China dá primeiros passos para obter produtos agrícolas sustentáveis
Por Mei Mei Chu
PEQUIM (Reuters) - A chinesa Cofco International desembarcou sua primeira carga de soja livre de desmatamento para uso doméstico nesta sexta-feira, marcando o que agentes do setor dizem ser um marco para um país que priorizou o preço em detrimento da sustentabilidade em suas importações agrícolas.
A China é um dos principais compradores de produtos agrícolas, incluindo soja e carne bovina, que são motores do desmatamento global, mas ficou atrás de seus pares ocidentais na exigência de que produtos como o óleo de palma não sejam provenientes de terras ligadas ao desmatamento ou à conversão de habitats naturais.
Isso está mudando lentamente, com a estatal Cofco International, bem como a China Mengniu Dairy Company e a Inner Mongolia Yili Industrial Group Co Ltd solicitando soja sustentável no último ano a fornecedores e consultores, disseram à Reuters comerciantes e especialistas em sustentabilidade.
Os volumes são minúsculos no contexto da compra geral da China, mas as implicações do fornecimento mais ecológico são significativas, dado o apetite voraz da China por produtos agrícolas, mesmo enquanto o país busca reduzir sua dependência das importações.
A participação da Cofco, que trouxe a carga de sexta-feira no porto de Tianjin para o Modern Farming Group, subsidiária da Mengniu, também manda um sinal para outros compradores sobre a intenção de Pequim.
"Há uma mudança perceptível nas tendências de compra entre os compradores chineses em direção a produtos mais sustentáveis e ecologicamente corretos", disse um corretor com sede em Cingapura, que não quis se identificar devido à confidencialidade dos negócios.
Algumas empresas chinesas têm solicitado "agressivamente" soja livre de desmatamento e óleo vegetal neutro em carbono desde o ano passado, disse um gerente de uma trading global.
A carga de 50.000 toneladas de soja brasileira de sexta-feira, no valor de 30 milhões de dólares, tinha uma cláusula livre de desmatamento e conversão (DCF) pela primeira vez em um pedido da oleaginosa da China.
"Nosso setor deve tomar medidas para ajudar a fortalecer nossos sistemas alimentares (e) promover práticas agrícolas sustentáveis que protejam nosso clima e meio ambiente", disse Wei Dong, CEO da Cofco International, em um comunicado.
A remessa é um projeto piloto conduzido pela Tropical Rainforest Alliance do Fórum Econômico Mundial para reduzir o desmatamento impulsionado pela exportação de commodities. Seu diretor executivo, Jack Hurd, disse que a participação da Cofco estimulará mais demanda chinesa por produtos sustentáveis.
Em 2023, a Mengniu se comprometeu com uma cadeia de suprimentos com desmatamento zero até 2030 e se juntou ao grupo do setor Mesa Redonda sobre Óleo de Palma Sustentável (RSPO) este ano. A Yili tem uma meta semelhante para o fornecimento de soja, óleo de palma, celulose e papel, e disse que aumentará as compras anuais de óleo de palma certificado pela RSPO em 50 toneladas a partir de 2024 para atingir 650 toneladas até 2030.
Um produtor de óleo de palma da Indonésia disse que vender para a China em breve exigirá padrões mais altos. "Eles estão prestando mais atenção à sustentabilidade... ao contrário do passado, quando o preço era o único fator."
A Cofco, por sua vez, tem como meta para 2025 uma cadeia de suprimentos de soja com desmatamento zero em áreas ecologicamente sensíveis na América Latina, incluindo a Amazônia, e tem planos para cadeias de suprimentos sustentáveis de óleo de palma e café.
Em janeiro, a Cofco International assinou um memorando de entendimento com a China Shengmu Organic Milk Ltd do grupo Cofco para fornecer 12.000 toneladas de soja DCF do Brasil, com um acordo para aumentar gradualmente o volume.
O diretor da RSPO China, Fang Lifeng, disse que a demanda da China por óleo de palma sustentável certificado, originalmente impulsionada por multinacionais como a L'Oreal e a Unilever, agora está sendo liderada por empresas locais.
Ainda assim, a demanda é uma pequena fração das importações da China, que no ano passado incluíram 4,3 milhões de toneladas de óleo de palma e 99,4 milhões de toneladas de soja.
O custo continua sendo um impedimento. A soja DCF pode custar de 2 a 10 dólares a mais por tonelada, enquanto o óleo certificado pela RSPO pode custar mais de 15 dólares a mais.
Um trader de uma trading internacional sediada em Cingapura que administra fábricas de processamento de soja na China disse que os volumes não representarão nem 1% das importações.
"Não vemos volumes significativos chegando", disse o trader, acrescentando que a pressão dos financiadores do comércio poderia ajudar a impulsionar o fornecimento sustentável.
(Reportagem de Mei Mei Chu em Pequim; reportagem adicional de Naveen Thukral em Cingapura)
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