Europa: Zelenskiy coloca em xeque continuidade do corredor de grãos enquanto protestos se intensificam
Em meio aos crescentes e tensos protestos de produtores que acontecem por toda a Europa, os quais chegaram à sede do prédio da União Europeia nesta segunda-feira (26), o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelenskiy, afirmou que o corredor de grãos alternativo que o país colocou prara funcionar após o acordo entre os dois países em guerra com a ONU (Organização das Nações Unidas) e mediado pela Turquia, não ter sido renovado, pode não ser mantido também sem uma ajuda militar efetiva dos Estados Unidos.
O governo ucraniano lançou o corredor marítimo em agosto, nas proximidades da Romênia e da Bulgária, permitindo que as exportações ucranianas continuassem a acontecer, mesmo que de forma limitada. Cerca de 30 milhões de toneladas já foram escoadas por esta alternativa e, em entrevista à rede de televisão CNN, Zelenskiy afirmou que os ucranianos "criaram esta nova rota no Mar Negro". Ele complementou dizendo, todavia, que será necessária a aprovação de um auxílio pelo Congresso Americano de US$ 60 bilhões para que a manutenção deste corredor não se tornar uma dúvida.
"Acho que a rota será fechada... porque para defendê-la também é preciso ter alguma munição, alguma defesa aérea e alguns outros sistemas", disse Zelenskiy.
Enquanto a Ucrânia busca ajuda para manter-se resiliente e encontrando formas eficientes de escoar sua produção, produtores rurais de quase 20 países seguem protestando contra uma série de agendas impostas pelos chefes de estado europeu, bem como a importação por estes países de produtos mais baratos, incluindo os ucranianos.
Em recente entrevista ao Notícias Agrícolas, Marcos Araújo, analista de mercado da Agrinvest Commodities, explicou as relações. "A invasão russa forçou os ucranianos a liquidarem, a venderem o que tinham de grãos em estoque a qualquer preço. Basta observarmos a crise na agricultura que está sendo causada na Europa não só por questões ambientais (de agendas impostas aos produtores), mas por essa liquidação de grãos da Ucrânia, que derrubou o preço de vários grãos e cereais na Romênia, Polônia, Alemanha, e vários países".
No último sábado, 24 de fevereiro, o conflitou completou dois anos e as consequências vão muito além dos dois países que estão nele.
Entenda:
Assim, as manifestações de agricultores que começaram, em janeiro deste ano, na Alemanha, se alastraram e se deram em Bruxelas no início desta semana, na sede da União Europeia. Houve confronto com a polícia, os produtores rurais espalharam feno na porta do prédio - que estava com barreiras de concreto e arame farpado - e cerca de 900 tratores entraram na capital da Bélgica, além de terem bloqueado rodovias e queimado pneus. As palavras de ordem continuavam duras e o desgosto dos manifestantes cada vez mais evidente.
Entre 6 e 9 de junho, ocorrem as eleições do Parlamento Europeu e buscando garantir suas vitórias, os ministros já têm pleiteado mais recursos para o agronegócio. Os políticos solicitaram que haja a manutenção do regime de subsídios e um pacote de 60 bilhões de euro ao ano.
O pacote é um dos mais antigos em andamento e utiliza cerca de um terço do orçamento conjunto da União Europeia. O objetivo das medidas tem sido a garantia do fluxo de renda dos produtores rurais e a produção de alimentos.
IMPACTO SOBRE OS PREÇOS DOS GRÃOS
A não continuidade do corredor ucraniano pode causar novos impactos sobre os preços dos grãos. Como explicou o analista de mercado Eduardo Vanin, da Agrinvest Commodities, no curto prazo, efeito principal seria a saída da Ucrânia do mercado como um player importante de grandes embarcações, de navios panamax. "E quem está nesse jogo hoje é Brasil, EUA e Ucrânia. Recentemente, a China comprou 10 barcos de milho ucraniano a preços bem descontados, o que é negativo para Chicago. Se a Ucrânia está fora, eles têm que comprar dos brasileiros ou dos americanos".
Com este cenário se confirmando, a Ucrânia teria de continuar encontrando rotas ainda alternativas, encontrar uma forma de atender a Polônia, atuar por hidrovias e atender apenas a demanda nas imediações. Com o país tentando levar mais produtos aos países vizinhos, as tensões podem se agravar.
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