Dólar salta ante real com cautela externa por Fed; rodovias e transição de poder seguem no radar
Por Luana Maria Benedito
SÃO PAULO (Reuters) - O dólar avançava frente ao real nesta quinta-feira, em meio a negociações voláteis, acompanhando a alta da moeda norte-americana no exterior após sinalizações mais duras do que o esperado do Federal Reserve em sua última reunião de política monetária.
Enquanto isso, investidores continuavam atentos à situação das rodovias brasileiras e no clima do processo de transição de poder após a eleição presidencial.
Às 10:19 (de Brasília), o dólar à vista avançava 0,98%, a 5,1685 reais na venda. A moeda norte-americana mostrou grande instabilidade durante as primeiras negociações, e oscilou entre 5,2252 (+2,09%) e 5,1243 reais (+0,12%).
Na B3, às 10:19 (de Brasília), o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento subia 0,51%, a 5,1955 reais.
Investidores atribuíram parte do salto do dólar nesta quinta-feira a um ajuste a movimento internacional visto na véspera, quando os mercados brasileiros ficaram fechados devido ao feriado do Dia de Finados.
Na quarta-feira, a moeda norte-americana disparou globalmente e as ações listadas nas principais bolsas foram derrubadas pela indicação do chair do Fed, Jerome Powell, de que os juros básicos do banco central dos Estados Unidos podem fechar o atual ciclo de aperto monetário em patamar mais alto do que o estimado anteriormente.
Na véspera, o Fed subiu os custos dos empréstimos em 0,75 ponto percentual, conforme o esperado, e sinalizou que pode desacelerar o ritmo de altas a partir de dezembro, um movimento que, a princípio, seria positivo para ativos considerados arriscados. No entanto, Powell alertou que ainda existem incertezas sobre até onde os juros precisam subir e que eles podem acabar ficando acima do que as autoridades estimaram em seu encontro de setembro.
"Acredito que nossos ativos estão sendo penalizados exclusivamente por conta disso", disse à Reuters Fernando Bergallo, diretor de operações da FB Capital.
O Citi disse em relatório que a sinalização recente do Fed "está de acordo com uma perspectiva de alta do dólar", embora tenha destacado a América Latina como uma região melhor preparada para o impacto de juros mais altos nos Estados Unidos, já que a maioria de suas moedas locais oferece retornos ("carry", em inglês) atraentes.
Nesta manhã, o índice do dólar contra uma cesta de pares fortes ganhava 0,83%, a 113,070.
Por outro lado, fornecia algum suporte ao real a redução de bloqueios em estradas do país, depois que o presidente Jair Bolsonaro (PL) divulgou vídeo pedindo a seus apoiadores que desobstruam as rodovias. Ainda que em menor escala, protestos de cunho golpista, que pregam o desrespeito ao resultado das eleições e uma intervenção militar no país, seguiam em 11 Estados, sendo Mato Grosso e Santa Catarina os mais afetados.
"Esperamos, no curto prazo, a diminuição das incertezas com relação aos protestos e a mitigação de impactos negativos sobre a atividade econômica. A tendência é que os investidores voltem a dar maior ênfase à transição de governo e às especulações sobre quem assumirá o comando da pasta econômica no terceiro mandato de Lula", disse a Levante Investimentos em nota a clientes.
A transição entre os governos de Jair Bolsonaro (PL) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT) terá a largada oficial nesta quinta-feira. Está marcada para as 14h reunião do ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, com o vice-presidente eleito, Geraldo Alckmin (PSB); a presidente do PT, Gleisi Hoffmann; e o ex-ministro Aloizio Mercadante.
Na quarta-feira, antes do feriado da véspera, a moeda norte-americana à vista fechou em queda de 0,91%, a 5,1182 reais na venda.
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