliza a palhada do cereal como principal cobertura para evitar o revolvimento do solo.

conab
No ciclo atual, a área plantada de milho safrinha no Brasil foi menor
Fonte: Conab

Com a chegada da safra 24/25, a atenção fica para a manutenção da cobertura do campo para, principalmente,  evitar danos ao solo e às lavouras. Alexandre Gazolla, engenheiro agrônomo especializado em tecnologia de sementes, explica que um dos principais problemas relacionados ao déficit de palha é o aumento da temperatura do solo, que pode limitar a germinação e o crescimento das plantas. “Cada aumento de 1°C acima de 33°C no solo reduz o crescimento das plantas em 7%, principalmente devido a danos nos cotilédones e escaldadura, o que pode resultar na morte da lavoura”, afirma.

Gazolla também destaca que, em municípios como Água Boa e Canarana, no Mato Grosso, a redução do milharal chegou a 40%. “Esses foram locais onde quase não se plantou milho, devido a problemas locais e ao atraso na janela de plantio por causa do regime de chuvas. Em algumas microrregiões, a redução foi muito grande”, argumenta.

Além dos problemas climáticos, os preços atuais do milho são pouco atraentes e, em alguns casos, não cobrem os custos de produção. Marcos da Rosa, produtor de Canarana, relata que precisou buscar outras opções para a segunda safra a fim de obter margens positivas. A solução encontrada foi implementar o cultivo de gergelim. Apesar de se apresentar como uma alternativa economicamente viável para a segunda safra, não deixa palhada suficiente para a manutenção do sistema.

Dessa forma, o produtor teve que adotar cuidados especiais para manter a sustentabilidade e evitar perdas de produtividade na soja. Ele revela que utiliza apenas 1/3 da área para o gergelim, resultando em uma rotação de três anos entre os talhões da propriedade. Além disso, ressalta que sua área recebeu boas chuvas em outubro, o que permitiu iniciar o plantio da oleaginosa com boa umidade no solo.

A Conab mostra que a estratégia adotada por Marcos ganhou outros adeptos, já que o aumento do plantio de gergelim no Brasil subiu de 361 mil hectares em 2022/23 para 656 mil em 2023/24, uma elevação de 81,7%. No Centro-Oeste, esse número saltou de 188,5 mil para 428 mil hectares, um aumento de 127%, representando 65,2% do total nacional.

“Embora o gergelim extraia nutrientes e não deixe palha, não podemos dizer que seu cultivo seja prejudicial, pois ele gera renda para o produtor. No entanto, é crucial entender que, dentro do contexto sustentável atual, sua adoção antes da soja exige atenção”, explica Gazolla.

Jônadan Ma, presidente da Federação Brasileira do Sistema Plantio Direto (FEBRAPDP), acrescenta que culturas complementares, como o gergelim, e culturas de serviço, como forrageiras, são escolhas que, quando feitas da maneira correta, enriquecem a agricultura regenerativa no Brasil.

“Assim como a palhada, a diversificação radicular também é parte fundamental do conceito global de sustentabilidade no campo. Por exemplo, este ano não plantei uma safrinha de sorgo como normalmente faço. Em vez disso, optei por crotalária, que resistiu à seca e vai render de 300 a 400 quilos por hectare, proporcionando uma rentabilidade melhor do que a safrinha de milho ou sorgo. A situação do gergelim é semelhante: embora não deixe muita palhada, é uma boa cultura para compor o sistema”, observa.

GRAMÍNEAS E SISTEMAS DE INTEGRAÇÃO COMO RECURSOS DE SUSTENTABILIDADE

Compactação, erosão e aumento da temperatura do terreno são os principais problemas que ocorrem em áreas com menor volume de matéria orgânica no solo. Dessa forma, o milho continua a ser um aliado importante na implementação do plantio sobre palhada, devido à sua capacidade de produzir uma quantidade significativa de cobertura.

Elmar Floss, engenheiro agrônomo e diretor do Instituto de Ciências Agronômicas (Incia), confirma que regiões mais frias, como o sul do país, precisam de 9 a 12 toneladas de palha por hectare por ano. No Brasil Central, onde a temperatura é mais alta, a produção de palha necessária é em torno de 14 toneladas. Essa demanda pode ser atendida com o cultivo do milho.

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Plantio direto na palha de milho
Foto: Flickr oficial do Governo do Estado do Mato Grosso

“Uma lavoura que produz 9 toneladas de grãos de milho gera cerca de 9 toneladas de palha. Além da quantidade, a relação carbono-nitrogênio da palha de milho é alta, o que reduz a velocidade de decomposição pelos microrganismos do solo”, diz Floss.

Em anos de déficit hídrico ou em situações de menor produção de cobertura vegetal do milho, o consórcio é uma alternativa a ser considerada pelos agricultores. O sistema, amplamente estudado pela Embrapa desde a década de 90, busca o estabelecimento de culturas anuais e forrageiras perenes em conjunto.

“O sistema Santa Fé, por exemplo, é um consórcio de milho com Brachiaria ruziziensis, utilizado para manter o solo permanentemente coberto. Caso a cultura econômica não seja suficiente para cobrir o terreno, a gramínea compensa por ser mais resiliente a veranicos. Pela importância deste sistema na produção nacional e na sustentabilidade dos sistemas produtivos, ele foi introduzido no Zoneamento Agrícola de Risco Climático (ZARC)”, argumenta Lennon Lovera, consultor técnico do Senar/MS.

consorcio milho braquiaria
Consórcio entre milho e braquiaria
Foto: Flickr oficial da EMBRAPA

Além do consórcio, outros manejos, como Integração Lavoura-Pecuária (ILP), Integração Pecuária-Floresta (IPF) e Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF), promovem métodos produtivos mais sustentáveis. Também são importantes os manejos dentro da área de produção, como terraceamento, plantio em curva de nível, planejamento do trânsito de máquinas e rotação de culturas, que mantêm o sistema de plantio direto.

Mesmo que a implementação do cereal não seja economicamente viável, o produtor pode adotar apenas as coberturas para manter a presença de material orgânico na lavoura. Além de contribuir para a saúde do solo, a utilização de gramíneas pode ser uma estratégia para potencializar a produtividade da soja e administrar custos.

“As forrageiras possuem raízes que se aprofundam e buscam nutrientes lixiviados a 4 e 5 metros abaixo do solo, principalmente fósforo e potássio. Esses nutrientes vão para a parte aérea das plantas e, posteriormente, servem como cobertura. Essa ciclagem é benéfica para o desenvolvimento agrícola, além de colaborar na gestão da propriedade”, explica Denilson Andrade, gerente comercial da Riza Sementes.

De acordo com Andrade, o custo de uma cobertura de Brachiaria ruziziensis é de cerca de R$15 por quilo por hectare. De forma geral, em um manejo com milho, são necessários 4 quilos de sementes da gramínea, enquanto para a adoção pura da forrageira, são necessários de 6 a 8 kg/ha. O período de plantio é o mesmo da segunda safra, com a necessidade de passar o rolo faca para realizar o acamamento do material e fazer a dessecação antes de entrar com a cultura seguinte.

“É um processo com custo baixo que oferece mais segurança ao produtor por manter o solo com muita atividade orgânica. Como consequência, há um aumento na produtividade da safra de soja, por exemplo. Esse aumento pode variar de 6 a 15 sacas a mais por hectare, tornando o investimento potencialmente mais rentável do que uma safra de milho”, complementa Andrade.

Jônadan Ma alerta que ainda é cedo para determinar se as alternativas substituirão de fato o milho, já que a atual redução de área não é substancial o suficiente para afetar a oferta nacional ou o próximo ciclo do cereal. No entanto, ele considera que a situação serve como um aprendizado para novas formas de entender a agricultura nacional.

“É momento de repensar a sucessão entre soja e milho, mesmo sabendo que são os carros-chefe da economia do agronegócio. Este ano mostrou aos produtores que, em vez de arriscar uma janela de plantio estreita para manter essa prática, outras alternativas podem ser mais viáveis. Embora essa mudança possa não gerar retorno financeiro imediato, certamente melhorará a adubação verde, aumentando a fertilidade e a biodiversidade do solo, além de facilitar o controle de pragas e doenças. Há uma série de benefícios que impactam positivamente a próxima safra”, conclui.

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Por:
Ericson Cunha e Igor Batista
Fonte:
Notícias Agrícolas

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