Secas e guerra na Ucrânia empurram estoques de grãos para mínimas na década
Por Tom Polansek
CHICAGO (Reuters) - O mundo está caminhando para estoques de grãos mais baixos em anos, apesar da retomada das exportações da Ucrânia, já que os embarques são relativamente pequenos e as colheitas de outros grandes produtores agrícolas são menores do que inicialmente esperado, de acordo com dados de previsões de safra e oferta de grãos.
O mau tempo nas principais regiões agrícolas do mundo, dos Estados Unidos à França e China, está diminuindo as colheitas de grãos e reduzindo os estoques, aumentando o risco de fome em algumas das nações mais pobres do mundo.
Importadores, fabricantes de alimentos, pecuaristas e granjeiros esperavam que a disponibilidade de grãos melhorasse depois de a Ucrânia, devastada pela guerra, ter retomado parte dos embarques dos portos do Mar Negro, e após norte-americanos terem plantado grandes safras.
Mas os Estados Unidos, o maior produtor mundial de milho, agora devem colher sua menor safra do grão em três anos. A seca também atingiu as colheitas europeias e está ameaçando a próxima temporada de plantio na Argentina.
Até o final da safra 2022/23, os estoques de milho serão suficientes para apenas 80 dias de consumo, queda de 28% em relação a cinco anos atrás e o menor nível desde 2010/11, segundo dados compilados à Reuters pelo Conselho Internacional de Grãos, uma organização intergovernamental.
Isso representaria menos dias de estoques de milho do que o mundo tinha em 2012, quando a última crise global de alimentos provocou protestos.
Um clima mais desfavorável pode reduzir ainda mais os estoques globais, principalmente se o atual clima seco na América do Sul continuar na principal estação de plantio, à medida que o ciclo da cultura muda para o hemisfério sul.
As previsões de safra na Argentina, o terceiro maior exportador de milho do mundo, já estão sendo reduzidas devido ao clima seco.
A produção da União Europeia deve atingir uma mínima de 15 anos, um declínio que levará o bloco a aumentar as importações da Ucrânia em 2022/23 em cerca de 30% em relação ao ano anterior, para 10,4 milhões de toneladas, disse a consultoria Strategie Grains.
As exportações de milho e trigo da Ucrânia aumentaram desde que um acordo mediado pela ONU com a Rússia permitiu que os embarques fossem retomados a partir de portos que estavam bloqueados desde o início da guerra. Mas resta saber quanto a Ucrânia pode exportar, especialmente se a guerra se arrastar.
Espera-se que a Ucrânia colha de 25 a 27 milhões de toneladas de milho em 2022, abaixo dos 42,1 milhões de toneladas em 2021, após a invasão da Rússia, segundo estimativas oficiais.
ESPERANÇA SUL-AMERICANA
Enquanto isso, agricultores na China lutaram contra a seca, que ameaça as colheitas, e a Índia limita as exportações de arroz devido ao mau tempo.
O banco agrícola Rabobank disse que a próxima colheita de trigo dos Estados Unidos também está em risco e será plantada em pó neste outono, a menos que as chuvas caiam. Essa é "uma receita para outro ano difícil de produção agrícola e forte apoio aos preços", disse o Rabobank.
Os importadores estão de olho na América do Sul, onde os agricultores brasileiros devem produzir safras recordes de milho e soja em 2023, segundo analistas e o governo.
Os agricultores esperam um clima melhor para os plantios de soja que estão em andamento, depois que a seca estragou parte da safra passada.
Na Argentina, no entanto, a Bolsa de Grãos de Rosário prevê que os plantios recém-iniciados para a safra de milho 2022/2023 cairão 7% em relação à safra passada para 8 milhões de hectares devido a um problema familiar --a seca.
O governo argentino também limitou a exportação da safra, que será plantada nas próximas semanas, em 10 milhões de toneladas iniciais, em comparação com 36 milhões de toneladas na safra de milho 2021/22.
"Se isso fosse uma corrida, os agricultores estão largando na última posição com problemas no motor", disse à Reuters Cristian Russo, agrônomo-chefe da bolsa. "A situação é extremamente complexa, a temporada mais complexa que tivemos neste século até agora."
(Por Tom Polansek, Gus Trompiz, P.J. Huffstutter e Maximilian Heath; reportagem adicional de Karl Plume)
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