Brasil lida com carga de energia "de verão" no inverno em meio à onda de calor
Por Letícia Fucuchima
SÃO PAULO (Reuters) - As elevadas temperaturas no Brasil, intensificadas por uma onda de calor que atinge boa parte do país nesta semana, devem fazer com que a carga nacional de energia elétrica em setembro seja equivalente à registrada no verão, quando o consumo geralmente é maior pelo uso de ar-condicionados e outros equipamentos de refrigeração.
O cenário já é previsto pelo Operador Nacional de Energia Elétrica (ONS), que disse esperar uma "considerável elevação" das temperaturas entre os dias 18 e 22 de setembro nas capitais dos Estados que integram os subsistemas Sudeste/Centro-Oeste e Sul, principais centros de consumo de energia do país.
A estimativa mais atualizada do ONS para a carga de energia em setembro, mês que marca o fim do inverno, é de 74.756 megawatts-médios (MWm), patamar bem acima do normal para o período, quando o indicador costuma ficar abaixo dos 70.000 MWm, conforme dados disponibilizados pelo órgão em seu site.
Se confirmada, a carga aumentaria em mais de 5% ante o mesmo mês do ano passado, ficando próxima do alcançado em fevereiro (74.703 MWm) e março (75.759 MWm) deste ano, também pela série histórica no site do ONS.
Em resposta a questionamento da Reuters, o ONS apontou que o consumo de energia no país deve ser afetado pela mudança do cenário meteorológico nesta semana, com impacto maior do aumento das temperaturas nos subsistemas Sudeste/Centro-Oeste e Sul, enquanto nas capitais do Nordeste e Norte a tendência é de continuidade das já elevadas temperaturas.
"O calor excessivo não foi registrado apenas nesta segunda quinzena de setembro. No Brasil, as temperaturas registradas em agosto e início de setembro apresentaram valores acima da média histórica em todas as capitais", observou o ONS.
Questionado se a onda de calor desta semana exigiria alguma mudança em suas operações do sistema elétrico, o órgão afirmou que a situação já estava contemplada em seus modelos preditivos que baseiam as decisões de operação das usinas de geração e da transmissão de energia.
"O SIN (Sistema Interligado Nacional) tem uma elevada capacidade instalada de geração, assim como um sistema de transmissão capaz de levar essa geração aos centros de carga de todo país, o que viabiliza o pleno atendimento ao crescimento da demanda", ressaltou.
A carga de energia elétrica tem crescido a taxas baixas no Brasil nos últimos anos, refletindo principalmente o comportamento geral da atividade econômica. Esse desempenho, combinado à forte expansão da capacidade de geração de energia, com entrada em operação de muitas usinas renováveis, tem levado a um cenário de sobreoferta de energia no Brasil.
Para 2023, a expectativa é de que a carga cresça 3,5% em relação ao ano passado, segundo a previsão mais recente elaborada em conjunto por ONS, Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) e Empresa de Pesquisa Energética (EPE).
(Por Letícia Fucuchima)
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