Trigo testa limite de alta nesta 2ª em Chicago, mais uma vez, com mais estruturas ucranianas atacadas
Com mais notícias e inúmeras incertezas que vão crescendo e se agravando, o mercado do trigo fechou a primeira sessão desta semana com novas e fortes altas entre as posições mais negociadas na Bolsa Chicago. O vencimento setembro subiu 8,6% para encerrar esta segunda-feira (24) com US$ 7,57 e o dezembro 8,36% para US$ 7,77 por bushel. O movimento intenso de avanço dos preços - que chegaram, mais uma vez, a bater no limite de altas - seguem respondendo à escalada do conflito entre Rússia e Ucrânia.
Terminais na principal rota alternativa da Ucrânia, no rio Danúbio, para o escoamento de seus produtos agrícolas - em especial, grãos - foram atacados na noite deste domingo (23) e muitas estruturas, como mostram as imagens abaixo, ficaram danificadas e inviabilizadas. Segundo informações que partem do Ministério da Defesa da Ucrânia, a infraestrutura do porto de Reni foi danificada, de acordo com o que informa a Agrinvest Commodities, causando também danos a contêineres do grupo Maersk.
As informações que puderam ser apuradas até este momento dão conta de que foram cerca de quatro horas de ataques por drones nos terminais do rio Danúbio, alguns silos destruídos e pelo menos um navio atingido e tudo isso bem próximo da fronteira com a Romênia que, lembrando, é um membro da OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte), outro ponto frágil entre os dois países em guerra.
Dessa forma, a Agrinvest lembra ainda que, mesmo que os pleitos russos fossem atendidos e o acordo para o corredor fosse retomado, as operações ainda permaneceriam limitadas em função dos severos danos causados pelos recentes ataques às estruturas portuárias, em especial nos portos de Odessa e Mykolaiv.
O mapa abaixo, divulgado pelo analista internacional Andrey Sizov, da consultoria SovEcon em seu perfil no Twitter, mostra a localização dos portos e terminais que têm sido atacados e a proximidade com a fronteira entre Ucrânia e Romênia, um dos principais pontos de preocupação da escalada do conflito.
Ele compartilhou ainda um vídeo que mostra centenas de caminhões de grãos parados nas proximidades do terminal de Reni, o qual foi atacado na noite passada, mostrando parte dos estragos causados.
Hundreds of #grain trucks are stuck near Reni, one of the Ukrainian terminals that were attacked last night.#wheat #corn #oatt pic.twitter.com/PU8DdFk1sc
— Andrey Sizov (@sizov_andre) July 24, 2023
Não bastando as informações do conflito, o mercado do trigo responde ainda às adversidade climáticas que agora acometem as lavouras do cereal em importantes regiões produtoras do Hemisfério Norte, com tempo quente e seco. "O trigo 2023/24 do Hemisfério Norte já está em início da fase de colheita, mas com temperaturas elevadas e sem chuvas. Assim, não está descartado que o USDA possa realizar um novo corte para agosto, apertando ainda mais os estoques globais de trigo", explicam os especialistas da consultoria.
MERCADO BRASILEIRO
No Brasil, o mercado do trigo permanece cauteloso e na defensiva. As notícias são acompanhadas muito de perto, porém, sem causar grandes impactos nos preços ou nos negócios, diferente de como ganhos ou perdas nas bolsas internacionais chegam a preços brasileiros de soja ou milho, por exemplo. A última semana terminou como começa esta, e com um ganho em Chicago de mais de 10% na Bolsa de Chicago, sem impactos consideráveis para a formação de preços no mercado nacional.
"No mercado interno, os agentes acompanham de perto, porém, até o momento, sem grandes mudanças na postura. Os compradores, especialmente no Paraná, contam com a proximidade de uma safra cheia e que transcorre sem grandes problemas", explica Élcio Bento, analista da Safras & Mercado. "Além disso, existem reportes de vendas de trigo da safra velha paraguaia a US$ 280/tonelada CIF moinhos (cerca de R$ 1.325/tonelada ao câmbio de hoje). Apesar de serem volumes pequenos, servem de argumento para que os moinhos achatem suas ofertas. A indicação para trigo paranaense no CIF fica entre R$ 1.460 e R$ 1.500 a tonelada. O produtor paranaense segue pedindo entre R$ 1.480/1500 no FOB. No Rio Grande do Sul o produtor segue pedindo R$ 1.300/tonelada e o moinho indica cerca de R$ 1.300/tonelada".
Com isso, a análise de Bento para o final da semana passada sobre o atual momento do mercado nacional segue válida. "Estamos no meio, em uma zona morta entre a paridade de exportação e de importação. E o mercado não se mexe muito porque os moinhos estão abastecidos, olham a safra que está chegando e ficam na defensiva. O produtor chegou a ficar um pouco mais animado com essa alta no mercado internacional e elevou suas pedidas, mas não teve demanda".
O especialista complementa dizendo que, no entanto, "ainda não podemos dizer que estamos imunes a esta situação, que é uma situação de incerteza externa. No Brasil, porém, estamos nos avizinhando de uma colheita de uma safra e até agora, os primeiros lotes de que temos notícias que estarão prontos no Paraná, especialmente em agosto são de trigo de excelente qualidade. Claro que o clima, para frente, pode sempre preocupar, mas não teria porque essa 'bagunça externa' elevar nossas cotações se agora os compradores estão abastecidos, o produtor não precisa necessariamente vender - então isso também quer não quer dizer que os preços vão cair - e nessa situação de lentidão do mercado, os preços não responderam ao mercado.
0 comentário
IGC reduz previsão de safra global de trigo 24/25 por colheita menor na UE
Moinhos de farinha enfrentam problemas de abastecimento com produtores de trigo controlando estoques
Trigo atinge máxima de uma semana com tensões no Mar Negro; soja cai com safra do Brasil
Trigo/Cepea: Cotações se estabilizam no BR
Produção de trigo em SC: estimativa de aumento de 40,8% na safra 2024/2025
Preços do trigo da UE caem por concorrência do Mar Negro