Petrobras faz 1ª compra de créditos de carbono; planeja novas operações, diz diretor
Por Marta Nogueira e Fabio Teixeira
RIO DE JANEIRO (Reuters) -A Petrobras anunciou nesta terça-feira que fez sua primeira compra de créditos de carbono, em operação que marca a entrada da petroleira no mercado voluntário desses títulos, no qual planeja se tornar ativa e motivar outras companhias no Brasil, disse à Reuters o diretor executivo de Transição Energética e Sustentabilidade da empresa, Mauricio Tolmasquim.
Foram comprados 175 mil créditos de carbono do Projeto Envira Amazônia, em Feijó (AC), dedicado à preservação da floresta amazônica e ao desenvolvimento de ações em prol de comunidades da região. O valor pago na transação não foi divulgado.
O volume de créditos comprados equivale a 175 mil toneladas de gases de efeito estufa evitados e à preservação de uma área de 570 hectares da floresta amazônica, detalhou o diretor.
Em seu atual plano estratégico, que está em revisão, a petroleira previa investimentos totais de até 120 milhões de dólares em aquisição de créditos entre 2023 e 2027, mas esse montante deverá aumentar, segundo Tolmasquim.
"Esse valor (de 120 milhões de dólares) é o mínimo que a gente vai aplicar", disse o diretor, sem detalhar o crescimento, adicionando que a empresa está em um novo momento em que a prioridade com a questão de clima e com a descarbonização é maior.
Com a compra de créditos de carbono, o propósito da Petrobras é complementar sua estratégia de descarbonização, que contempla várias frentes, como redução de emissões nas operações, projetos de energias renováveis, biorrefino e captura e armazenamento de carbono (CCS).
PROJETO ENVIRA
Entre as empresas que retiraram créditos do projeto Envira estão a Delta Airlines e a Japan Petroleum Exploration Company, segundo dados da certificadora Verra, que é a maior do mercado voluntário de carbono no mundo.
O projeto teve início em agosto de 2012 e protege cerca de 39 mil hectares de florestas no Estado do Acre.
A área abriga uma comunidade ribeirinha. O projeto proporcionou aos membros da comunidade serviços de saúde e dentários, formação em extensão agrícola e oportunidades de emprego, segundo relatório de monitoramento do projeto para o período 2019-2021.
Tolmasquim explicou que a petroleira decidiu não publicar os valores de compra, uma vez que irá buscar novas operações e os preços poderiam influenciar negociações.
Questionado se a Petrobras poderia olhar oportunidades na compra de Cbios -- títulos emitidos por produtores de biocombustíveis e geralmente comprados por distribuidoras de combustíveis --, Tolmasquim não descartou, mas pontuou que a prioridade será adquirir créditos de base natural, gerados no Brasil e de alta qualidade, que contribuam para a conservação e recuperação dos biomas brasileiros.
"O Brasil tem caminho enorme para fazer isso, porque ao contrário de outros países do mundo, o foco do problema de emissões do Brasil é o desmatamento, geralmente em outros países é o setor energético", afirmou Tolmasquim.
"A Petrobras entrando ali está agindo no foco principal do problema climático e do problema de emissões do Brasil."
A entrada da Petrobras no mercado de carbono é um bom sinal, mas o valor comprado ainda é baixo para uma empresa do porte da Petrobras, disse Gustavo Pinheiro, coordenador do Instituto Clima e Sociedade (iCS), uma organização sem fins lucrativos com sede no Rio de Janeiro.
O valor gasto na transação foi provavelmente inferior a 1 milhão de dólares, disse Pinheiro.
"Não é nada comparado ao que eles pretendem gastar."
(Reportagem adicional de Alberto Alerigi Jr. e Letícia Fucuchima; edição de Roberto Samora)
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