Café solúvel terá metodologia pioneira para avaliação de qualidade
O consumo de café solúvel cresce a taxas superiores a 2% ao ano no mundo, acima dos percentuais de crescimento apresentados pelo produto torrado e moído. O Brasil, como o maior produtor e exportador mundial de café verde, também lidera a produção e o embarque do solúvel. A atividade gera receitas de mais de R$ 1 bilhão no mercado doméstico e traz divisas de cerca de US$ 600 milhões com remessas que vão para mais de 100 países, totalizando volumes superiores a quatro milhões de sacas.
O solúvel é um gigante no setor mundial de café, já que cerca de 27,5% do consumo ocorre na forma de café instantâneo. No Brasil, o consumo do produto ainda é baixo, de 5%, embora esteja crescendo rapidamente, o que representa um grande potencial e um grande mercado a ser desenvolvido. Para aproveitar esse cenário e consolidar a posição de protagonismo do país, a Associação Brasileira da Indústria de Café Solúvel (Abics), em parceria com o Instituto de Tecnologia de Alimentos (ITAL) e, na divulgação mundial, com a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil), desenvolveu uma metodologia inovadora para avaliação da qualidade do produto, a primeira a ser reconhecida internacionalmente ao solúvel.
“O Brasil tem tudo para ser um protagonista nesta metodologia, que vem sendo desenvolvida há mais de dois anos, com a participação de técnicos especializados em café solúvel e representantes de grandes marcas”, diz o diretor de Relações Institucionais da entidade, Aguinaldo Lima.
Reposicionamento do café solúvel no mercado
O documento técnico sobre a metodologia (White Paper), uma compilação de todo o trabalho feito durante o processo para se estabelecer a classificação do produto, será lançado durante a Semana Internacional do Café (SIC), que ocorrerá de 16 a 18 de novembro, em Belo Horizonte (MG).
“Uma metodologia para avaliar a qualidade do café solúvel torna-se ainda mais relevante num momento em que as indústrias lançam produtos de maior valor agregado, com diferentes características e para diferentes usos, o que inclui desde o preparo de cappuccinos, drinks e outros tipos de bebidas, cápsulas e até o uso culinário. Tudo isso somado à praticidade de se consumir o solúvel. Todo este processo vai possibilitar a criação de uma linguagem comum para avaliar estes cafés, criando referências para o setor, e marca um reposicionamento do solúvel no mercado”, afirma o diretor da Abics.
A metodologia é descritiva e avalia a intensidade de características presentes no café solúvel, diz Aline Garcia, Pesquisadora Científica do ITAL. A equipe do Instituto participou ativamente do desenvolvimento da metodologia de avaliação do café solúvel, juntamente com demais integrantes da indústria e especialistas. Aline sugeriu aplicar testes descritivos como o Sorting e CATA para refinar a metodologia e coordenou a interpretação destes resultados em algumas reuniões da equipe envolvida na criação da metodologia.
“O principal questionamento foi desenvolver uma metodologia que se comunique com o consumidor, ou seja, informar as características da bebida para que o consumidor possa fazer a sua escolha”, enfatiza a pesquisadora.
“É uma quebra de paradigma, uma forma para entender melhor o produto e, principalmente, a aplicação dele, em que descritores podem ser extremamente positivos para auxiliar a indústria na comunicação com seus clientes”, diz Eliana Relvas, especialista em avaliação sensorial e consultora da Abics, que coordena este projeto.
“A comunicação entre as indústrias (grandes exportadoras e fornecedoras das grandes marcas mundiais), consequentemente, serve de base para as empresas que têm contato com o consumidor, para que ele possa tomar sua decisão de compra”, adiciona Eliana.
Como funciona a metodologia pioneira?
Diferentemente da metodologia de avaliação do café torrado e moído, baseada em pontuações por notas, a metodologia do solúvel apresenta uma avaliação de intensidade de atributos, em uma escala de classificação das características sensoriais, que vai de zero a cinco, e uma classificação principal em três categorias: convencional, diferenciado ou de excelência. “Assim, a metodologia categoriza o solúvel e realça os seus atributos, o que é mais perceptível pelo consumidor em comparação com o sistema de notas”, afirma Aguinaldo Lima.
É possível reconhecer aromas e sabores no café solúvel
No processo de desenvolvimento da metodologia, foram feitas várias provas de amostras de café solúvel do Brasil e do exterior. Foi identificada a intensidade dos principais atributos percebidos nas provas, como, por exemplo, notas de especiarias, nozes, chocolate, frutas, entre outras. Elencou-se 15 atributos e, de acordo com sua intensidade, cada um tem seu peso dentro da avaliação. Os dados são inseridos dentro de um sistema e este peso é calculado por meio de um algoritmo, que vai indicar qual a categoria do produto.
“As amostras analisadas mostraram diferentes produtos, mas, ao mesmo tempo, interessantes e complexos”, analisa Eliana. “Os cafés solúveis de excelência normalmente são mais doces e ácidos, com poucos amargos ou sem amargos, e que podem ser degustados puros”, explica a especialista.
Também conforme ela, os diferenciados são mais complexos para descrição, pois podem conter diferentes notas, como de chocolate e especiarias, e podem ser consumidos com leite, em diferentes misturas, como drinks, ou outras bebidas geladas ou puros.
Já os convencionais são mais “potentes” no paladar, com um sabor mais forte e recomendados para o consumo com leite. Cada categoria tem a sua aplicabilidade.
Próximos passos
Um curso sobre a avaliação do produto também deverá ser administrado a todas as indústrias e cadeias que trabalham com o café solúvel no Brasil. A ideia é formar profissionais para “nivelar” tanto o conhecimento dos clientes nacionais quanto dos internacionais.
Este processo de avaliação, com a metodologia pioneira, também deverá incluir, futuramente, um selo voluntário indicando a qualidade do produto. “O projeto deve ter continuidade e a estimativa é que, a cada seis meses, seja feita uma calibração da análise das amostras, com a constante prova feita pela equipe, seja presencial ou on-line”, ressalta Eliana Relvas.
“A nova metodologia para avaliação do café solúvel reforçará o protagonismo do setor, que poderá se mostrar ao mundo de forma mais inteligente”, acredita o diretor da Abics.
Projeto Imagem – Abics e ApexBrasil
Para prestigiar a divulgação e o lançamento da metodologia, a Abics, em parceria com a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil), realiza um trabalho de divulgação internacional, denominado “Projeto Imagem”. O projeto deve trazer jornalistas e formadores de opinião de importantes veículos de comunicação do exterior para participar do evento.
Este projeto engloba, também, a visita de líderes setoriais de organismos mundiais de café, como a National Coffee Association (NCA) e a Specialty Coffee Association (SCA), dos EUA, a All Japan Coffee Association (AJCA), a European Coffee Federation (ECF) e, ainda, o Coffee Quality Institute (CQI), entidade sem fins lucrativos que trabalha internacionalmente em projetos que visam melhorar a qualidade do café e a vida das pessoas envolvidas na sua produção.
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