Com equipamento artesanal, agricultor familiar planta soja em camalhões
Depois de perder 47 hectares de soja em uma área de várzea em 2018, em decorrência da chuva, o agricultor familiar Vanilto Aparecido dos Santos fez um enleirador artesanal para fazer camalhões. Desde então, ele não apenas tem garantido boas colheitas do grão como ampliou a lavoura.
“O sistema em si já existe, mas o interessante é que, nesse caso, foi feito por conta própria, usando o conhecimento e a experiência adquiridos ao longo da vida”, diz o extensionista da Agência de Desenvolvimento Agrário e Extensão Rural – Agraer de Itaporã Douglas Pellin, que atende a propriedade em questão.
Várzea é o nome dado à área inundável onde se planta, por exemplo, o arroz. A baixa drenagem faz com que o solo fique encharcado.
O problema é que nem todos os cultivos se adaptam a esse tipo de solo. A soja, por exemplo, não aguenta solos inundados por muito tempo. Eles diminuem o oxigênio absorvido, a menos que sejam feitos os camalhões ou leiras, que são faixas elevadas de terra que “livram” as plantas.
Entre esses montes, formam-se canaletas. Quando chove, a água corre por elas seguindo o desnível do terreno, mantendo a terra úmida e drenada.
A presença de água na área de várzea ocorre naturalmente com a chuva ou propositalmente nos períodos de seca, com a irrigação por inundação. Pellin explica que nas extremidades do talhão existem pequenos canais por onde corre água. Basta interromper o fluxo hídrico para que o líquido escorra entre os camalhões.
O extensionista acrescenta que a Agraer auxiliou Vanilto no processo para obter a licença ambiental para o plantio. O documento foi solicitado pelos agentes de crédito, assim como a outorga d’água do sistema de plantio.
“Para que um empreendimento humano seja considerado sustentável é preciso que seja ecologicamente correto, economicamente viável, socialmente justo e culturalmente diverso, o que se encaixa perfeitamente nesse sistema de cultivo adotado por esse agricultor familiar”, diz Pellin.
Segundo ele, Vanilto é assistido de perto por toda a equipe local da Agraer em Itaporã. Ele reveza o plantio de soja com o milho e arroz, este último é beneficiado em uma agroindústria familiar dentro da propriedade.
“Ele coloca um arroz tipo um na mesa de muitos sul-mato-grossenses e nos pratos de várias crianças das escolas públicas da região”, diz o extensionista
Portanto, Vanilto é prova de que em áreas de várzea é possível, sim, implementar cultivo de outras culturas, desde que o solo tenha drenos artificiais que consigam escoar rapidamente o terreno encharcado, fazendo com que a planta consiga absorver todos os nutrientes essenciais para o seu desenvolvimento e alcance seu potencial produtivo.
MÃOS À OBRA
Vanilto usou um cultivador e acoplou vários cilindros na parte de trás. Conforme os garfos riscam o solo, os rolinhos modelam os montes, criando as leiras.
“Além disso, o agricultor familiar também acertou o nível do terreno utilizando o conhecimento próprio. Existem produtores que plantam mais de 80 hectares nesse mesmo sistema, mas o fazem com tecnologias e equipamentos caros”, afirma Pelin.
Vanilto acredita que tenha economizado em torno de R$ 40 mil com a “invenção”.
Em 2018, quando a chuva levou embora a plantação de soja de Vanilto, ele havia semeado 47 hectares com o grão. Este ano, ele ampliou a lavoura para 88 hectares.
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