Cooxupé: Apesar da incerteza com a safra, café recuou 47% em 2022; reação pode acontecer entre janeiro e fevereiro
O café, por características próprias, é um dos mercados que mais apresentam volatilidade entre as commodities agrícolas. Neste ano, com desafios que continuaram do campo à xícara, o produtor viu uma oscilação ainda mais significativa e os preços recuaram de forma significativa, apesar das incertezas em relação ao tamanho da produção brasileira.
Nos últimos 12 meses o contrato referência na Bolsa de Nova York (ICE Future US), março/23 recuou 47%. A análise é de Lúcio Dias, superintendente comercial da Cooxupé e foi publicada recentemente no Hub do Café e considera o período entre novembro de 2021 e novembro de 2022.
Segundo o analista, a queda significativa é justificada com o mercado se antecipando aos fatos. Reconhece que a safra brasileira foi menor, respondendo as adversidades climáticas dos últimos anos, além de pontuar que os contratos presentes, em boa parte do ano, permaneceram mais caros que os mercados futuros.
"Isso significa, sobretudo, que os grandes participantes do mercado de cafés, como fundos de investimentos e grandes “dealers”, que compram café físico e fazem hedge nas Bolsas, conseguiam pagar os juros e as despesas de armazenagem.E, ainda, obtinham um resultado, ficando com uma operação ruim em suas posições", explica.
Os estoques também ganharam destaque especial durante 2022. Segundo Lúcio, todo o estoque que estava nas mãos do mercado financeiro e comercial, trouxe um novo problema: com a inversão nos preços, não foi possível cobrir os custos financeiros e de armazenagem destes estoques.
"Então, o que aconteceu? Eles foram atrás de quem podia comprar para se verem livres de prejuízos. Assim, as cotações foram caindo cada vez mais. Apesar de termos uma safra pequena, os detentores de café entraram no mercado e as cotações caíram muito", destaca a análise.
Vale lembrar que além das condições climáticas e a produção mais baixa no Brasil, a guerra entre Rússia e Ucrânia, os reflexos ainda sentidos da Covid-19 e a recessão global trouxeram ainda mais volatilidade e pressão para os preços de café.
"O café foi decaindo ao longo do ano. E, apesar de uma série de fatores, entraram em campo os estoques desses grandes compradores. Nesse meio tempo, até os estoques certificados pela Bolsa de NY foram subindo", afirma.
Em relação aos cafés certificados, Lúcio destaca a participação do Brasil e de Honduras neste montante. Segundo ele, a alta significa que o torrador comprou nessas origens, não tinha para quem vender, vendeu e certificou na Bolsa.
Pelo menos desde outubro as negociações para o mercado de café estão mais lentas. Ainda sem saber o potencial para a safra do ano que vem, o produtor fecha negócio a medida que precisa fazer caixa e também aguarda uma recuperação mais significativas nos preços.
Para Lúcio, no entanto, a valorização nos preços pode acontecer, mas não de forma tão rápida, e com tendência de alguma reação entre os meses de janeiro e fevereiro. Até lá, o produtor precisa estar atento não só as condições das lavouras, mas também no cenário macro, que devem continuar ditando o ritmo dos preços.
"Mas, sempre argumentamos que os produtores precisam saber a hora certa de negociar e estarem atentos ao mercado externo. Inclusive, no final do ano passado, falamos muito sobre isso. O produtor precisa saber a hora certa de negociar e vender quando o mercado estiver bom. Acima de tudo, cabe a ele saber o momento ideal", afirma.
Logística: Primeiro semestre foi caótico, mas 2022 termina com melhora
Nos últimos dois anos, também reflexo da Covid-19, todos os setores sentiram os impactos da crise logística. A falta de contêineres e a alta nos fretes marítimos atingiram também o mercado de café. "O primeiro semestre de 2022 foi caótico. Mas, agora está se normalizando e estamos conseguindo cumprir todos os compromissos", afirma.
Segundo Lúcio, em 2022 a cooperativa observou uma melhora em relação ao ano passado. Mas, ainda assim, no mês de novembro a Cooxupé teve um grande embarque cancelado. "O contêiner que estava programado para a cooperativa acabou atendendo a quem pagou mais. Analogamente, é como se fosse uma espécie de leilão. E quem paga mais, ganha!", afirma.
Segundo a cooperativa, neste caso em específico, o setor de madeira que vende lenha para a Europa pagou mais pelo espaço e impediu o embarque de café. "Isso porque devido à crise do petróleo, os europeus passaram a comprar madeira picada para solucionarem o problema e terem nas casas durante o inverno para geração de calor e de energia", finaliza.
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