Estaleiros anseiam por contratações da Petrobras após promessas de Lula
Por Marta Nogueira
RIO DE JANEIRO (Reuters) - O Sinaval, que representa a indústria naval brasileira, prepara-se para apresentar ao governo federal neste mês um estudo com um panorama atual do setor e sugestões para uma retomada do segmento no país, motivado por promessas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
No documento, os estaleiros poderão defender mudanças na política de contratação da Petrobras e outras medidas estruturais que permitam que o Brasil volte a construir grandes embarcações, como plataformas de petróleo, disse à Reuters o secretário-executivo do Sinaval, Sergio Leal.
"Estamos cheios de esperança outra vez, cheios de expectativa. Se o governo quiser mesmo fazer isso, ele vai contar com nossa colaboração, ajuda, sugestões, para que a indústria volte a funcionar", disse Leal, destacando ainda ver novas oportunidades no horizonte, com o potencial desenvolvimento de uma indústria de energia eólica marítima no país e o descomissionamento de plataformas.
O secretário-executivo evitou dar detalhes sobre o documento que será apresentado, mas adiantou que o Sinaval defende o relançamento de programas de estímulo a construções de navios, como de apoio, aliviadores, petroleiros, gaseiros, além de incrementos na política de conteúdo local, que foi bastante flexibilizada nos últimos anos.
Leal também destacou a necessidade de se olhar a carga tributária e legislações que impactam o setor, além de custos e qualificação de mão de obra.
"Nossa indústria tem que voltar a ser importante, mas precisa ter política pública, política de Estado... a gente não pode ter um sistema de que a cada quatro ou oito anos a regra do jogo muda", ressaltou.
O segmento, segundo o representante do Sinaval, tem "sobrevivido" bem abaixo de sua capacidade instalada, com 20 mil empregados, enquanto grandes estaleiros se ocupam de pequenas obras e reparos, e até mesmo servindo como espécie de terminais portuários, com transbordo de cargas.
O setor chegou a empregar 80 mil funcionários no fim de 2014, antes que se iniciasse grande declínio com a deflagração da operação Lava Lato, que apontou diversos esquemas de corrupção envolvendo obras da Petrobras e culminou com a transferência de construções de plataformas para fora do Brasil e mudanças nas políticas de contratação da petroleira estatal.
EXPECTATIVAS COM PETROBRAS
Leal pontuou que a Petrobras atualmente tem optado por afretar navios ou então contratar de maneira integrada, dependendo do projeto, dando pouca chance para que estaleiros brasileiros consigam concorrer por novos contratos.
"O modelo hoje é feito só para estrangeiro pegar, não tem como fazer aqui no Brasil", afirmou o secretário-executivo do Sinaval, defendendo que novos projetos de plataformas de petróleo sejam divididos como no passado, permitindo que partes das plataformas sejam construídas e até montadas no país.
"Fazendo algumas mudanças nos modelos de contratação, a gente pode ter oportunidades que hoje não tem. Mas a gente não pode se conformar com a ideia de que as plataformas que ainda vão ser encomendadas, sejam encomendadas lá fora... Ou então vai continuar o que aconteceu nos últimos oito, dez anos: a gente fica de fora e deixa os empregos todos migrarem para Coreia, Japão, China, Cingapura."
O presidente Lula tem prometido desde a campanha em seus discursos uma retomada da indústria naval e das contratações da Petrobras e de sua subsidiária Transpetro no país, mas nenhuma decisão neste sentido foi tomada até o momento.
Leal ponderou que, depois de longo período de declínio, não tem como "estalar os dedos e ter tudo construído" e destacou que o diálogo com a Petrobras deverá ter início agora, "a partir de abril, quando o presidente da Petrobras (Jean Paul Prates) sentar na cadeira definitivamente".
Prates tomou posse em janeiro, mas terá seu nome confirmado em assembleia no próximo dia 27, juntamente com a eleição dos novos conselheiros indicados pelo novo governo, completando assim a renovação de toda alta cúpula da empresa, processo que deverá abrir caminho para que o CEO comece a colocar em prática mudanças estratégicas prometidas.
Leal pontuou ainda que "o Sinaval não tem pretensão de frear nenhuma iniciativa da Petrobras".
"Ela tem que dar continuidade aos planos dela, a gente tem que ter bom senso de ir trabalhando com a Petrobras e fazendo a transição para que a gente participe com mais frequência, com mais força, mais volume, das contratações futuras, mas nada rigoroso."
Prates reiterou no mês passado a jornalistas que "o presidente Lula deseja muito ver esse setor reerguido", e que a petroleira irá participar disso "ativamente", mas que sozinha não será possível. Ele também defendeu a realização de políticas públicas que permitam o avanço.
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