Tentativa de politizar processo do Copom preocupa diretores do BC, diz Campos Neto
Por Fabrício de Castro
SÃO PAULO, 5 Abr (Reuters) - O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse nesta quarta-feira que tentativas de politizar o processo de decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) deixam os diretores da autarquia "bem preocupados".
Em evento do Bradesco BBI, Campos Neto disse que o processo de decisão do Copom é "totalmente técnico" e que o mais relevante para os diretores que compõem o colegiado é ter capacidade técnica para desempenhar aquela função.
Os comentários vieram em meio a críticas recorrentes do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à condução da política monetária por parte do BC, com grande pressão de Lula pela redução da taxa Selic, atualmente em 13,75% ao ano.
"A tentativa de politizar um processo que é totalmente técnico, isso é uma coisa que deixa os funcionários da casa e os diretores de uma forma geral bem preocupados", disse Campos Neto, defendendo a autonomia não apenas dele, mas dos outros diretores do BC em se manifestarem sobre a economia.
"Tem milhares de pessoas, diretores da casa, que sabem que passam a noite rodando modelos, fazendo toda a parte de estimativa, de projeção... Não tem nada na decisão que é política, é sempre técnica", disse Campos Neto.
"A ata, para quem segue a ata e o comunicado, é uma sequência de comunicados que quem analisa isso observa a mudança nas palavras e nas expressões através do tempo, então, não tem nada ali que uma pessoa possa chegar e ler um comunicado e falar que 'foi isso ou foi aquilo'. É uma coisa que requer um pouco mais de ciência, e é a forma do Banco Central se comunicar", disse o presidente da autoridade monetária.
Segundo Campos Neto, o BC tem tentado ser mais transparente, mas ele disse que sua impressão é que o Brasil se encaminhe para um sistema mais parecido com o dos Estados Unidos, em que os diretores do BC vão se comunicar mais e dizer suas opiniões, algo que o presidente da autarquia considera como "importante".
"Personalizar em uma pessoa é muito ruim, isso tem acontecido mais recentemente e eu acho ruim... e buscamos espelhar sempre no comunicado exatamente aquilo que foi discutido", afirmou.
Campos Neto também disse que é preciso reconhecer o esforço do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, para reduzir os riscos fiscais do país com a apresentação do novo arcabouço para as contas públicas. Mas ele ponderou que não existe uma relação mecânica entre uma melhora fiscal e reduções nas taxas de juros.
Questionado sobre o panorama para a indústria bancária após as crises com colapsos de bancos médios nos Estados Unidos e do Credit Suisse na Europa, Campos Neto afirmou que o efeito dessas turbulências será que o crédito vai desacelerar nas economias desenvolvidas, mas disse que o sistema brasileiro tem muito mais salvaguardas que ajudam a evitar uma contaminação.
Segundo ele, porém, o BC está preocupado no Brasil com o setor de pessoa física para produto mais emergencial, como o cartão de crédito.
(Por Fabrício de Castro; reportagem adicional de Luana Maria Benedito; texto de Alberto Alerigi Jr., edição de Pedro Fonseca)
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