A comida que não chega à mesa: desperdício de alimento versus a fome no Brasil
O agronegócio e os setores urbanos estão intrinsecamente conectados, já que as cadeias produtivas de alimentos influenciam diretamente no cotidiano das cidades. Porém, muitos ruídos de comunicação entre as duas pontas geram discussões e desentendimentos que merecem atenção. Nesse contexto, o site Notícias Agrícolas e a consultoria MPrado desenvolveram o projeto Conexão Campo e Cidade, que visa debater diversas questões relacionadas aos negócios que envolvem os ambientes urbanos e rurais.
Confira aqui todas as edições do Conexão Campo Cidade
Em uma discussão mais voltada para as ações desenvolvidas no âmbito urbano, o Conexão Campo Cidade recebeu Luciana Quintão, presidente da ONG Banco de Alimentos e Luciano Almeida, CEO da Restin, que trabalham com ações na cidade contra o desperdício de alimentos. Esse trabalho é essencial, tendo em vista que 9% dos brasileiros passam fome e 46,2% apresentam algum grau de insegurança alimentar, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Por outra lado, 41 mil toneladas de alimentos são desperdiçados diariamente no Brasil. Assim, o tema de da discussão foi a comida que não chega à mesa do brasileiro, o desperdício de alimento versus a fome no país.
Combate a uma parte da fome no Brasil
Marcelo Prado e Luciana Quintão iniciaram o debate falando sobre a cultura de desperdício que existe no Brasil. O CEO da MPrado declarou ter se o impressionado com o cuidado de uma família alemã para que não fosse desperdiçada nenhuma comida, durante uma viagem que fez ao país. Segundo ele, a proprietária da residência onde ele esteve, explicou que o povo alemão tem essa preocupação devido às guerras pelas quais passou, e, por isso, têm uma consciência da importância do alimento
Para a presidente da ONG, é necessário acontecer no Brasil uma mudança comportamental de todas esferas da sociedade. Quintão afirmou que a fome no país é uma questão secular, evidenciada pela pandemia. Para ajudar a combater esse problema, a Banco de Alimentos vai até estabelecimentos comerciais, indústria alimentícia e produtores rurais do cinturão verde de São Paulo, em busca de alimentos que perderam o valor comercial, mas ainda estão próprios para o consumo.
Com os alimentos, a organização realiza a doação e transporte para entidades assistidas, onde os alimentos são usadas no preparo de refeições. Assim, a ONG faz o que chama de "colheita urbana", ao facilitar a colaboração de empresas de produção e distribuição de alimentos com projetos sociais que combatem a fome. Contudo, como destacou Luciana Quintão, esse trabalho apenas ajuda a combater uma parte da fome no Brasil. O problema só pode ser solucionado de outra maneira.
A renda e o acesso ao alimento: onde realmente está o problema
Por mais que a luta contra o desperdício ajude algumas famílias, nunca será suficiente para erradicar a fome. Como apontou Luciana Quintão, a população faminta no Brasil não sofre com a falta de alimentos por conta da escassez de oferta, mas sim por uma questão de renda.
Um argumento bastante comum, mas equivocado, sobre a falta de alguns alimentos no Brasil é que nós poderíamos resolver esse problema deixando de exportar alguns produtos, o que aumentaria a oferta no mercado interno. Entretanto, como explicou a presidente da ONG, a fome no Brasil acontece por conta da falta de rende e não de produtos.
A grande causa da fome é a falta de recursos financeiros para comprar o alimento. Segundo ela, as pessoas passam fome porque não têm dinheiro para comprar comida. Medidas para tentar aumentar a oferta no mercado interno com taxação de exportações foram aplicadas sem sucesso recentemente na Argentina, por exemplo, e prejudicaram os produtores rurais e contribuiu para o aumento da inflação no país.
Portanto, o agronegócio brasileiro consegue produzir uma quantidade de alimentos suficiente para exportar e abastecer toda a população com comida. Dessa forma, não falta comida dentro do Brasil. A impossibilidade para o acesso aos alimentos pelas pessoas que passam fome, acontece por conta da falta de acesso à renda, causada, principalmente, pelo desemprego. Assim, o problema no Brasil é uma falta de eficiência política no três poderes, como opinou Quintão.
0 comentário
Faesp quer retratação do Carrefour sobre a decisão do grupo em não comprar carne de países do Mercosul
Pedidos de recuperação judicial de empresas do setor agro crescem no País
Mulheres do agro debatem realidade da produção agrícola no Brasil durante o 5º ENMCOOP em Florianópolis
Ministro da Defesa chinês recusa reunião com chefe do Pentágono
Chefes de partidos da UE chegam a acordo sobre indicados de von der Leyen para Comissão
STOXX 600 fecha quase estável após negociações voláteis; setor imobiliário pesa