Ações da Petrobras desabam após anúncio de troca de CEO
Por Paula Arend Laier
SÃO PAULO (Reuters) - As ações da Petrobras desabavam nos primeiros negócios desta quarta-feira após o anúncio da saída do CEO da companhia, Jean Paul Prates, e a decisão do Ministério de Minas e Energia de indicar Magda Chambriard, ex-diretora-geral da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), como substituta.
Às 10h20, as preferenciais caíam 6,60%, a 38,15 reais, enquanto as ordinárias perdiam 7,60%, a 39,68 reais, capitaneando as perdas do Ibovespa, que cedia 0,65%.
Para analistas do Goldman Sachs, a notícia é negativa.
"Com base em nossas conversas com investidores, acreditamos que o mercado viu o sr. Prates como um bom conciliador entre os interesses dos investidores e do governo. Além disso, acreditamos que o anúncio poderá reacender preocupações relativamente a uma potencial intervenção política nas operações da empresa", afirmaram Bruno Amorim e equipe.
Em relatório a clientes, eles citaram que o comando da Petrobras mudou diversas vezes no passado após desentendimentos entre a administração da empresa e o governo, levando à fraqueza das ações nos dias seguintes aos eventos. No entanto, ponderaram, as cotações se recuperaram, com fundamentos sólidos e uma melhor governança como resultado das mudanças iniciadas em 2016.
"Finalmente, acreditamos que será importante que os investidores monitorem se algum aspecto da governança será alterado após o anúncio. As leis atuais e os estatutos da Petrobras em vigor tornariam um desafio para uma nova administração alterar significativamente a alocação de capital e as políticas de preços de combustíveis."
O anúncio da mudança no comando da Petrobras aconteceu um dia após a divulgação dos resultados do primeiro trimestre da empresa, cujo lucro caiu 38% na comparação anual, para 23,7 bilhões de reais. Antes, no entanto, já havia no governo descontentamento com os rumos da companhia e com a própria gestão de Prates.
Os analistas Conrado Vegner e Vinícius Andrade, do Safra, citaram que a reação negativa do mercado decorre principalmente da maior percepção de risco de possível interferência política nas decisões da empresa, em vez de uma opinião negativa sobre a própria Chambriard.
"Este anúncio foi inesperado e ocorre em um contexto de elevada pressão política", acrescentaram os analistas da XP Regis Cardoso e Helena Kelm.
"Na nossa visão, a mudança na gestão adiciona incerteza ao caso de investimento e aumenta a percepção de risco dos investidores. Este contexto provavelmente levantará preocupações dos investidores minoritários sobre o possível risco de interferência do acionista majoritário -- ou seja, o governo -- na gestão da empresa."
Eles disseram ainda que Chambriard deve assumir o comando da Petrobras em um contexto desafiador de significativas pressões externas. Por outro lado, destacaram que ela encontrará a empresa com uma forte geração de fluxo de caixa livre, um balanço patrimonial desalavancado e um portfólio de investimentos sólido.
A XP explicou que, segundo o estatuto da empresa, o novo CEO da Petrobras precisa primeiro ser eleito como membro do conselho de administração da empresa. O nome deve ser aprovado pelo Comitê de Pessoas do conselho, para cumprimento de várias regras de elegibilidade, antes de ser submetido a uma votação pelo colegiado.
"O caminho mais rápido para a nomeação é a renúncia de um dos membros do conselho atual, para que o novo nomeado possa ser designado como substituto no conselho e subsequentemente eleito CEO -- o que acreditamos que acontecerá neste caso", afirmaram os analistas.
A Petrobras informou que recebeu na terça-feira solicitação de Prates para que o conselho de administração da estatal se reunisse para apreciar o encerramento antecipado de seu mandato como CEO. A reunião, que pode aprovar sua saída, está marcada para esta quarta-feira.
Em mensagem a amigos obtida pela Reuters, Prates afirmou que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva pediu seu cargo, acrescentando que deveria "nomear Magda". Ele citou ainda que os ministros de Minas e Energia, Alexandre Silveira, e da Casa Civil, Rui Costa, estavam satisfeitos com sua saída.
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