Dólar recua ante real com expectativa de Selic a dois dígitos no final do ano
Por Fernando Cardoso
SÃO PAULO (Reuters) - O dólar recuava frente ao real nas negociações desta terça-feira, uma vez que os investidores estão apostando em uma taxa Selic mais alta neste ano do que o previsto anteriormente, ainda repercutindo declarações recentes de diretores do Banco Central e a retirada da orientação futura na última decisão do Comitê de Política Monetária (Copom).
Às 10h12, o dólar à vista caía 0,35%, a 5,0871 reais na venda. Na B3, o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento recuava 0,17%, a 5,098.5 reais na venda.
"Copom ainda reverberando. Acho que estão todos atentos aos próximos passos do comitê, que ontem pela primeira vez esboçou alguma possibilidade de alta na Selic, o que naturalmente puxaria nosso diferencial (de juros) e favoreceria fortemente o real", disse Fernando Bergallo, diretor de operações da FB Capital.
Em sua mais recente decisão de política monetária no início deste mês, o Copom decidiu reduzir a taxa básica de juros em 0,25 ponto percentual, após seis cortes consecutivos de 0,5 pontos. Os diretores do BC também concordaram em não fornecer uma orientação futuro para seus próximos passos.
O presidente da instituição, Roberto Campos Neto, disse em entrevista ao jornal Estado de S. Paulo publicada na semana passada que não pode antecipar novos cortes de juros, argumentando que a autarquia precisa "de tempo, serenidade e calma para saber como as variáveis vão se desenrolar".
A postura mais contracionista por parte do BC, justificada por uma série de incertezas no cenário externo e doméstico, tem se refletido nas projeções dos analistas, que agora esperam que a Selic termine o ano em um patamar mais alto do que o previsto anteriormente.
Na pesquisa Focus do BC, divulgada na segunda-feira, analistas voltaram a elevar a projeção para a taxa de juros ao final do ano, apontando que a nova expectativa é de 10,0%, ante 9,75% antes, na terceira semana seguida de elevação. A Selic está atualmente em 10,5% ao ano.
Num geral, uma Selic mais alta no Brasil torna o real mais atraente para uso em estratégias de "carry trade", em que investidores tomam empréstimos em países de taxas baixas e aplicam esse dinheiro em mercados mais rentáveis, de forma a lucrar com o diferencial de juros.
No cenário externo, o mercado também aguarda a divulgação na quarta-feira da ata da última reunião de política monetária do Federal Reserve, que pode sinalizar quando o banco central norte-americano pretende iniciar seu ciclo de afrouxamento monetário e em qual intensidade.
Em falas separadas na segunda-feira, membros do Fed ainda demonstraram cautela com a inflação. O vice-chair do Fed, Philip Jefferson, afirmou que ainda é cedo para saber se a inflação está de volta a uma trajetória sustentável para a meta de 2%, enquanto o presidente do Fed de Atlanta, Raphael Bostic, classificou os dados de preços como "muito irregulares".
Operadores atualmente projetam cerca de 42 pontos-base de cortes nos juros do Fed neste ano, com uma redução de 25 pontos totalmente prevista para novembro.
Na véspera, o dólar à vista encerrou o dia cotado a 5,1048 reais na venda, em leve alta de 0,03%.
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