Alysson Paolinelli, o patrono da agricultura tropical, por Xico Graziano
Quem é o maior brasileiro vivo?
Não se trata de uma escolha fácil. Para o agro, porém, existe uma unanimidade: ela responde pelo nome de Alysson Paolinelli.
Mineiro, 86 anos, Paolinelli é o melhor ministro da Agricultura que o Brasil já teve. Durante seu período, entre 1974 e 1979, no governo militar de Ernesto Geisel, ocorreu a virada de chave da agropecuária brasileira.
Naquela época se iniciou o processo de modernização tecnológica que iria transformar a velha agricultura latifundiária do país. Paolinelli estava no comando de uma verdadeira revolução. Foi quando se criou a Embrapa.
Até os anos de 1970, o Brasil praticava uma agricultura incipiente, baseada em conhecimento importado, gerado na Europa e nos EUA. Tudo mudou desde então. Hoje, se implementa um modelo próprio de produção rural, uma agropecuária altamente produtiva, adaptada às condições tropicais e subtropicais do país.
Paolinelli fez da ocupação agropecuária do cerrado sua grande obra. Chamava-se PoloCentro o projeto pioneiro. Tecnologia e ousadia o marcavam. A fronteira do Centro-Oeste era tida como imprestável, devido aos seus solos ácidos, arenosos e áridos. Em 30 anos, tornou-se a região mais pujante do agro nacional.
O Brasil de antigamente dependia de importações de comida para satisfazer ao povo. Até leite vinha do exterior. Agora, produz o suficiente para atender ao mercado interno e rende excedentes, exportados para cerca de 160 países. Em 10 anos, o Brasil se tornará a maior nação agropecuária do mundo.
“Quando assumi o Ministério da Agricultura, em 1974, o frango era uma proteína reservada à elite. O consumo per capita nacional era de apenas 3,5 kg por ano. Hoje, os brasileiros, em média, comem 45 kg de carne de frango a cada ano.”
Esse testemunho de Paolinelli ocorreu em evento recente, realizado em sua homenagem na Fiesp. Seu brilhante discurso é digno de sua fama. A modernização do agro nacional, disse ele, significou “um dos mais vibrantes processos de democratização alimentar da trajetória humana.”
Por sua contribuição ao processo civilizatório, Alysson Paolinelli está indicado por seus pares ao Nobel da Paz. Sim, da Paz. Fornecer alimentos ao mundo assegura maior harmonia entre os povos.
Engenheiro agrônomo, formado pela antiga Escola Superior de Agricultura de Lavras (MG) –hoje uma universidade federal graças ao seu trabalho– Paolinelli se destacou inicialmente como professor e estudioso. Por isso, carrega em seu DNA o valor da educação e da ciência.
Essa sólida e humanista formação assegurou a consistência de suas ações políticas. Por 3 vezes assumiu a Secretaria de Agricultura de Minas Gerais. Deputado constituinte em 1988, ajudou a formatar os capítulos da política agrícola e agrária do país. Paolinelli sempre brilhou.
Alysson Paolinelli é o patrono da agricultura tropical. Mais que comandar, ele iluminou o caminho de uma obra coletiva. Envolveu governos, empresas, pesquisadores, políticos, agricultores. Um esforço conjunto, centrado no agro, em busca do desenvolvimento brasileiro.
Ao realizar seu discurso, na cerimônia da Fiesp, Paolinelli surpreendeu a todos com sua humildade. Nessas horas você percebe a grandeza de uma pessoa. Paolinelli nunca cedeu à vaidade.
Jovens, vamos em frente”, finalizou. Eu me senti remoçado. Emocionei-me. Era como se todos nós fôssemos seus alunos.
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