Dólar cai mais de 1%, vai abaixo de R$5,15 e fecha semana no vermelho com apetite global por risco
Por Luana Maria Benedito
SÃO PAULO (Reuters) -O dólar fechou em queda de mais de 1% ante o real nesta sexta-feira, pressionado por melhora no apetite por risco internacional e alta nos preços de commodities importantes, num movimento que ajudou a moeda brasileira a encerrar a semana com ganhos, apesar do rali registrado pelo dólar na véspera do feriado de 7 de Setembro.
A moeda norte-americana à vista caiu 1,16%, a 5,1462 reais, acumulando baixa de 0,78% em relação ao fechamento da última sexta-feira, com as perdas das últimas duas sessões (incluindo esta) e de segunda-feira compensando o salto de 1,67% visto na terça. Não houve negociações nos mercados brasileiros na quarta devido ao Bicentenário da Independência.
A divisa norte-americana terminou este pregão no menor valor desde 30 de agosto (5,1120 reais) e teve a maior queda percentual diária desde 23 de agosto (-1,26%).
Na B3, às 17:10 (de Brasília), o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento caía 1,32%, a 5,1775 reais.
As negociações locais foram influenciadas pelo ambiente internacional ameno, com o dólar perdendo força de maneira generalizada --seu índice frente a pares fortes caía 0,5% nesta tarde-- e as ações ganhando amplo terreno [.NPT] [.EUPT].
Por trás desse movimento, "destaco a China", disse à Reuters Lucas Serra, analista da Toro Investimentos, citando desaceleração em dados de inflação da segunda maior economia do mundo, divulgados na noite de quinta (horário de Brasília).
Com o arrefecimento nas pressões de preços, "foram abertas possibilidades para que a China injete mais dinheiro na economia para fomentar o crescimento", avaliou Serra.
"Essa expectativa de maior crescimento chinês, em parte por esses estímulos, acaba favorecendo investimentos em ativos de risco", como moedas de países emergentes, cesta que inclui o real, acrescentou ele.
Os preços de produtos como minério de ferro e petróleo, expostos à segunda maior economia do mundo, dispararam nesta sexta-feira. Várias moedas sensíveis às commodities --como peso colombiano, rand sul-africano e dólar australiano, importantes pares do real-- tiveram ganhos acentuados no dia.
Serra também atribuiu parte do apetite por risco internacional a "movimento corretivo" na esteira de falas mais duras de autoridades do banco central norte-americano, o Federal Reserve, que reforçou nesta semana seu compromisso com o combate à inflação, alimentando apostas em um terceiro aumento consecutivo de 0,75 ponto percentual nos juros pela instituição.
O Fed está prestes a entrar em período de silêncio antes de sua reunião de política monetária de 20 e 21 de setembro, e na próxima semana serão divulgados dados da inflação norte-americana que podem lançar luz sobre os passos seguintes do banco central dos EUA, disseram participantes do mercado.
Qualquer surpresa para cima nos preços ao consumidor poderá beneficiar o dólar, que recentemente foi a máximas em 20 anos no exterior.
O Santander disse em revisão de cenário nesta sexta-feira que uma piora nas condições financeiras globais e incertezas quanto ao futuro da política econômica brasileira deverão elevar o piso da flutuação recente do dólar, que tem ficado numa faixa entre 5,00 e pouco mais de 5,50 reais desde meados de julho. Mesmo assim, o banco manteve projeção de que a taxa de câmbio encerrará este ano em 5,30 por dólar.
Enquanto isso, o IBGE informou pela manhã que o IPCA registrou queda de 0,36% em agosto, que levou o índice acumulado em 12 meses abaixo dos dois dígitos pela primeira vez em um ano.
Alguns participantes do mercado comemoraram o melhor resultado para agosto desde 1998, mas outros se mostraram insatisfeitos com um qualitativo não muito bom, já que houve alta na difusão da inflação.
(Edição de José de Castro)
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