A força do cacau, por Luciano Vacari
Uma das mais recorrentes pontuações feitas pelo setor agroindustrial é com relação a dependência brasileira de alguns mercados, como China e Estados Unidos. Neste mesmo sentido, é possível observar também a dependência com relação às mercadorias. Apesar do país possuir um variado cesto de produtos cultivados, a balança comercial do agronegócio mostra que os cinco artigos mais exportados em 2021 representaram 60% de todo valor movimentado. Se somar os dez primeiros itens, esta participação chega a 80% do total.
A diversificação de culturas é indispensável para o desenvolvimento social brasileiro, uma vez que traz mais segurança econômica, estimula a indústria nacional e reduz as desigualdades regionais. Vejam o exemplo do cacau. O Brasil chegou a ser o segundo maior produtor do mundo de cacau. Além de abastecer o mercado doméstico, exportava o excedente na década de 1980.
Porém, na década de 90, uma doença fúngica, a vassoura de bruxa, fez com que a produção caísse drasticamente. Atualmente, apesar da pujança da produção agropecuária, o Brasil é o sétimo maior produtor de cacau e precisa importar o produto para atender a demanda das moageiras estabelecidas aqui.
Em uma visão de futuro, o cacau poderia ser tão importante quanto as grandes commodities, como soja, milho e algodão. Hoje em dia, a maior parte da produção mundial de cacau está na África, com destaque para a produção da Costa do Marfim, Gana e Nigéria. Mas existem muitos desafios na produção africana, que vão desde a organização produtiva até mesmo questões relacionadas às condições de trabalho das famílias.
O Brasil, apesar dos inúmeros desafios sociais e estruturais nas regiões produtoras, com destaque para o sul da Bahia e para o Pará, tem potencial para produzir um cacau mais sustentável, tanto na qualidade da amêndoa, quanto em competitividade econômica e de preço.
Com boas políticas públicas, combinando as esferas de decisões federal, estadual e municipal, é possível transformar a vida das famílias estabelecidas nos mais de 96 mil estabelecimentos produtores de cacau, com altíssima rentabilidade por hectare, especialmente se comparado a outras atividades extensivas e de baixa produtividade.
Há outras oportunidades, como a produção em áreas não tradicionais, seja por exemplo em São Paulo, com a nova política lançada pela Secretaria de Agricultura do estado, ou em outros modelos como o cacau a pleno sol irrigado, que vem sendo desenvolvido no oeste da Bahia.
O Brasil poderia, não apenas exportar as amêndoas com valor competitivo no mercado mundial, como alcançar mercados mais exigentes em qualidade. Além do produto, o cacau tem um potencial imenso de sequestro de carbono. Já existe legislação que permite a recuperação de Reserva Legal com o plantio do cacau. Possibilitando, especialmente para o agricultor familiar, o manejo sustentável dessas áreas.
Deve-se ressaltar, que além do papel do Estado na promoção da cadeia, em especial no investimento em pesquisa, há muito que a indústria, seja as moageiras, seja as chocolaterias, podem fazer para impulsionar a produção.
A expectativa do setor é alcançar a autossuficiência até 2025. Já temos o maior banco ativo de material genético. É preciso incentivos corretos. Regularização fundiária das propriedades para acesso ao crédito rural, e, principalmente, transferência de tecnologia e assistência técnica.
Os problemas e as soluções não diferem dos das demais cadeias, é um tudo uma questão de representatividade, oportunidade e boa vontade.
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