Milei não deve mudar comércio de trigo com Brasil, avalia presidente da Abitrigo
Por Roberto Samora
SÃO PAULO (Reuters) - A eleição do libertário Javier Milei na Argentina não deve mudar o comércio de trigo com o Brasil, que importa a maior parte do cereal a partir do país vizinho, avaliou nesta segunda-feira o presidente da Associação Brasileira da Indústria do Trigo (Abitrigo), Rubens Barbosa.
Barbosa, ex-embaixador do Brasil nos Estados Unidos, avalia também que a relação comercial da Argentina com o Mercosul e a China também não sofrerá impactos, uma vez que os argentinos precisam de divisas obtidas com as exportações de seus produtos para equilibrar a economia.
"Acho que a relação do Brasil com a Argentina, sobretudo na questão do trigo, a eleição do Milei não vai alterar nada", disse ele à Reuters, por telefone.
"Acho que eles vão ser pragmáticos porque a Argentina está precisando de divisas por causa do baixo nível de reservas, e o Brasil no trigo representa muito para eles", acrescentou.
O pragmatismo do futuro governo da Argentina é esperado em relação ao Brasil também pelas fortes relações comerciais em outros produtos, ainda que Milei tenha ofendido durante sua campanha o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, cujo governo espera um pedido de desculpas, segundo o ministro da Secretaria de Comunicação da Presidência, Paulo Pimenta.
Em 2022, quando a Argentina exportou 14 milhões de toneladas de trigo, cerca de 31% do total teve como destino o Brasil, segundo dados da agência estatal argentina Indec.
Em 2023, até meados de outubro, esta fatia do Brasil nas exportações foi ainda maior, próxima de 80%. Mas os negócios com outros países foram impactados pela seca, com a Argentina exportando ao todo apenas 2 milhões de toneladas no período, segundo o Indec.
De acordo com dados do governo brasileiro, o Brasil importou 1,88 milhão de toneladas da Argentina de janeiro a outubro de 2023, de um total de 3,4 milhões de toneladas importadas, enquanto no mesmo período do ano passado, quando os argentinos tinham maior oferta, as importações vindas do país vizinho somaram 4 milhões de toneladas.
"Acho que a relação com a China, a relação com o Brasil não vai sofrer, mesmo com o Mercosul, acho que eles vão ter uma atitude muito pragmática sobre estas relações", comentou Barbosa, destacando que os argentinos precisam das divisas externas.
"Não vão cortar as fontes de renda deles", disse. "Do ponto de vista de comércio exterior, acho que na relação comercial, exportação-importação, nada vai mudar."
Barbosa disse acreditar que a Argentina pode colocar um fim aos impostos sobre as exportação de grãos, o que poderia impulsionar a produção local.
"Acho que isso eles vão terminar, por isso que os empresários estavam apoiando o Milei", comentou.
A eleição é uma oportunidade para uma "mudança radical" na política do setor de grãos, disseram as principais associações rurais argentinas no domingo, oferecendo-se para trabalhar "lado a lado" com o libertário.
Produtores de grãos e gado argentinos têm defendido a eliminação de impostos e "tetos" que eles dizem ser, há anos, vilões contra as exportações dos produtos.
(Por Roberto Samora, com reportagem adicional de Maximilian Heath, em Buenos Aires)
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