Dólar cai em dia de ajustes técnicos, mas acumula alta pela 5ª semana seguida
Por Fabricio de Castro
SÃO PAULO (Reuters) - Nem mesmo a queda do dólar nesta sexta-feira, em meio a ajustes técnicos após os avanços mais recentes, impediu que a divisa norte-americana tivesse a quinta semana consecutiva de elevação ante o real, com as cotações refletindo o desconforto dos investidores com o cenário fiscal e com declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre o Banco Central.
O dólar à vista encerrou o dia cotado a 5,4413 reais na venda, em baixa de 0,38%, após ter atingido na véspera o maior valor de fechamento em quase dois anos. Na semana, a moeda voltou a acumular alta, de 1,12%. Em 2024, o dólar já acumula elevação de 12,15%.
Às 17h15, na B3 o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento caía 0,26%, a 5,4440 reais na venda.
A moeda norte-americana abriu a sexta-feira em queda, com investidores ajustando posições e realizando lucros após os avanços recentes, em um dia de agenda relativamente esvaziada no Brasil e no exterior. Às 11h01, o dólar à vista atingiu a cotação mínima de 5,4232 reais (-0,71%).
No início da tarde, porém, o dólar zerou as perdas, em movimento semelhante ao visto na véspera, quando a moeda chegou a cair quase 1% no início da sessão, refletindo a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do BC sobre a taxa Selic, mas recuperou força durante a sessão.
Por trás do fortalecimento do dólar nesta sexta-feira estava novamente a desconfiança do mercado em relação ao ajuste fiscal e o mal-estar com declarações recentes do presidente Luiz Inácio Lula da Silva contra o presidente do BC, Roberto Campos Neto.
“A questão fiscal ainda não foi resolvida. E o dólar é o grande termômetro do sentimento de aversão a risco. Por isso o dólar se ajusta a conta-gotas”, disse Larissa Quaresma, analista da Empiricus Research, ao justificar o fato de a moeda não ter passado por ajustes de baixa mais consistentes após a reunião de quarta-feira do Copom.
Na ocasião, o colegiado votou de forma unânime pela manutenção da Selic em 10,50% ao ano, como demandava o mercado. A curva de juros brasileira reagiu positivamente, com redução de prêmios, mas o dólar tem demonstrado dificuldades para ceder ante o real.
“O ajuste maior do dólar pode ocorrer quando houver um encaminhamento maior da questão fiscal, com algum corte de gastos efetivo”, acrescentou Quaresma.
Às 12h28 o dólar à vista atingiu a cotação máxima de 5,4623 reais (+0,01%), após Lula ter voltado a criticar, durante entrevista pela manhã, o fato de a Selic estar em 10,50% ao ano “sem nenhuma explicação e sem nenhum critério”, em suas palavras.
À tarde, Lula disse em outra entrevista que o “nervosismo especulativo” em relação ao dólar não vai afetar a economia brasileira.
"Nós estamos tranquilos, ou seja, esse nervosismo especulativo que está acontecendo não vai mexer com a seriedade da economia brasileira", disse Lula em entrevista à rádio Mirante News FM, em São Luís.
Ao longo da tarde o dólar voltou a cair ante o real, mas o movimento esteve longe de apagar os fortes ganhos das últimas semanas.
“Se fosse depender apenas dos dados econômicos, com certeza o dólar teria que estar bem abaixo do que está cotado agora. O que está fazendo o real ficar pressionado é o clima político, especificamente as declarações do presidente da República esta semana”, avaliou Alexandre Viotto, head de banking e câmbio da EQI Investimentos.
Para Viotto, as falas de Lula têm gerado insegurança no mercado, que demonstra ansiedade para saber quem será o substituto de Campos Neto no comando do BC em 2025. Um dos receios é de que o nome indicado por Lula tenha um perfil mais tolerante com a inflação.
“Isso se reflete no principal termômetro do mercado, que é o dólar", disse Viotto.
No exterior, no fim da tarde, o dólar subia ante as moedas fortes e ante boa parte das demais divisas de emergentes e exportadores de commodities.
Às 17h15, o índice do dólar -- que mede o desempenho da moeda norte-americana frente a uma cesta de seis divisas -- subia 0,15%, a 105,790.
Pela manhã o Banco Central vendeu todos os 12.000 contratos de swap cambial tradicional ofertados para rolagem dos vencimentos de agosto.
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