Chuvas na Argentina deverão favorecer recuperação apenas às lavouras plantadas mais tarde
Chouveu na Argentina? Como foram essas chuvas? Quanto choveu? Estas são as perguntas que o mercado da soja mais tem se feito nos últimos dias desde as boas precipitações do final de semana. Mais do que isso, os players querem saber: Vai voltar a chover? Em quanto podem se recuperar as lavouras de soja e milho? As respostas, sem dúvida, continuarão a ter impactos sobre o andamentos dos preços, mas seus efeitos ainda são incertos, como explicam analistas e consultores de mercado.
"Não é segredo que a safra argentina passa por um momento muito ruim neste ciclo. No entanto, uma das consequências do atraso nas safras é que ainda pode haver tempo para evitar perdas maiores. Com isso não queremos dizer que a colheita pode ser boa, isso já é passado. No entanto, as chuvas recentes têm ajudado e o NDVI melhorou nos departamentos do sul", informa a hEDGEpoint Global Markets.
O ponto de convergência dos especialistas agora é de que há uma quebra definida. Há mais locais no país com perdas irreversíveis do que o contrário. O que se espera entender deste ponto em diante é qual será o tamanho dessa baixa na oferta e o quanto disso será compensado por outras origens.
"O calor na Argentina vai continuar, apesar das chuvas previstas. O modelo europeu continua mostrando boas chuvas entre os dias 26 e 28. Porém, não há consenso se as lavouras têm capacidade de recuperação", afirma a equipe da Agrinvest Commodities. Assim, olhos todos voltados aos mapas climáticos e à reação dos campos argentinos.
Segundo o INTA (Instituto Nacional de Tecnologia Agropecuária), estão previstas chuvas e tormentas de intensidades variadas nos próximos seis dias na Argentina e de forma irregular na distribuição. As ocorrências dos próximos dias, inclusive, poderiam ser tão intensas que poderiam registrar a queda de granizo, além das temperaturas ainda elevadas, podendo alcançar os 40ºC já nesta terça-feira.
Na sequência, entre quinta e sexta-feira, o calor pode se intensificar e superar os 42ºC, com a manutenção do tempo quente e úmido. No mesmo período, uma nova frente fria poderia avançar sobre o centro e extremo norte do país, provocando mais chuvas, porém, também irregulares.
"Para os próximos 14 dias, se prevêem chuvas e tormentas de intesidades variadas sobre a maior parte do centro e norte do país. Alguns déficits podem ser importantes sobre regiões que sofrem com déficit hídrico", diz o INTA.
Assim, algumas respostas começam a aparecer para o mercado. As chuvas chegaram, continuarão a chegar, porém ainda insuficientes para reverter de forma substancial as perdas no campo, como mostra o boletim da ORA (Oficina de Risco Agropecuário) da Argentina. Afinal, áreas como as do centro-sul de de Santa Fé, sudeste de Córdoba e parte do norte de Buenos Aires, além de grande parte de Entre Rios, seguem sobre forte influência da estiagem.
O mapa abaixo, divulgado pela ORA, mostra que ainda é crítica a situação das reservas hídricas do solo em áreas de produção de soja - em especial naquelas onde o plantio aconteceu mais cedo - o que mantém os alertas para as condições do cultivo. Somente em regiões como o noroeste de Buenos Aires e o noroeste de La Pampa houve uma mudança de condição nas lavouras da oleaginosa, com uma melhora depois das chuvas.
Para a soja semeada mais tarde - a chamada 'soja de segunda' - as condições, ainda de acordo com o órgão, são melhores e se beneficiam mais das últimas chuvas e poderão responder melhor às próximas.
Ainda assim e apesar do que ainda pode mudar, em seu último boletim, a Bolsa de Comércio de Rosário estima que já há uma perda projetada na safra de soja de, pelo menos, 25% e estima uma produção de 37 milhões de toneladas. Em relação ao número de dezembo, o número é 12 milhões de toneladas menor. A bolsa classificou este momento como a safra "passando pela pior seca em 60 anos".
"As expectativas de produtores e técnicos já estão voltadas para a previsão de chuvas para os próximos dias, o que pode indicar uma regularização do regime de chuvas e o início do fim do fenômeno Niña que ocorre na região dos Pampas há três anos", afirmam os especialistas da ORA ouvido pelo jornal argentino La Nacion.
Do mesmo modo, para o milho "do cedo", plantado antes, o sofrimento é maior. As reservas hídricas do solo nas áreas de produção são baixas e limitadas e as chuvas são insuficientes para mudar esse cenário. Por conta da seca, as estimativas atuais apontam uma redução de área de 7,8% no plantio do cereal, chegando a 7,1 milhões de hectares.
A média das chuvas para a Zona Núcleo da Argentina é de 900 a 1050 milímetros e em 2022 apenas 50% desta média foi registrada. Assim, de acordo com o Sissa (Sistema de Informação sobre Secas para o Sul da América do Sul), quase 55% dos solos do território nacional estão sendo afetados pela falta de chuvas e sofrendo com o estresse hídrico.
Agora, as principais expectativas são sobre o fim do La Niña, já que este é o terceiro consecutivo a atingir o país, provocando perdas históricas na produção agropecuária local. Em uma matéria no portal argentino La Voz, especialistas afirmaram que o fenômeno climático deve começar a perder força a partir de fevereiro, dando espaço, de acordo com alguns modelos, para a possibilidade de um El Niño a partir do segundo semestre deste ano.
"Não será de uma hora para outra. O processo de transição é lento, com os efeitos negativos ainda sendo sentidos no verão de 2023, o que continua a exigir dos produtores rurais um manejo rigoroso, um planejamento eficiente e o uso racional das tecnologias disponíveis para amenizar os efeitos da estiagem", disse Eduardo Sierra, afirmou o engenheiro agrônomo especialista em clima ao La Voz.
Com informações do InfoCampo, La Nacion e La Voz.
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Luan Henrique Guimarães do Nascimento Taquarituba - SP
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