Prognóstico climático indica redução dos níveis de umidade do solo no Matopiba, Centro-Oeste, Sudeste e Paraná
O Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) divulgou nesta semana seu prognóstico climático para o mês de julho. O órgão apontou que, com a previsão de redução da chuva em grande parte do Brasil, poderá ocorrer uma redução dos níveis de umidade no solo no Matopiba, partes do Centro-Oeste e Sudeste e no centro-norte do Paraná.
No mês de julho, é previsto chuva próxima e abaxo da média climátológica em grande parte do Centro-Oeste, Sudeste, sul da Região Norte, interior da Região Nordeste e oeste da Região Sul, de acordo com informações do Inmet.
Além disso, a previsão indica temperaturas acima da média em toda parte centro-norte do Brasil, principalmente na divisa do sul do Pará com Mato Grosso e Tocantins, com a possibilidade de calor em excesso em algumas localidades, onde as temperaturas médias poderão ultrapassar os 26°C.
Com os baixos níveis de umidade do solo, conforme apontou o Inmet, poderá haver restrição hídrica para as lavouras de milho segunda safra em estágio reprodutivo e trigo em desenvolvimento. Em contrapartida, a falta de chuvas pode favorecer a maturação e colheita do algodão e cana-de-açúcar e café no Nordeste, Centro-Oeste e Sudeste.
Há também um alerta para chuvas excessivas no Sul do Brasil: “A atenção deve ser para a previsão de chuva acima da média em áreas do leste da Região Sul, principalmente o nordeste do Rio Grande do Sul, que vem sendo atingido por fortes chuvas nos últimos meses, e que ainda poderão dificultar a semeadura do trigo”, apontou o Inmet.
O Instituto informa também que “a redução da chuva em grande parte do Brasil nesta época do ano é devido à persistência de massas de ar seco, que ocasiona a diminuição da umidade relativa do ar, que consequentemente, favorece o aumento da incidência de queimadas e incêndios florestais, além do aumento de doenças respiratórias”.
O Notícias Agrícolas conversou com o professor da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) Ricado Schenato sobre a redução da umidade do solo combinada a altas temperaturas, sobretudo no Brasil Central, onde essa condição é registrada há alguns meses e deve se prolongar neste inverno.
“Infelizmente, a situação no Centro-Oeste não deve ser muito melhor nos próximos meses. Espera-se um período de chuvas abaixo da média na região Centro-Oeste a partir do segundo semestre de 2024”, afirmou Schenato. Segundo ele, a intensidade do La Niña ainda é incerta porque depende de uma combinação de diversos fatores, mas existe uma probabilidade considerável de dificuldades na próxima safra pela falta de chuva.
“A questão central é que estamos em uma nova fase do clima no planeta, em que as consequências das mudanças climáticas são sentidas de formas e intesidades diferentes localmente. Nós vamos enfrentar eventos extremos, como enchentes e estiagens, com maior frequência. Isso é fato pacífico dentro da ciência. E a agricultura precisará se adaptar a esse novo cenário e desenvolver maneiras para conviver mais com os extremos do que com a média”.
Para ele, as tecnologias já existentes, como plantio direto, rotação de culturas, manutenção de plantas e resíduos na superfície e medidas de controle do escoamento da água na superfície do solo, serão ainda mais importantes nesse contexto.
Além disso, medidas básicas como aplicação de fertilizantes no local e momento adequados também precisam estar sob atenção, pois de outra maneira a perda de fertilizantes leva a redução da fertilidade de áreas agrícolas e contaminação de recursos hídricos.
O professor destaca também que outras medidas menos comuns atualmente serão cada vez mais discutidas, pois terão um papel central na agriculturanos próximos anos. Entre elas, ele elenca: uma adoção crescente de soluções baseadas na natureza, como o crescimento simultâneo de plantas em uma lavoura, onde plantas de cobertura se desenvolverão ao mesmo tempo que a cultura agrícola principal.
“A reorganização do ambiente produtivo também tende a incorporar sistemas mais heterogêneos de produção, com destaque para os sistemas agroflorestais. Nesses casos os efeitos dos extremos climáticos deverão ser menos sentidos, pois essas soluções aumentam a resistência e a resiliência de todo o agroecossistema com múltiplos benefícios, entre os quais podemos citar o aumento do estoque de carbono e a manutenção da umidade no solo e o aumento da biodiversidade”, explicou Schenato.
Por sim, ele afirma ainda que a responsabildiade desse tipo de cuidado não pode ficar apenas sobre o produtor rural. “É claro que tudo isso exige mudanças em como fazemos a agricultura atualmente e essa responsabilidade não pode recair somente sobre os agricultores. Uma agricultura mais sustentável é necessária, ninguém nega esse fato, mas toda a sociedade precisa ser responsável por essa transição”, completou.
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