Pré-sal caipira: o futuro sustentável da mobilidade e da energia elétrica passa pelo agro paulista
Nunca antes os preços do petróleo – um combustível de origem fóssil, conhecido como o ouro negro – e seus derivados tiveram tanta oscilação. Dias após a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarar a Covid-19 uma pandemia, em março de 2020, os futuros do óleo do tipo Brent – valor de referência mundial, inclusive para a Petrobras – atingiram a marca que poucos imaginavam, negativa, em cerca de – US$ 37 o barril.
Ou seja, o vendedor que detinha o produto teve que pagar para o comprador levar o barril. No final de fevereiro deste ano, mais uma surpresa. Com o início da guerra entre Rússia e Ucrânia, os preços do óleo deram início a uma disparada. O pico foi no início de março, com os preços em pouco mais de US$ 127 o barril, conforme o infográfico abaixo. Atualmente, os preços estão em cerca de US$ 90 o barril para o Brent e US$ 85 para o WTI.
Essa gangorra impactou os produtos de energia no mundo todo, com impacto sobre a inflação e temores de desaceleração econômica. Combustíveis caros, impacto na indústria, inclusive de fertilizantes, e a possibilidade de a Europa não ter gás ou ter que pagar bem mais caro pela calefação durante o inverno são alguns dos exemplos de como a dependência dos combustíveis fósseis pode impactar as nossas vidas.
As oscilações inesperadas no mercado do petróleo, nos últimos tempos, renovaram as ideias por uma matriz energética mais renovável que há décadas é perseguida globalmente, gerando oportunidades ao Brasil, inclusive.
“A dependência da Europa sobre o petróleo russo e os derivados daquele país vai estimular que o continente busque cada vez mais energias renováveis, obviamente que não nesse primeiro momento, porque não se constrói uma usina nuclear do dia para a noite, por exemplo, mas eles devem focar sim nessas usinas, assim como nas eólicas e solares, além, é claro, de biocombustível. Eu diria que esse é um caminho sem volta e o Brasil, obviamente, tende a se beneficiar desse quadro”, explica Thiago Davino, analista da Agrinvest Commodities.
Ainda de acordo com ele, investimentos nesse sentido, que estavam parados, já começaram a ser retomados ao redor do globo, além de novas construções. “O Brasil tem uma posição privilegiada na questão da transição energética, principalmente quando a gente olha para as tecnologias de combustíveis, do etanol e outros biocombustíveis também”, ressalta Davino.
Diante de todo esse cenário, com as oportunidades e inovações do setor sucroenergético que já são realidade e as que ainda estão por vir, em um comparativo com a descoberta do pré-sal na década passada, reserva do óleo de origem fóssil que passou a representar um novo potencial petrolífero para o país, as iniciativas sucroalcooleiras e energéticas no interior paulistas têm sido chamadas de pré-sal caipira, segundo Paulo Montabone, diretor da Fenasucro & Agrocana, a maior feira de bioenergia do mundo.
"Hoje, além do que tradicionalmente já fazem, as usinas de cana-de-açúcar podem produzir o biogás [biocombustível produzido a partir da decomposição de materiais orgânicos]. Elas vão se ligar diretamente aos gasodutos já existentes. Então vamos ter um mix de oferta muito maior, diminuindo custo e trazendo soluções ambientalmente corretas. O futuro de nossas gerações terá um céu mais limpo, com menor emissão de CO2”, destaca Montabone.
“Além disso, já falamos de eletrificação de veículos através do etanol [biocombustível fomentado a partir de 1975 no país com o programa Pró-álcool e que hoje é vendido, inclusive, como substitutivo da gasolina no Brasil]. Essas e outras inovações que estão dentro do escopo da transição energética vão fazer com que os investimentos sejam cada vez maiores e que a gente consiga exportar tecnologias que nós já somos protagonistas", ressalta Montabone.
“O futuro de nossas gerações terá um céu mais limpo,
com menor emissão de CO2”
Paulo Montabone, diretor da Fenasucro & Agrocana
Além de vender o etanol hidratado direto nas bombas dos postos de combustível, algo que apenas o Brasil faz no mundo, a nossa gasolina também já conta com uma mistura de etanol anidro de 27% também em busca de uma menor descarbonização. Mais de 70 países também já têm o biocombustível misturado à gasolina.
O Brasil, por exemplo, criou o RenovaBio, uma política de Estado que reconhece a importância dos biocombustíveis na matriz energética e estabelece metas de descarbonização para empresas de combustíveis.
“Uma das maiores demandas que o mundo tem hoje é energia de baixo carbono e a bioenergia, a energia que vem da vida, dos seres vivos, como é o caso da cana-de-açúcar, do milho e de outras culturas, é uma fonte de energia de baixo carbono, que gera segurança energética por um lado e sustentabilidade por outro. O mundo clama por aquilo que nós estamos produzindo”, afirma Evandro Gussi, presidente da União da Indústria de Cana-de-Açúcar e Bioenergia (Unica).
Assim como o embargo de fornecimento de petróleo pela Organização dos Países Árabes Exportadores de Petróleo (OAPEC, em inglês), no início da década de 1970, que provocou uma crise de abastecimento aos Estados Unidos e aliados, Europa Ocidental e Japão – favorecendo a criação do programa Pró-álcool em 1975 para estimular a produção de álcool combustível (etanol) e reduzir a dependência do Brasil dos fósseis de outros países e buscou desenvolver a indústria automobilística – a guerra entre Rússia e Ucrânia pode estabelecer um novo marco para o setor no país.
"O setor sucroenergético nacional tem muitos projetos engavetados por falta de viabilidade financeira. Com essa nova demanda sustentável do mundo, essa viabilidade passa a ser muito mais tangível. A troca do diesel por biogás, que representa a quinta onda da evolução dos subprodutos da cana-de-açúcar nas usinas, por exemplo, vai gerar uma economia gigantesca. O etanol de segunda geração há cinco anos era visto como um investimento inviável pelo alto custo de produção e hoje ele vem com força", diz Montabone.
Ricardo Mussa, CEO da Raízen, também ressalta o potencial do etanol para a descarbonização, mas reitera que o Brasil tem papel favorecido do que outros países, por exemplo, pois já tem avançado nesse sentido nos últimos anos.
"Tem vários países na Europa que não têm muita alternativa hoje, eles precisam para atender às emissões rapidamente ir para o carro a bateria [que já não é considerada uma fonte de energia limpa]. A situação do Brasil e de outros países está muito distante de precisar disso, a gente não tem uma questão de redução de emissões como outros países têm e o carro híbrido é fantástico para isso", afirma Mussa.
Para ele, países que já têm uma tradição com biocombustíveis saem na frente. "Países de clima temperado têm situação mais difícil. Eles não têm uma solução clara e o etanol de segunda geração é uma alternativa nessa hora porque você começa a usar a celulose para fazer o biocombustível", diz o CEO da Raízen.
"O etanol tem dois papéis. Ele é um combustível de transição para até o dia que a gente tiver uma rede de eletricidade renovável, o que vai levar 15 anos para chegar lá. Além disso, no meu ponto de vista, ele tem a possibilidade de contribuir ao carro elétrico a hidrogênio, que tem a junção dos dois mundos, com a eficiência do motor elétrico, uma bateria que é o etanol, e com um reformador no meio, que você pega o etanol e transforma em hidrogênio. Esse pra mim é o caminho que via vencer no longo prazo", ressalta Mussa.
Montabone, diretor da Fenasucro & Agrocana, complementa que outros produtos básicos derivados da cana-de-açúcar ou de seus resíduos industriais também podem ser produzidos em larga escala, como o plástico e até o vidro.
Empresas já compram boa parcela da produção da Raízen para esses fins, segundo Mussa. "O etanol não é só combustível. Hoje, na própria Raízen, a gente vende quase metade do produto que não é só pra carburante, é para cosméticos, produtos farmacêuticos, plástico e esse negócio só vem crescendo. O carbono da cana-de-açúcar é um carbono renovável e barato", afirma o CEO da companhia.
"O agro em São Paulo é movido pela ciência. Aqui é o berço da pesquisa. O maior volume de cultivares entregues na história do Brasil até então pertence aos institutos paulistas. Daqui nasceram as grandes cultivares de cana-de-açúcar, do café e de outras tantas culturas", disse em entrevista ao Notícias Agrícolas Francisco Matturro, Secretário de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo.
“O agro em São Paulo é movido pela ciência”
Francisco Matturro, Secretário de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo
O avanço na transição energética, inclusive, foi ressaltado recentemente pela Agência Internacional de Energia (AIE), que vê um crescimento de menos de 1% nas emissões globais de dióxido de carbono neste ano pela queima de combustíveis fósseis, cerca de 300 milhões de toneladas, para 33,8 bilhões, ante um salto de quase 2 bilhões de toneladas no ano de 2021. Isso deve ocorrer graças a uma expansão de energias renováveis e com os veículos elétricos que também já conseguem ser híbridos flex e usar etanol.
"A crise energética global desencadeada pela invasão da Ucrânia pela Rússia levou muitos países a usarem outras fontes de energia para substituir o suprimento de gás natural que a Rússia reteve do mercado. A notícia encorajadora é que a energia solar e a eólica estão preenchendo grande parte da lacuna, com o aumento no carvão parecendo ser relativamente pequeno e temporário", disse em coletiva de imprensa Fatih Birol, diretor executivo da AIE.
"Isso significa que as emissões de CO2 estão crescendo muito menos rapidamente este ano do que algumas pessoas temiam – e que as ações políticas dos governos estão impulsionando mudanças estruturais reais na economia energética. Essas mudanças devem acelerar graças aos principais planos de política de energia limpa que avançaram em todo o mundo nos últimos meses", reiterou.
“Ações políticas dos governos estão impulsionando
mudanças estruturais reais na economia energética”
Fatih Birol, diretor executivo da Agência Internacional de Energia (AIE)
O Notícias Agrícolas foi a campo conhecer cada uma dessas iniciativas do setor sucro paulista, que vão elevar o nosso potencial energético interno e que já chamam a atenção do mundo.
E2G: um biocombustível ainda mais sustentável
Elevar em 50% a produção de etanol, com menor emissão de CO2, e sem precisar sequer de um hectare de novas áreas de cana-de-açúcar. É isso que a Raízen, maior produtora de açúcar e etanol do país, planeja ao longo dos próximos anos, através do etanol de segunda geração ou E2G, uma tecnologia da qual a companhia é proprietária e que é considerado um produto chave na transição energética do país.
“O etanol de segunda geração, em termos de molécula, é idêntico ao de primeira geração, o que muda é a matéria-prima que a gente utiliza na produção desse etanol. Então, no caso do 1G, a gente utiliza o próprio caldo da cana ou o melaço proveniente da produção de açúcar para gerar esse etanol. No de segunda geração, a matéria-prima é o bagaço, que é um dos resíduos da moagem, que também pode ir para a geração de energia”, explica Hávala Reis, gerente de operações da planta E2G do Bioparque Bonfim da Raízen, localizado em Guariba (SP).
A planta de Guariba (SP) está em construção e tem entrega prevista para o ano que vem, e conta com investimento de cerca de R$ 1 bilhão. Ela terá dois módulos de produção, diferente da unidade Costa Pinto, que fica em Piracicaba (SP), e que já está em funcionamento desde a safra 2014/15 com apenas um módulo. Com os dois módulos, a nova planta terá capacidade de gerar até 82 milhões de litros por ano de etanol anidro.
O E2G na unidade Costa Pinto nos últimos anos reforçou a premissa da economia circular nas operações da Raízen, pioneira com a premissa no setor. “É muito legal quando a gente percebe um bioparque como uma unidade em que os diferentes processos estão conectados. A gente começa o processo de produção da cana, ela é trazida para a indústria, onde a gente transforma em açúcar, etanol e energia com o bagaço, e nesse processo a gente gera subprodutos, como a vinhaça e a torta de filtro, que a gente faz novos produtos, como o biogás. A gente também produz o etanol de segunda geração a partir do bagaço que não é consumido nas caldeiras”, afirma Thales Drezza, diretor agroindustrial da Raízen.
Até 2030, a Raízen planeja ter ao menos 20 plantas E2G em seus bioparques. Tomando por base todas elas, considerando uma capacidade de geração média de 80 milhões de litros/ano cada uma, como a de Bonfim, seriam acrescidos ao mercado ao menos 1,6 bilhão de litros do biocombustível. O volume representa quase 6% do que foi produzido de etanol de cana no Centro-Sul em toda a safra 2021/22, encerrada em março deste ano, e que teve produção total de 27,55 bilhões de litros.
Notícias Agrícolas foi conhecer a construção da nova planta de Etanol de Segunda Geração (E2G) da Raízen
Neste ano, os parques de Bioenergia Univalem, em Valparaíso (SP), e Barra, em Barra Bonita (SP), também receberão investimentos de mais de R$ 2 bilhões, adicionando uma capacidade anual de aproximadamente 164 milhões de litros de etanol. As unidades vão entrar em operação até 2024. Todas as quatro unidades têm 80% da capacidade já comercializada em contratos de longo prazo e representam mais um passo da Raízen na produção de soluções renováveis, contribuindo com o processo de descarbonização, e fazendo com que a companhia seja a única no mundo a operar quatro plantas de etanol celulósico em escala industrial. A redefinição hoje do futuro da energia.
“A gente acredita demais numa transição para uma energia cada vez mais limpa. Então quando a gente fala de transição energética, o nosso foco é em produzir cada vez mais energia limpa a partir da mesma área cultivável. A gente tem uma série de investimentos relacionados a isso, se destacam, principalmente, os investimentos nas plantas de etanol de segunda geração e de biogás, que vão permitir a gente a perseguir nossos compromissos socioambientais de produzir mais energia numa mesma área”, diz Drezza.
O diretor industrial corporativo da Raízen, Juliano Oliveira, explica porque o etanol de segunda geração é considerado ainda mais sustentável que o 1G. "Hoje, quando a gente fala de etanol de primeira geração, a gente tá colocando na atmosfera 23 gramas de CO2 por megajoule. No de segunda geração, no processo na Costa Pinto, ele chega a 16 gramas. Quando a gente escalar essa solução, tendo mais parques de bioenergia, o nosso objetivo é chegar a uma emissão de 10 gramas de CO2 por megajoule, derrubando pela metade o volume", explica.
"Se a gente fizer uma comparação com o diesel, que é um combustível fóssil, a gente tem hoje uma emissão de 80 a 85 gramas de CO2 por megajoule", complementa Oliveira.
Prova de que o E2G já é uma realidade no portfólio da Raízen, a Scuderia Ferrari, inclusive, já usa o biocombustível como mistura na gasolina em seus carros na Fórmula 1. "A gente quer ser protagonista na transição energética global. A gente acredita muito na cana e nos seus produtos... E o mercado está muito receptivo, tanto na Europa e quanto nos Estados Unidos, para esse produto diferenciado e a gente está bem otimista em conseguir executar esse programa de crescimento e contribuir de forma relevante para a redução de emissão de gases e transição energética global", afirma Francis Vernon Queen, vice-presidente executivo de operação de etanol, açúcar e bioenergia da Raízen.
“A gente quer ser protagonista na transição energética global.
A gente acredita muito na cana e nos seus produtos”
Francis Vernon Queen, vice-presidente executivo de operação de etanol, açúcar e bioenergia da Raízen
Além da mobilidade urbana, o produto ainda pode ser usado para aplicação industrial, como matéria-prima para produção de plástico verde e até combustíveis mais limpos para aviação e marítimo, colaborando para reduzir as emissões de gases de efeito estufa em até 86% e em preservação ambiental.
Para atender às necessidades da sociedade, as montadoras de automóveis também têm se esforçado no processo de descarbonização e acreditam que o etanol é um importante agente para isso. Em entrevista ao Notícias Agrícolas, Pablo Di Si, CEO da Volkswagen na América Latina, destacou a tradição do biocombustível na mobilidade urbana do Brasil, o que não ocorre em outros países do mundo, e o potencial de transferência de tecnologia global que o país tem.
“As indústrias trabalhando em questões automotivas por um lado e agrícola por outro acabou. Cada vez mais nós precisamos trabalhar de forma transversal, juntos, cada vez mais precisamos nos comunicar melhor dentro das empresas, dentro e fora do Brasil… Estamos em um momento chave para dobrar ou triplicar o volume do agronegócio e do etanol. Estamos juntos nessa jornada”, afirma um dos líderes da maior montadora de carros do Brasil.
Pablo Di Si foi peça chave para que o conselho mundial da Volkswagen olhasse o etanol como alternativa no processo de descarbonização, já que muitos desconsideravam o combustível em tempos de eletrificação. Para ele, é possível usar o biocombustível em carros elétricos e nos híbridos. Tanto é que a companhia anunciou a criação de um centro de pesquisa e desenvolvimento (P&D), com investimento bilionário, o que facilitará a exportação das tecnologias daqui para o mundo.
“Tenho muito orgulho da aprovação do conselho mundial de ter aceito a nossa proposta, porque colocar o Brasil como centro de pesquisa para o mundo, para o etanol e os biocombustíveis, é um passo enorme para a nossa empresa”, destaca Di Si.
Um veículo médio movido a gasolina, que percorre 1000 km por mês, por exemplo, gera um total de emissões de 2,58 toneladas de CO2, com 16 mudas de árvores necessárias para compensação, enquanto que um de etanol, nas mesmas características, acumularia 0,72 t de CO2 e cinco mudas para compensação.
O consumo de energia de 100 KWh por mês de uma família, por sua vez, gera uma emissão de 0,01 t de CO2. O cálculo considera como base científica o trabalho "Estimativa da Biomassa e Carbono em Áreas Restauradas com Plantio de Essências Nativas" de pesquisadores da Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz" da Universidade de São Paulo (Esalq/USP).
Biogás: energia elétrica que vem da cana
Além do etanol hidratado, o combustível verde derivado da cana-de-açúcar ou do milho, e que é utilizado nos postos do Brasil diretamente nas bombas nos carros flex como substitutivo aos fósseis há décadas – contribuindo para a descarbonização –, além do anidro misturado na gasolina, o setor sucroenergético tem ido ainda mais além, com geração e fornecimento de energia elétrica para a rede através do biogás. Algo que deve avançar ao longo dos próximos anos, além da cogeração.
De acordo com a Associação Brasileira de Biogás (ABiogás), atualmente, o Brasil desperdiça 100 milhões de m³ de metano renovável por dia, que equivalem a 35% da energia elétrica consumida no país e 70% do diesel. Um verdadeiro ‘pré-sal caipira’, já que cada usina de cana-de-açúcar tem a escala de um poço de petróleo do pré-sal. Com o ambiente regulatório favorável para a expansão do biogás, a meta da entidade é chegar à produção de 30 milhões de m³/dia até 2030, que é 30% do potencial atual.
A Raízen já conta com autossuficiência energética em todas as suas unidades de produção espalhadas pelo Brasil e agora almeja ao longo dos próximos 10 anos construir dezenas de plantas de biogás, o que garantirá o fornecimento de energia elétrica de matriz renovável para a população brasileira. O biogás utiliza a vinhaça e a torta de filtro como matéria-prima, que são resíduos da operação agroindustrial, ou seja, também há o princípio da economia circular.
“A gente tem aqui em Bonfim a nossa primeira planta de biogás voltada para a produção de energia elétrica. Nós anunciamos, recentemente, os investimentos na segunda planta na unidade Costa Pinto. Lá a gente vai produzir também o biometano, um gás limpo para geração e que pode ser utilizado na descarbonização das cadeias produtivas. E ao longo do tempo, até 2030, nós temos o plano de construir 39 módulos e, mais para frente ainda, pensamos em chegar até em 60”, diz Drezza.
O Notícias Agrícolas também visitou a primeira unidade de biogás da Raízen que fica no Bioparque Bonfim. Ela está em funcionamento desde 2020 e teve um investimento de mais de R$ 150 milhões da gigante do setor sucroenergético do país e da empresa Geo Energética, donas da joint venture Raízen Geo Biogás S.A. A unidade de biogás de Bonfim é uma das maiores do tipo no mundo, com capacidade instalada de 21 megawatt e, ao longo dos próximos anos, mais dessas plantas serão integradas aos outros bioparques da companhia.
A planta de biogás de Bonfim já consegue, além de atender às necessidades internas, exportar energia elétrica para as linhas de transmissão.
“A nossa unidade recebe 100% da produção de vinhaça e torta de filtro produzida na unidade Bonfim, que tem uma capacidade de moagem de 5,4 milhões de toneladas por ano, sendo a segunda maior planta da Raízen. E, com isso, a nossa capacidade de produção é de aproximadamente 50 milhões de normal metro cúbico de biogás, produzindo e exportando mais de 120 gigawatt de energia por hora”, diz Alessandra Feijó, gerente de biogás da Raízen.
Alessandra também explica que, diferente de outras matrizes de energia, o biogás consegue ser mais estável em relação ao fornecimento. “A nossa planta tem a capacidade de operar os 365 dias por ano, indiferente da parada de produção de cana-de-açúcar, porque nós fazemos estocagem a partir dessa matéria-prima para a produção de biogás. Então é possível gerar energia elétrica ao longo de todo o ano”, diz.
Isso é importante porque nos últimos anos o Brasil enfrentou impacto da seca, o que influencia na geração das hidrelétricas, nossa principal fonte de energia elétrica no país. Essas oscilações na produção das usinas hidrelétricas, inclusive, pesam no bolso do consumidor, com preços mais altos nas contas de luz.
Outro gigante do setor sucroenergético mundial, o grupo Tereos, também iniciou neste ano de 2022 a operação de sua planta de biogás em Olímpia (SP). Além de energia, a unidade produz biometano, uma alternativa limpa aos combustíveis fósseis. "É um produto renovável, limpo, verde, e que se iguala em especificações técnicas ao gás natural veicular (GNV), que é extraído pelas refinarias e tem sua fonte fóssil", diz Renato Zanetti, superintendente de sustentabilidade e excelência operacional da companhia.
A Tereos possui como meta atingir, até a safra 2029/30, 100% dos seus veículos canavieiros abastecidos com biometano.
A unidade teve investimento de R$ 15 milhões, até o momento, e conta com uma capacidade de 1 megawatt. Por enquanto, a produção será destinada para empreendimentos comerciais no interior paulista, através de parceria com a Lemon Energia. Paralelamente à planta de biogás, a Tereos conta com a cogeração de energia elétrica, gerada a partir da biomassa de cana-de-açúcar de suas sete unidades. Ao todo, a companhia possui 444 MW de potência instalada, com potencial de exportação de cerca de 1.450 GWh para o sistema elétrico.
A cogeração, processo que permite a produção simultânea de calor e de energia elétrica em usinas sucroalcooleiras, já totaliza 12,1 GW instalados no Brasil, de acordo com dados da Associação da Indústria da Cogeração de Energia (Cogen), sendo produzida por 383 usinas e que corresponde a 59,9% de toda cogeração de energia no país.
“A cogeração é fundamental para a segurança energética brasileira. Ela já tem dado uma contribuição significativa. Em 2021, somente a energia exportada pelas usinas a biomassa do bagaço de cana-de-açúcar representou uma poupança de 14 pontos percentuais dos níveis de água nos reservatórios das hidrelétricas do subsistema Sudeste/Centro-Oeste, o que evitou que ocorresse um maior deplecionamento dos reservatórios das hidrelétricas nessas regiões, em um ano em que foi registrada a mais grave crise hídrica desde 1930”, diz Leonardo Caio, diretor de tecnologia e regulação da Cogen.
Energia elétrica da cana: Raízen vai construir 39 plantas de biogás até 2030; Notícias Agrícolas foi conhecer a primeira delas
A Raízen também já trabalha na construção de sua segunda planta de biogás, localizada no Bioparque Costa Pinto, em Piracicaba (SP), com previsão de funcionamento em 2023. Ela será dedicada à produção de gás natural renovável, o biometano, que também pode ser usado na mobilidade em substituição ao gás natural, diesel ou Gás liquefeito de petróleo (GLP). A capacidade da unidade será de 26 milhões de m³, o suficiente para abastecer aproximadamente 200 mil clientes residenciais em todo o Brasil.
Assim como o etanol de segunda geração, uma tecnologia da companhia, o biogás reforça o compromisso da Raízen na expansão de seus negócios renováveis. “Na nossa visão, a cana é a melhor planta para se converter a energia solar em energia, seja elétrica ou em diferentes formas de produzir joules de energia. Na nossa concepção, da cana a gente aproveita tudo… É a cana que a gente acredita que é a nossa principal planta, a nossa principal fonte de energia e a gente acredita que ela tem um papel importantíssimo na matriz energética brasileira”, ressalta Drezza.
“É a cana que a gente acredita que é a nossa principal planta, a nossa principal fonte de energia e a gente acredita que ela tem um papel importantíssimo na matriz energética brasileira”
Thales Drezza, diretor agroindustrial da Raízen
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