Dólar reduz avanço e fecha em leve alta de olho em falas de Lula
Por Andre Romani
SÃO PAULO (Reuters) - O dólar avançou nesta quinta-feira ante o real, ainda que tenha reduzido grande parte dos ganhos durante a tarde, novamente com reação negativa dos agentes financeiros a declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e diante do fortalecimento da moeda norte-americana frente a divisas emergentes.
Lula criticou o patamar atual de juros, a independência do Banco Central (BC) e a meta de inflação em vigor, e voltou a preocupar agentes financeiros sobre a pauta fiscal.
O dólar à vista subiu 0,23%, a 5,1733 reais na venda, maior nível de fechamento desde o dia 11 de janeiro (5,1813 reais). O dólar chegou a subir mais de 1% no início do dia.
"É uma bobagem achar que (o BC independente) vai fazer mais do que quando o presidente indicava", disse Lula à Globo News na véspera após o fechamento do mercado de câmbio, acrescentando que, mesmo com BC independente, os juros e a inflação continuam altos.
O presidente também afirmou que a meta de inflação obriga o BC a "arrochar" a economia para cumpri-la e sugeriu um teto maior.
Adauto Lima, economista-chefe da Western Asset, disse que o dólar foi impactado pelo tom geral das declarações de Lula, que, entre outras coisas, também questionou a atual meta de inflação, e por movimento no exterior.
"Eu ainda acho que (a independência do BC) não vá ser revertida", afirmou o economista. Mas a fala "trás uma preocupação", segundo ele.
Durante a campanha, Lula afirmou por mais de uma vez que não pretendia propor, ao menos inicialmente, uma legislação que revertesse a autonomia do BC, sancionada em 2021 após aprovação no Congresso, e que estabeleceu que mandatos de diretores e do presidente da autarquia não coincidam com do presidente da República.
Na tarde desta quinta, o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, afirmou que não há "nenhuma predisposição" do governo de fazer qualquer mudança na relação com o BC, segundo publicação no Twitter. O movimento de melhora do real ganhou impulso pouco após a afirmação e em meio à perda de força do dólar no exterior.
Sobre a meta de inflação, Lima, da Western, disse que Lula tem "legitimidade" para querer aumentá-la. "Mas agora como ele convenceria os membros para votarem pelo aumento, seria uma questão para ver", afirmou. As metas são definidas pelo Conselho Monetário Nacional, formado pelo presidente do BC e os chefes das pastas da Fazenda e do Planejamento.
Após a entrevista na véspera, Lula fez novas críticas nesta quinta-feira ao patamar de juros e reclamou que ninguém aborda a questão da dívida social, mas que há desconfiança quando se fala em investimentos nessa área.
As declarações ocorrem após Lula indicar mudanças no salário mínimo e no Imposto de Renda na tarde de quarta-feira, o que pesou sobre o câmbio local na ocasião. Além disso, levantam dúvidas entre os agentes financeiros sobre o alinhamento da pasta da Fazenda e o presidente.
"Curva de juros volta a estressar na abertura, após ruído político envolvendo a independência do Banco Central, mas devolvem parte da alta durante o dia ---o que favoreceu a disposição ao risco em alguns setores (na bolsa), bem como o recuo do dólar durante o pregão", disse Leandro De Checchi, analista de investimentos da Clear, em nota.
Na frente externa, o dólar recuava cerca de 0,30% ante uma cesta de moedas fortes, em dia que o Banco Central Europeu rebateu apostas do mercado de que desacelerará o ritmo de seus aumentos de juros. No entanto, a moeda-norte-americana apontava ganhos frente a alguns dos principais pares emergentes do real, como o peso mexicano e o rand sul-africano.
Uma série de dados nesta semana mostrou desaceleração na economia dos EUA e sinais de arrefecimento da inflação na esteira de vários aumentos de juros pelo Federal Reserve (Fed), o que pode indicar potencial postura menos agressiva do banco central norte-americano na política monetária.
Ainda assim, alguns membros do Fed deram declarações apontando para uma taxa no final de ciclo mais alta do que o mercado precificava.
Nesse sentido, investidores buscaram mais pistas nesta quinta-feira sobre até onde deve ir o aumento de juros nos EUA e quais podem ser seus impactos na economia. Dados de auxílio-desemprego mostraram um mercado de trabalho rígido, e a vice-chair do Fed, Lael Brainard, disse que a instituição ainda está "sondando" o nível da taxa de juros que será adequada para domar a inflação.
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