Mercado de insumos: apesar de instabilidade global, 2023 pode finalizar com preços inferiores à 2022, por Laleska Moda
O cenário de incerteza econômica e geopolítica atual tem gerado novas preocupações em relação aos preços dos insumos agrícolas. No setor sucroenergético, por exemplo, dados do Pecege Consultoria e Projetos apontam que os insumos corresponderam aproximadamente 30% do custo de produção da temporada 22/23, sendo as classes mais representativas os fertilizantes e defensivos – correspondente à aproximadamente 50% e 30%, respectivamente dos gastos. Por isso, entender o comportamento desses produtos é essencial para a formulação de estratégias.
De forma geral, os custos com fertilizantes e defensivos tiveram forte alta em 2022 com a guerra na Ucrânia, evidenciando a dependência externa brasileira em relação aos insumos (especialmente fertilizantes) e a volatilidade dos preços desses produtos em relação ao cenário internacional. Assim, com o novo conflito em Gaza, produtores nacionais seguem atentos aos possíveis impactos nos preços dos insumos agrícolas.
Entretanto, as perspectivas iniciais de analistas do Pecege Consultoria e Projetos ainda são de queda, com o Índice de Defensivos finalizando 2023 em 13,8% inferior em relação à 2022. Para os fertilizantes, o Índice do MAP, por exemplo, aponta queda de 31,9% em 2023, frente ao ano passado.
No médio prazo, os preços dos defensivos ainda podem ter novos acréscimos, mas muito mais atrelados à perspectiva de um dólar mais forte (em virtude da política monetária americana ainda restritiva) e de um leve aumento da demanda por esses produtos. A oferta, no entanto, não deve ser afetada pelo conflito no Oriente Médio, visto que os maiores produtores desses produtos são China, Índia e EUA, mantendo os preços em níveis inferiores ao do ano anterior.
Para os fertilizantes, ainda que Israel seja um importante produtor de fertilizantes fosfatados, até o momento não há notícias de impactos na produção de fertilizantes na logística de fertilizantes israelenses. Além disso, as importações brasileiras são concentradas em outros países, como Egito, China e Marrocos. Assim, os preços do MAP podem ter altas correlacionadas à demanda e gargalos de ofertas pontuais, mas o médio prazo ainda indica para preços menores ao ano passado.
Ainda assim, agentes de mercado ainda devem seguir atentos aos desdobramentos na região. As incertezas na geopolítica global com a guerra em Gaza, especialmente no caso de um cenário de possível escalada nos conflitos para outros países da região, poderiam ter impactos nos preços do petróleo, por exemplo.
O aumento do combustível, por sua vez, poderia impactar no aumento dos custos de produção de insumos e logística, mas também poderia sustentar um quadro inflacionário global, levando a políticas monetárias mais restritivas, impactando os custos agrícolas de produção. No entanto, no cenário atual do conflito, ainda não são esperados impactos significativos no setor de insumos.
À medida que os acontecimentos no cenário internacional continuam a se desenrolar, se espera que empresas e produtores adotem medidas de gerenciamento de riscos para mitigar possíveis aumentos de custos e, assim, manter a estabilidade no mercado de insumos e produtos agrícolas. A situação ainda permanece dinâmica e sujeita a mudanças, e as partes interessadas continuarão a monitorar de perto qualquer desenvolvimento que possa afetar a economia global e, por extensão, o setor agrícola.
* Laleska Moda é Analista de Custos de Produção do Pecege Consultoria e Projetos
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