Argentina: Nova rodada do 'dólar soja' começa nesta 2ª feira (28), agora com 230 pesos por 1 dólar
Começa nesta segunda-feira (28), a nova rodada do chamado 'dólar soja' na Argentina. A medida foi anunciada na última sexta-feira (25) pelo ministro da economia, Sérgio Massa, indicando um dólar a 230 pesos, maior do que em setembro, quando eram 200. A medida é válida até 31 de dezembro.
"O sistema estabelecerá uma taxa de câmbio especial de 230 pesos argentinos e será aplicado à soja e aos registros de exportação do complexo industrial da soja", informa o portal local Infocampo.
O objetivo do governo argentino é o de alcançar a cifra de US$ 3 bilhões, já que a nação sofre uma severa falta de dólares e precisa começar a arcar com seus compromissos financeiros, em especial com o FMI (Fundo Monetário Internacional).
Embora a medida tenha sido duramente criticada por diversos setores do agronegócio da Argentina, os exportadores afirmaram ser este um momento importante para a medida.
"Enxergamos essa nova condição como uma melhora que, mesmo que temporária, terá impacto direto no preço da soja no mercado interno", disse Gustavo Idígoras, presidente da Câmara da Indústria do Petróleo e do Centro dos Exportadores de Grãos. (Ciara-CEC) à mídia local. "A decisão de vender a soja está sempre nas mãos do produtor , e será ele quem decidirá quando vender, entendendo que desta vez o câmbio só vai durar até o final de dezembro", completa.
IMPACTOS SOBRE O COMPLEXO SOJA
"A Argentina distorceu a dinâmica global da soja com o primeiro esquema e pode distorcer novamente" acredita o senior risk manager da Hedge Point Global Markets, Victor Martins. No ciclo anterior, foram fixadas cerca de 13 milhões de toneladas, sendo dois terços para o mercado interno e o restante para exportação.
Ainda de acordo com cálculos da Hedge Point Global Markets, há ainda perto de 12 milhões de toneladas da soja ainda a ser comercializada da safra 2021/22, volume que se mostra apertado frente a uma constante baixa no saldo exportável de trigo diante das perdas da safra atual do país em função das severas adversidades climáticas.
"O governo busca medidas para compensar a baixa no saldo de exportações agrícolas assim como na necessidade de aumento da reserva cambial", explica Martins.
Ainda como explica Victor Martins, senior risk manager da hEDGE Point Global Markets, o primeiro impacto do dólar soja 2.0 poderia ser dar sobre o mercado spot da oleaginosa na Argentina, afinal, o plantio no país está atrasado, a safra nova ainda é muito incerta e essas incertezas tiram a segurança do produtor local para novas fixações.
Já para as indústrias, com uma pressão na margem de esmagamento, poderia ser registrada uma queda nos prêmios tanto do farelo, quanto do óleo. No caso das exportações, em dezembro e janeiro poderia haver mais concorrência com a nova soja do Brasil que começa a chegar ao mercado. Já para o período de fevereiro e março, "queda na CBOT ou nos prêmios FOB portos 2022/23".
Com a Argentina mais presente, o programa norte-americano poderia ficar menor, resultando em um aumento dos estoques do grão nos EUA, pesando sobre os futuros da commodity na CBOT.
"Argentina pode “exportar” margem de esmagamento negativa para Brasil/EUA assim como prêmios mais fracos FOB portos na exportação", explica o executivo. "A China está pouco coberta para janeiro/fevereiro e deve se abastecer de soja argentina".
Em outubro, a nação asiática importou 923 mil toneladas de soja da Argentina, 470% mais na comparação anual, "somando 2 milhões de toneladas desde setembro, pós estabelecimento da medida. Assim, podemos afirmar que a Argentina “tomou mercado” de mais de 2 milhões de toneladas de soja origem Brasil/EUA que outrora deveria ser destinado à China", complementa.
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