O combate ao fogo começa com uma boa gestão

Publicado em 21/06/2024 11:05
Por Caroline Nóbrega, Diretora Geral da Aliança da Terra

A temporada seca mal começou e as notícias que vêm do Pantanal são mais do que preocupantes. Com chuvas abaixo do previsto e vegetação mais seca do que em anos anteriores, já se esperava um crescimento do número de focos de incêndios florestais na região, mas os primeiros dados indicam que o quadro, este ano, deve se comparar ao dramático ano de 2020, quando houve um recorde de área queimada no bioma.

Até o início de junho, segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), houve um aumento superior a 900% no número de focos, com mais de 32 mil hectares atingidos pelo fogo.

São números que servem de alerta, seja para o ambiente, seja para os negócios de empresas que atuam com ativos naturais expostos a riscos ampliados por um clima cada vez mais sujeito a extremos.

Em alguns segmentos agroindustriais, o potencial de risco é ainda maior, como no caso do setor de florestas plantadas e nas culturas de milho, cana, algodão e até mesmo nas pastagens utilizadas na pecuária.

Não por acaso, portanto, grandes companhias que atuam nessas áreas têm feito investimentos significativos em estruturas de prevenção e combate a incêndios. Recentemente, por exemplo, a Raízen, maior empresa brasileira do setor sucroenergético, anunciou aportes de R$ 164 milhões nessa área.

Os recursos são utilizados, em grande parte, na aquisição de equipamentos, como caminhões pipa, e em sistemas de monitoramento, e na formação de brigadas próprias. Têm a finalidade clara de ajudar a proteger seus ativos – e trazem o positivo efeito colateral junto ao meio ambiente e comunidades vizinhos de suas operações.

O primeiro passo está dado. O combate ao fogo tem que começar, de fato, antes de o incêndio começar. Da mesma forma, é preciso ter clareza de que o investimento, por si só, não apaga labaredas. Ao contrário, pode ser consumido por elas.

Tão relevante quanto dinheiro, tecnologia e equipamentos é a inteligência inserida nos projetos, com planos claros e bem elaborados de prevenção e combate. E aí os processos precisam ser elaborados de forma a permear toda a organização.
Sem pessoas não há combate a incêndios. Treinar funcionários e capacitar brigadas é parte do processo. Mas ele só funcionará, de fato, se for estabelecida uma cadeia clara de comando, engajando líderes de cada área.

Quem está acima na estrutura hierárquica também precisa estar treinado para decidir. Gestores, quando alheios aos planos de prevenção e combate, tendem a hesitar em momentos críticos. E, então, pode adiar decisões e contribuir para a desorganização do sistema de contingência.

Planejamento e gestão eficiente, tão enfatizadas quando se trata das áreas de negócios, precisam estar inseridos no contexto do fogo.
Na Aliança da Terra, por exemplo, elaboramos e executamos planos de manejo integrado de fogo (PMIF) que utilizam informações científicas para avaliar os riscos e estabelecer ações em diversos âmbitos a serem executadas antes, durante e depois dos incêndios, com o objetivo de evitá-los ou, ao menos, contê-los com rapidez.

O planejamento é uma arma poderosa e deve contemplar inclusive as áreas agronômicas, que precisa, desde o plantio, considerar variáveis como direção mais frequente dos ventos ou a divisão dos talhões de forma a reduzir o risco dos incêndios e a permitir acesso rápido de brigadistas e equipamentos.

Conhecer e analisar o histórico de incêndios nas propriedades e arredores, manter aceiros ou fazer o manejo de pastagens de forma a reduzir material combustível primeiro nas áreas de maior risco estão entre as medidas que tem bastante efetividade, mesmo sendo de execução simples.

Há quatro anos, a Aliança da Terra, usou sua inteligência e a expertise dos guerreiros da sua Brigada Aliança em um projeto financiado por uma grande empresa do setor de proteína animal, que manteve brigadas florestais ativas nas regiões críticas do Pantanal.
O trabalho, baseado na ciência e na presença permanente dos homens em campo, conseguiu reduzir em até 98% o número de incêndios já no ano seguinte.

O projeto foi interrompido por falta de financiamento e, por consequência, os índices de focos e área queimada voltaram a subir nas regiões antes atendidas pelas brigadas.

Assim, fica demonstrado como ações corporativas coordenadas podem, com apoio de especialistas em fogo, ter um impacto profundo junto ao ambiente e à sociedade. Isso, desde que sejam vistas como estratégicas, com gestão e continuidade. É assim que se começa um bom combate.

Caroline Nóbrega é bióloga, mestre e doutora em Ecologia e Evolução, atualmente diretora geral da Aliança da Terra, coordenando as ações da Brigada Aliança. A Brigada Aliança conta com equipes de brigadistas florestais distribuídas nos biomas Amazônia, Cerrado e Pantanal, atuando em ações de prevenção e controle de incêndios florestais em Unidades de Conservação, Terras Indígenas e propriedades privadas.

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Fonte:
Aliança da Terra

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