Conversão alimentar e aumento no ganho de peso de suínos em terminação é possível mesmo sem ractopamina
A alimentação dos animais quando se fala em suinocultura representa a maior cota na cesta de custos de produção. Conforme informações da Embrapa Suínos e Aves referente a julho deste ano, a alimentação dos suínos representou 73,24% do total de custos. De acordo com Anália Ribeiro da Silva, nutricionista de suínos da Agroceres Multimix, “a gestão do consumo é extremamente importante, tanto do ponto de vista zootécnico quanto do ponto de vista econômico”.
Dentro do espectro da alimentação na suinocultura, em uma granja de ciclo completo, é na recria e na terminação que estão compreendidos os maiores volumes de ração consumidos. Anália pontua que, somadas, estas duas fases de desenvolvimento dos animais representam pouco mais de ¾ de toda ração que é utilizada na granja.
O gerenciamento das informações do volume de ração que está sendo oferecido aos animais, quanto de fato é consumido e de que forma os suínos estão aproveitando os nutrientes contidos na formulação, é essencial, conforme a especialista.
Felipe Norberto Alves Ferreira, também nutricionista da área de suínos da companhia, detalha que existe a necessidade de pesquisa criteriosa para a determinação de qual tipo de alimentação é adequada a cada tipo de animal e em qual fase.
“As linhas de pesquisa se dividem entre desenvolvimento de novos produtos, melhorias de produtos e ingredientes, orientações técnicas e nutricionais, desenvolvimento de conceitos nutricionais”, detalhou.
Neste sentido, a pesquisa e aplicada para a criação de soluções que tragam eficiência na conversão alimentar do animal, além de evitar desperdícios.
Nesta terça-feira (29), a Agroceres Multimix apresentou o agLean em um evento realizado em Campinas, São Paulo, para suinocultores de várias partes do país.
O produto é um blend para ser usado na fase de terminação do suíno, após ele atingir o Pdmax, valor máximo de deposição de proteína, quando a eficiência de conversão do animal diminui. “Ele mantém a taxa de ganho, que é prolongada e sem ter variação na quantidade de ração ofertada, gerando maior eficiência de conversão alimentar”, explicou Anália, destacando a oportunidade na redução dos custos com a nutrição do animal.
Para Ricardo Ribeiral, diretor da Agroceres Multimix, produtos como ractopamina e promotores de crescimento estão com os dias contados. “Em cima disso, a gente já vem fazendo investimentos há bastante tempo no desenvolvimento de alternativas. Chegamos a um produto que não alcança o resultado da ractopamina, mas se aproxima e ganha em grupo de controle. Consequentemente, temos ganho de eficiência na conversão alimentar, o que se torna ainda mais interessante em um ambiente de custos altos e preços baixos (do suínos)”, afirmou.
BLEND É NOVIDADE PARA PROMOVER CRESCIMENTO SEM RACTOPAMINA
Focando na terminação dos suínos, onde se concentra o maior consumo de ração e a necessidade de ganho de peso de forma direcionada (mais músculos do que gordura no corpo do animal), surgiu a demanda da criação de uma alternativa.
Francisco Pereira, gerente técnico e nutricionista da Agroceres Multimix, explica que o agLean é um blend que, quando adicionado às rações dos animais em fase de terminação (28 dias pré-abate), pode trazer diferenças. Uma delas é a melhora de cerca de 15% na conversão alimentar nos animais durante este período.
“O agLean nasceu para atender um mercado que decidiu produzir uma carne isenta de beta adrenérgicos. Alguns países, como China e membros da União Europeia, não compram carne de animal que tenha sido alimentado com uso de ractopamina pelo risco de resíduo na carne”, explicou.
Pereira destaca que, quando o animal chega em um certo ponto na terminação, ele começa a acumular mais gordura do que músculo, em uma espécie de platô que é o valor máximo de deposição de proteína.
“Quando o animal é mais jovem, ele tem mais músculo, mas chega um momento em que há uma mudança em que ele começa a acumular mais gordura e perde a conversão alimentar. Para depositar proteína, a cada grama de proteína, ele deposita 4 partes de água, e quando ele deposita gordura, é praticamente apenas gordura. Ele gasta muitos recursos para depositar toucinho, e a gente sabe que o mercado não aceita animais com grande teor de gordura”, explica Pereira.
Ainda conforme a explicação do especialista, a ractopamina também é indicada para utilização nos 28 dias antes do abate do animal. Comparando as duas alternativas (ractopamina e agLean), a primeira promove um aumento de peso entre 3,5kg a 4kg, e o agLean, cerca de 2,3kg.
“Chegamos em um produto que podemos considerar que atinge 60% da eficácia da ractopamina. Ainda não chegamos no objetivo final, mas estamos a 60% de uma coisa que é fantástica (a ractopamina), e nós não paramos ainda”, afirma o nutricionista sobre a constante busca pela evolução no produto.
SETOR PRODUTIVO DE OLHO NA NOVIDADE
Jair Miguel Maule, do Grupo Hoepers Maule, de Santa Rita do Trivelato, no Mato Grosso, é suinocultor e comercializa os animais na modalidade independente. Ele explica que a alguns anos o setor passa por bastante dificuldade em relação aos custos de produção, então há a busca por produtos que possam ajudar na remuneração do produtor.
“A gente tenta buscar uma redução no custo de ração, que equivale a 70% do nosso custo de produção, e um ganho de peso no animal para termos um maior faturamento na venda”, disse.
Maule aponta que a novidade é vista com bons olhos, como uma chance de que possa proporcionar bons resultados no futuro. “O Brasil produz muita carne, e uma maneira de tirar estes estoques do nosso país é por meio da exportação, encontrando e ampliando mercados. O uso de ractopamina é restrito em muitos países, então por que não o Brasil entrar nessa situação de produzir uma carne com boas condições e com ampla aceitação no mercado externo? Quanto mais a gente conseguir exportar, mais a gente pode melhorar os preços aqui dentro, e este produto é um dos caminhos”, detalhou.
RACTOPAMINA BANIDA NO CHILE
Vicky Sará, que é gerente de produtos para a área de nutrição animal da Novagri, no Chile, explica que a produção suinícola chilena é proibida de utilizar a ractopamina, seja para a produção de carne vendida no mercado interno quanto para a que é exportada.
“No Chile não se usa ractopamina, e para nós é muito interessante um produto como o agLean porque vem a substituir a ractopamina. Não há nada que se possa usar para o ganho de peso na última etapa de desenvolvimento dos animais antes do abate”.
Ela explica que a Novagri deve levar um lote inicial do agLean para o Chile e realizar testes em uma granja piloto para, então, passar a comercializá-lo no país. Segundo Vicky, o registro do aditivo junto às autoridades sanitárias chilenas já foi realizado e aprovado.
“Para mim é muito importante estar no Brasil para entender mais sobre o produto para poder levar as informações a respeito para lançar o produto no Chile”.
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