Soja: Apesar de tantos fatores - em especial do macro e da geopolítica - plantio no BR é o que mais pesa agora
O mercado da soja começa a semana ainda dividindo suas atenções entre os cenários fundamental e geopolítico, em especial depois das notícias do último final de semana. Além disso, a China voltou de seu feriado da Golden Week, porém, sem trazer um combustível considerável para que uma recuperação mais consistente pudesse ser registrada.
A análise foi feita por Eduardo Vanin, da Agrinvest Commodities, em entrevista ao Bom Dia Agronegócio, do Notícias Agrícolas, nesta segunda-feira (9).
CHINA
Na China, a volta do feriado da Golden Week foi de fechamento negativo para as commodities agrícolas - em especial o suíno na Bolsa de Dalian - sentindo a pressão do consumo mais contido na nação asiática. "A produção de suínos cresce e o consumo não. Então, está sobrando", afirma Vanin. "E os chineses estão dando preferência para outras carnes, como de frango de bovina".
COMPETITIVIDADE BR X EUA
Outro fator que também tem sido muito acompanhado pelo mercado - e que já chega aos preços - é a competitividade não só da soja, mas também do milho entre Brasil e Estados Unidos, que já se destaca para os produtos brasileiros e é negativo para as cotações em Chicago.
"O milho nem se fala, dá de lavada nos demais. Os EUA estão com uma safra quase recorde e precisam vender, mas está muito caro. Nada está ajudando os programas americanos, desde o frete de barcaças - que ficou mais caro e o nível do rio Mississippi mais baixo - e também os fretes marítimos, que na rota EUA-Ásia também ficaram mais caros. O spread do frete marítimo ficou maior, os EUA ficaram mais caros - era de US$ 9 a US$ 10,00 mais caro, e agora está em US$ 16", detalha o analista.
Este movimento tende a continuar, principalmente enquanto o Brasil seguir ampliando sua produção e garantindo um aumento de sua capacidade produtiva. No caso da soja, o Brasil já é mais competitivo para a safra nova - maio de 2024 - e para alguns meses do volume disponível ainda a ser comercializado, também.
Os produtores americanos não têm estado muito ávidos a novos negócios, e pode sofrer com pressão mais agressiva e preços mais baixos a frente.
PLANTIO NO BR X MERCADO
Na perspectiva de Eduardo Vanin, o início do plantio é tranquilo, sem grandes surpresas, apesar de alguns sinais importantes. "Um pouco atrasado em relação ao ano passado, mas vai muito bem". E este é, segundo o analista, um dos mais relevantes para o caminhar dos preços da oleaginosa. "O mais relenate é o plantio no Brasil, se vamos ter mais soja e um programa de exportações maior. E para Chicago isso não é nada bom. Já não foi bom esse ano, mas como a produção americana foi menor, o preço está tentando encontrar um equilíbrio. Pensando segundo semestre de 2024 e início de 2025, o Brasil indo melhor é o fator principal. Brasil com maior produção de soja, Chicago é baixista", diz.
MACROCENÁRIO
No macrocenário, os destaques até aqui são todos positivos e os fatores, preocupantes. Afinal, o cenário todo compromete o controle de inflação em países importantes - em especial nos consumidores e de economia emergente -, além de elevarem o custo do dinheiro. "E o custo do dinheiro está prejudicando demais os mercados agrícolas. O produtor não quer vender - isso é global - e os compradores não querem carregar. O produtor está carregando muito risco", diz.
PRÊMIOS
No quadro dos prêmios, quem dita "o ritmo da música é os EUA", diz o analista. "A logística americana está ficando mais barata, porque estão caindo os fretes rodoviários por falta de demanda, programa de exportação menor, e fretes menores das barcaças. Portanto, os EUA estão ficando um pouco mais barato agora, os prêmios estão caindo e vão cair aqui no Brasil também".
Já para o início do novo ano, a pressão sobre os prêmios já pode ser registrada, com valores que permanecem negativos para os primeiros meses de 2024. No entanto, para fevereiro o caso pode ser diferente, porque a oferta de soja para embarcar fevereiro poderia ficar mais limitada e dar algum suporte a esta referência.
"De março para frente, vai depender muito de Chicago. Se Chicago tombar de vez porque o Brasil está indo bem, etc, e o programa de exportação dos EUA continue fraco, pode ser que o prêmio aqui não caia muito. Mas o flat price - a soma de Chicago mais prêmio - não vai mudar. Se a produção brasileira for bem é daqui pra baixo. Tem que ficar atento".
CÂMBIO
Completando o quadro, há ainda a movimentação do câmbio. O dólar frente ao real vem subindo de forma considerável e "seria a ponta que eu vejo que poderia dar uma ajuda no preço ao produtor", acredita Vanin.
E lembra, no entanto, que "hoje existe uma draga sugadora de dólares que é o endividamento americano. A necessidade de dólares para atender a toda aquela montanha de dívidas que só cresce é muito grande. Portanto, se a gente olha o dólar do ponto de vista da oferta e demanda, a demanda é forte".
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