Dólar cai com acenos de moderação do governo eleito, mas indefinição sobre Fazenda ainda pesa
Por Luana Maria Benedito
SÃO PAULO (Reuters) - O dólar caiu frente ao real nesta terça-feira, com acenos do governo eleito ao centro e a indicação de uma equipe de transição econômica relativamente equilibrada trazendo algum alívio ao humor dos mercados, embora a incerteza sobre qual será a escolha de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para ministro da Fazenda continuasse sendo motivo de preocupação.
A moeda norte-americana fechou em queda de 0,45%, a 5,1498 reais na venda. Depois de mais cedo ter saltado até 1,48%, a 5,2497 reais na venda, maior patamar intradiário em mais de uma semana, o dólar foi perdendo força ao longo da sessão, e chegou a cair 0,82% na mínima, a 5,1308 reais.
Na B3, às 17:44 (de Brasília), o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento caía 0,50%, a 5,1685 reais.
A queda do dólar refletiu, em parte, a formalização do convite da presidente do PT, Gleisi Hoffmann, para que o MDB --partido mais ao centro-- faça parte do processo de transição para o governo Lula, compondo o conselho político e indicando técnicos. No entanto, alguns participantes do mercado também citaram movimento de correção após a disparada do dólar da véspera.
A divisa norte-americana chegou a desacelerar as perdas no final das negociações desta terça-feira, pouco depois do anúncio de que o grupo técnico na área de economia da transição de governo será composto por André Lara Resende, Guilherme Mello, Nelson Barbosa e Pérsio Arida. No entanto, até o fim do pregão, a moeda voltou a operar firmemente no negativo.
Segundo Rafael Perez, economista da Suno Research, a interpretação dos mercados sobre os nomes selecionados é "neutra", já que a equipe conta com um equilíbrio entre economistas mais "ortodoxos" e alinhados aos mercados, como Arida e Lara Resende, e economistas mais "acadêmicos" e especialistas na elaboração de políticas públicas, como Mello e Barbosa.
"O PT está buscando uma diversidade maior, buscando nomes que normalmente não fariam parte justamente para sinalizar que estará compondo seu governo com pessoas de diferentes matrizes ideológicas, partidos mais de centro, centro-direita", avaliou Perez, embora tenha ressaltado que o foco principal dos mercados segue sendo a indicação de Lula para o ministério da Fazenda, que segue em aberto.
"Quanto mais demorar, pior vai ser: mais expectativa vai criar no mercado e mais volatilidade isso pode criar", disse o economista.
Na segunda-feira, a moeda norte-americana à vista disparou 2,39%, a 5,1733 reais na venda, maior valorização percentual diária desde 24 de outubro (+2,94%) e patamar de encerramento mais alto desde 28 de outubro (5,3023), em meio a temores de que o Ministério da Fazenda pudesse ser entregue a alguém inclinado à flexibilização das regras fiscais do Brasil.
"A necessidade de um nome amigável ao mercado, como (o ex-presidente do Banco Central Henrique) Meirelles, dependerá principalmente do tamanho da flexibilização fiscal que Lula planeja implementar e do comportamento dos mercados", disse o Citi em relatório desta terça-feira. "Uma maior flexibilização fiscal e um mercado muito estressado exigiriam um ministro mais favorável ao mercado; neste caso, as chances de Meirelles aumentariam."
No entanto, o Citi manteve, por ora, a visão de que o cargo de ministro da Fazenda provavelmente será entregue a um político, e vê o deputado federal Alexandre Padilha como o favorito. O banco norte-americano disse ver uma indicação do ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad --cenário temido pelos investidores-- como "menos provável" neste momento.
A equipe de transição do próximo governo busca garantir uma excepcionalidade ao teto de gastos e adequar o Orçamento do ano que vem às promessas de campanha de Lula, como a manutenção dos 600 reais do Auxílio Brasil e o reajuste real do salário mínimo. Os valores a serem excepcionalizados ainda não foram definidos oficialmente, mas há a expectativa de que possam superar os 200 bilhões de reais.
Rafaela Vitoria, economista-chefe do Banco Inter, escreveu em publicação no Twitter que, sem indicações sobre qual regra o governo Lula pretende implementar para substituir o teto de gastos --ferramenta que o petista quer eliminar--, o tamanho da despesa extra-teto que será implementada no ano que vem se torna "importante sinalizador do comprometimento com a responsabilidade fiscal".
"Um 'waiver' (gasto extra-teto) muito além de 70 bilhões de reais já no primeiro ano de governo dificultaria ainda mais o ajuste (fiscal) nos anos seguintes, além de aumentos significativos de gastos resultarem em mais inflação", disse a economista.
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