Diesel: EUA têm apenas 25 dias de estoque; preço alto e possível escassez podem afetar agro brasileiro
Os Estados Unidos, maior produtor de petróleo do mundo, atingiu nas últimas semanas estoques de diesel, produto derivado do óleo de origem fóssil, que seriam suficientes para apenas 25 dias de consumo, segundo levantamento realizado pela consultoria AgResource. Esse é o pior patamar já visto desde 2008, ano da última crise econômica mundial.
Diante desse cenário, analistas dizem que o país norte-americano precisará encontrar alternativas para avançar no refino e seguir suprindo uma crescente demanda global – o inverno nem começou no hemisfério Norte. Porém, os altos preços à frente e até a possibilidade de escassez do óleo podem impactar o agronegócio brasileiro, principalmente em termos de logística.
O diesel é o combustível mais consumido no Brasil.
A situação preocupa a nós porque, em 2020, a importação brasileira de diesel atingiu cerca de 20% da demanda anual, sendo que os Estados Unidos representaram mais de 80% do volume importado no ano. Já, em 2021, a importação brasileira atingiu 22% da demanda anual do combustível, com a participação norte-americana em cerca de 50% do volume.
"Apesar do avanço de origens alternativas, como Índia e Emirado Árabes, a dependência do diesel norte-americano é elevada para o Brasil, o que preocupa quanto à disponibilidade de diesel para operações agrícolas e escoamento da safra 22/23 ainda em fase de plantio", afirma Raphael Mandarino, analista da AgResource.
A demanda pelo petróleo norte-americano e seus derivados disparou nos últimos meses no mercado internacional em meio às sanções contra a Rússia – que está em guerra com a Ucrânia desde o início deste ano –, e que até então dividia com o país norte-americano esse mercado global. Sem a Rússia, os Estados Unidos se comprometeram a garantir derivados do petróleo ao mundo.
"Esse cenário preocupa a AgResource e poderá pressionar tanto o sistema logística brasileiro quanto o operacional da safra ainda em etapa inicial", reitera Mandarino.
Thiago Davino, analista Agrinvest, também acompanha a situação. Ele destaca que o preço do diesel no mercado internacional está em disparada e já acumula em outubro uma alta de 26%. "Isso é muito preocupante para o produtor brasileiro, porque gera a expectativa de novo reajuste pra cima no preço do diesel no país uma vez que ele é balizado pelo internacional", diz.
Ele também acredita que isso pode aumentar o custo da logística no país e impactar negativamente as commodities, em reais. Nos Estados Unidos, para Davino, também há alguma atenção com esse cenário relacionado aos derivados de petróleo, porque um importante fluxo de logística marítima no país, o rio Mississipi, está com nível abaixo da média. “Isso tende a forçar uma demanda maior de transporte rodoviário”, explica.
Nos cálculos da Agrinvest, a defasagem do preço do diesel olhando o cenário internacional e o que está sendo praticado aqui no Brasil já está acima dos 10% neste momento do ano. "Esse reajuste, segundo acredita o próprio mercado, deve ocorrer no mês de novembro por conta da eleição. Isso também vale para a gasolina", projeta o analista.
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Diante do cenário complicado relacionado ao diesel e outros derivados, os Estados Unidos têm até liberado suas reservas estratégicas, mas a questão é maior porque não há potencial disponível para as refinarias darem conta da demanda. "O país também já tem o menor estoque das reservas estratégicas de petróleo dos EUA desde a década de 1980", afirma Mandarino.
Davino complementa que a indústria de refino norte-americano não se renovou nas últimas décadas e foi pega desprevenida. "Não falta petróleo no mundo. Falta condições de refinar esse petróleo. O Brasil também sofre desse mesmo mal. A gente é autossuficiente em petróleo, mas temos que importar diesel porque não temos refinaria suficiente", afirma.
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