Mais da metade dos navios para exportação de café atrasam embarques em maio
Em maio de 2024, 216 navios para exportação de café, ou 54% do total de 402 porta-contêineres, tiveram atrasos ou sofreram alteração de escalas nos principais portos do Brasil. O maior prazo apurado, de 24 dias entre a abertura do primeiro até o último deadline, foi registrado nos terminais do Rio de Janeiro (RJ). Os dados constam no Boletim Detention Zero (DTZ), elaborado pela ElloX Digital em parceria com o Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé).
No Porto de Santos (SP), principal escoador do produto no Brasil, foi observado o maior percentual de atrasos, de 78%, com 97 navios sofrendo alterações em suas escalas, sendo que o maior prazo foi de 22 dias.
No mês passado, somente 9% dos procedimentos de embarque tiveram prazo superior a quatro dias de gate aberto por navios no terminal santista, o menor índice registrado desde o início do levantamento, em janeiro de 2023; 56% possuíram entre três e quatro dias; e 35% tiveram menos de dois dias. Além disso, 32 navios sequer tiveram uma abertura de gate em maio.
“Santos sempre se destacou como o principal exportador dos cafés do Brasil na história, mas os investimentos modestos para os embarques de cargas conteinerizadas não foram suficientes para acompanhar a evolução do comércio exterior brasileiro, principalmente do agronegócio, o que resulta na falta de espaços físicos e gargalos portuários. De janeiro a maio de 2024, por exemplo, o terminal paulista respondeu por 69,4% das remessas de café ao exterior, o menor índice em mais de duas décadas”, comenta Eduardo Heron, diretor técnico do Cecafé.
No complexo portuário do Rio de Janeiro, o segundo maior exportador dos cafés do Brasil, com representatividade de 27,5% no acumulado deste ano, o índice de atrasos das embarcações foi de 44% em maio de 2024, o que envolve 37 dos 84 navios destinados às remessas do produto.
No compilado mensal, 24% dos procedimentos de exportação tiveram prazo superior a quatro dias de gate aberto por porta-contêineres nos portos fluminenses; 41% possuíram entre três e quatro dias; e 35% tiveram menos de dois dias.
“Esses resultados nos dois principais complexos exportadores dos cafés do Brasil reforçam as limitações de infraestrutura e a falta de espaços físicos nos portos de Santos e Rio de Janeiro, contribuindo para os atrasos de navios e alterações de deadlines. Isso gera custos extras e não previstos às empresas exportadoras com armazenagem adicional e detentions. Vale destacar, contudo, que essas limitações, as quais reduzem a dinâmica e a celeridade na movimentação de cargas, também são observadas em diversos outros portos do Brasil, o que sobrecarrega e contribui para os atrasos nos principais portos embarcadores do café”, analisa o diretor técnico do Cecafé.
Heron completa que, em função desse cenário de elevados gastos aos exportadores brasileiros de café, a entidade tem intensificado diálogos com os transportadores marítimos, terminais e, em São Paulo, com a Autoridade Portuária de Santos, visando ao aprimoramento dos processos nos embarques cafeeiros para tentar encontrar soluções que reduzam essas ameaças.
“Notamos grande interesse da Autoridade Portuária de Santos na manutenção do diálogo e na busca por soluções que reduzam esses riscos, mas são necessárias uma reflexão mais profunda e a ampliação do debate, porque o porto santista vem demonstrando sinais de esgotamento. Ao considerarmos o cenário previsto para o segundo semestre, com maior movimentação de cargas conteinerizadas, acreditamos que os desafios serão ainda maiores, uma vez que não há a capacidade e o contingente adequado para dar tranquilidade ao comércio exterior brasileiro”, conclui.
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