Trigo: RS terá redução de área considerável após quebra de safra e com insegurança sobre seguro caro e ineficiente

Publicado em 05/03/2024 12:52 e atualizado em 05/03/2024 15:09

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A nova safra de trigo do Brasil deverá ser iniciada nos próximos meses com bem menos estímulo e otimismo entre os produtores do que as duas útimas. A safra 2023 se inicou com perspectivas de quebra de recordes, bom posicionamento do cereal brasileiro na vitrine do mercado global, todavia, as expectativas foram se frustrando e a temporada terminou com perdas graves de produtividade, de qualidade dos grãos e pressão agressivas sobre os preços. Neste cenário, o triticultor fechou o ciclo com problemas de capitalização, com menos produto de qualidade e, consequentemente, com menos competitividade de uma forma geral.

A safra brasileira 2023 de trigo, de acordo com os últimos números da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), foi de 8,096,8 milhões de toneladas. Para 2024, as primeiras projeções do órgão sinalizam uma produção de 10,2 milhões de toneladas. "Com a colheita da safra 2023 encerrada, a Conab passa a monitorar a safra 2024, que ganhará força em meados de abril no Paraná e, em maio, no Rio Grande do Sul, estados que representam 82,7% da produção tritícola do país", afirmou o boletim de fevereiro da companhia, o qual será atualizado no próximo dia 12. "A safra atual ainda não começou a ser semeada e as estimativas iniciais de produtividade foram geradas por modelos estatísticos e analisados pelos técnicos da Conab, levando em consideração as condições climáticas que a cultura poderá enfrentar em cada unidade da Federação, de acordo com as fases". 

Conab Trigo

E esta é uma realidade bastante presente, principalmente, na região Sul do Brasil, onde estão os dois maiores estados produtores do país, o Rio Grande do Sul e o Paraná. Como explica o diretor da Farsul (Federação de Agricultura do Rio Grande do Sul), Hamilton Jardim, o estado deve registrar uma redução considerável de área dedicada ao trigo nesta próxima safra, já que a ainda repercute entre os produtores a frustração por conta do excesso de chuvas, dos preços afetados pelo mercado mundial e dos custos altos do ano passado. 

"Há um desestímulo muito grande para a próxima safra", afirma Jardim. "O cenário vem se agravando com os baixos preços recebidos pela soja e pelo milho, as dívidas represadas terão que ser cumpridas agora, não há sinais de melhora nos preços do trigo e o produtor está descapitalizado. Este é o cenário que está posto hoje. E o trigo é uma cultura de risco". 

O diretor da Farsul explica ainda que, neste ambiente, os produtores - tanto no Rio Grande do Sul, como no Paraná - não estão fazendo a aquisição de seus insumos em um ritmo normal, como em anos anteriores, e este é mais um sinal de que a próxima temporada poderá registrar diminuições, não só de área, mas também de investimentos. E ele lembra ainda que o triticultor no Rio Grande do Sul foi impactado por duas secas seguidas, enquanto no Paraná ele já está em uma situação de um pouco mais de segurança e melhor capitalização. 

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Lavoura de trigo em desenvolvimento - Foto: CNA

"Hoje, os custos não se pagam. Para isso, teríamos de ter aumento de produtividade e isso implica em alta tecnologia, investimento para chegarmos ao menos a 55 sacas por hectare para ao menos empatar as contas", explica Hamilton Jardim. E os custos estão em elevação. 

Conforme relata o vice-presidente do Sindicato Rural de Carazinho/RS, Paulo Vargas, depois de todos os problemas da última safra, já há relatos no estado de dificuldades na oferta de sementes para a nova temporada do trigo. As adversidades climáticas promoveram problemas também na produção de sementes que poderão registrar menos vigor, menos força para germinação. Então haverá menor volume, qualidade mais baixa, e preços mais elevados. "Este deverá ser um ano bastante difícil para o trigo", afirma Vargas. "O produtor tem que fazer gestão". 

SEGURO RURAL: CARO E POUCO EFICIENTE

Nesta gestão está também a condição do seguro, que é uma das maiores preocupações e um dos maiores problemas para o produtor de trigo no Brasil, como explicam o vice-presidente do Sindicato Rural de Carazinho e o diretor da Fasul. Ambos afirmam que os valores das apólices estão elevados e a cobertura é pequena. 

Jardim explica que há um número elevado de indenizações não pagas no Rio Grande do Sul - e também em outras partes do Brasil, em outras culturas - e este acaba sendo um dos principais fatores de desestímulo neste caso, dado o elevado risco da triticultura. "O seguro tem sido um impeditivo muito grande e o trigo é uma atividade de risco. E o risco é grande demais para fazer sem seguro". 

TRIGO NO CERRADO: RESULTADOS MELHORES, PERSPECTIVAS MELHORES

Apesar de tantas inseguranças e incertezas no Sul do Brasil, as notícias não são tão difíceis para os produtores da região do Cerrado. A produção de Minas Gerais, Goiás, Distrito Federal e partes de São Paulo não sofreu uma quebra tão severa, registraram bons resultados e os preços localizados - apesar da distância dos portos - permitiram uma boa comercialização. 

"Então, essas regiões deverão manter suas áreas ou até promover uma recuperação de áreas", afirma Élcio Bento, analista da Safras & Mercado. "É bem verdade que essa área é uma pequena parcela de toda a produção nacional, mas é um cenário ainda positivo. Mesmo no Sul, mais ao norte do Paraná, existe uma perspectiva de aumento de área, os preços, de fato, são baixos, mas há uma tendência de área maior", detalha. 

MERCADO: OFERTA, DEMANDA E EXPECTATIVAS

Bento reforça ainda que é necessário que o produtor, para avançar com as suas tomadas de decisão, siga monitorando o mercado e pese os prós e contras neste momento. 

Do lado negativo, a quebra de safra muito agressiva, que deixou a oferta bem menor, não promoveu um estímulo dos preços, o que agrava ainda mais o cenário. "Mesmo com essa redução de oferta, os preços estão mais baixos do que no ano passado, cerca de 20%, voltando à realidade, saindo daqueles preços mais elevados. A questão deste preço interno em baixa vem de fora, a Argentina jogando trigo no Brasil a preços baixos. E com a quebra forte o produtor traz essa memória recente e isso também desestimula", explica. 

Um levantamento da Safras, ainda segundo o analista, mostrou que o produtor olha muito para o cenário recente ligado a preços e sente o peso desta memória recente. "Então, vimos desta situação de quebra de safra e preços baixos que reduz a saúde financeira do produtor e, como se não bastasse, a soja também está com preços mais baixos, o que deixa o produtor menos capitalizado, e isso sinaliza a possibilidade não só de uma redução de área, mas também de tecnologia, pacotes tecnológicos". 

Do lado positivo, as perspectivas de um La Niña poderiam construir um cenário de clima mais favorável para o desenvolvimento de uma nova safra, ao ao contrário do que se observou na última temporada com o El Niño e um verão muito chuvoso no sul do Brasil. "La Niña tem algum risco de perdas por geadas, mas historicamente, La Niña é melhor para o trigo", afirma o analista.

Cruzando com os custos de produção - ou parte dos insumos ao menos -, é possível registrar valores menores, como o fósforo estando 17% mais barato do que há um ano; 15% no caso do nitrogênio e 40% ao se observar o potássio. "Então, se colocarmos na média, a queda dos preços é inferior aos custos destes principais insumos. Claro que não é só isso o custo de produção, mas 60% dos custos são o NPK", complementa. 

Ainda entre os prós, estão as perspectivas de uma demanda adicional pelo trigo no Rio Grande do Sul do setor do etanol, gerando uma boa procura pelo cereal, além de um momento de pico de entressafra com pouca oferta. "Ainda pensando no Rio Grande do Sul, mesmo com essa situação complicada, as vendas no feed (trigo ração) foram comercializados volumes com preços que, para feed, foram atrativos e teve uma boa demanda. E por isso, eu particularmente, acredito que o sentimento é de uma redução na área plantada, não acho que essa redução seja tão forte, sendo mais branda - de 10% a 15% no máximo - e voltaremos com um potencial de produção na casa dos 10 milhões de toneladas com o clima positivo", afirma Élcio Bento. 

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Por:
Carla Mendes | Instagram @jornalistacarlamendes
Fonte:
Notícias Agrícolas

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1 comentário

  • Marcio Magarinos Outros Tio Hugo - RS

    Arriscar a levar prejuízo para ou outros todos ganharem dinheiro, não obrigado. Tem que parar com tudo ou trabalhar pra pagar conta.

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