China pratica washout com navios de soja americana e já monitora produto mais barato no Brasil
Embora a oferta seja um dos principais pontos de atenção do mercado internacional de soja neste momento, com a nova safra norte-americana em andamento, de outro lado, a demanda - em especial da China - chamam ainda mais atenção neste momento. A notícia de que a nação asiática promoveu um 'washout' para oito navios de soja dos Estados Unidos nos últimos dias, de acordo com informações apuradas pela Agrinvest Commodities, pesa mais ainda sobre as perspectivas de consumo, mesmo sabendo das necessidades de compras chinesas para que o abastecimento do país esteja em dia.
"Na semana passada havia comentado sobre rumores de washout de pelo menos 5 navios. Tradings que processam nos EUA e na China reverteram soja para o mercado interno americano, repondo na China com soja brasileira com desconto de 40 centavos por bushel em relação à americana. O USDA reportou nas últimas duas semanas quase 500 mil toneladas de buybacks. Provavelmente o tamanho do programa de exportação 2021-22 será revisado para baixo", explica o analista de mercado da Agrinvest, Eduardo Vanin.
Há alguns dias, analistas e consultores já vinham relatando ao Notícias Agrícolas que a soja brasileira vinha se mostrando mais barata para a China, principalmente nos embarques julho, agosto e setembro. Depois das despencadas intensas das duas últimas sessões na Bolsa de Chicago - quinta (30) e sexta-feira (1) - os preços ficaram ainda mais atrativos para os compradores.
Para Ênio Fernandes, consultor em agronegócios da Terra Agronegócios, a demanda deve apresentar certa recuperação diante dos novos patamares, inclusive nos meses mais distantes, onde a safra 2022/23 dos Estados Unidos já se mostra mais clara, com o contrato novembro/22 tendo fechado a última semana abaixo dos US$ 14,00 por bushel. Ainda assim, ele explica também que como as commodities permanecem muito influenciadas pelo mercado financeiro, os preços seguem fragilizados.
"Na nossa visão, soja novembro e março, de US$ 13,90 a US$ 14,00 por bushel, é interessante para aquisições", diz Fernandes. De outro lado, porém, o que deve ser observado é o comportamento dos vendedores diante de referências menores, tanto nos portos, quanto no interior. Tanto para o restante da safra velha ainda a ser comercializado, quanto para a safra 2022/23 das principais origens produtoras.
Assim, o consultor, considerando uma alta do dólar frente ao real e mais prêmios que permanecem positivos, acredita que o preços da soja brasileira, em reais, deverão permanecer estáveis, e a demanda voltando a se aquecer, enquanto as vendas deverão continuar de forma paulatina, se dividindo para atender as demandas interna e para exportação.
"O erro (dos produtores) é esperar demais. É preciso lembrar aos produtores que as empresas trabalham com planejamento. Depois de setembro, a grande maioria delas vai virar seu foco para as exportações de milho. Então, o produtor não pode fica ad aeternum esperando isso. Recomendo também que seja acompanhado muito de perto o preço do petróleo e a moeda norte-americana. Cada vez que esses dois sobem, a soja que está na sua mão fica mais competitiva. Mas se você não tiver um plano de venda, você nunca vai vender", detalha Ênio Fernandes.
SUINOCULTURA NA CHINA
Outro combustível importante que pode aparecer para a demanda chinesa por soja é a retomada da suinocultura no país. Há algumas semanas as margens do setor vêm melhorando consideravelmente, refletindo uma alta nos preços da carne, bem com uma baixa nos insumos - milho e farelo de soja, principalmente - o que pode ser uma 'luz no fim do túnel' para o complexo da oleaginosa.
Somente nesta segunda-feira (4), o contrato setembro da carne suína na Bolsa de Dalian, na China, fechou o dia com 5,6% de ganho, depois de ter testado avanço de 8%, indicador que é limite de alta para a proteína. Além de um aumento do consumo interna desta que é a carne mais consumida no gigante asiático, os indicativos sobem também frente a uma redução no número de matrizes e da produção, consequentemente, mais contida.
Todavia, uma demanda maior, além de garantir margens melhores, também já estimula os suinocultores chineses a voltarem ao ciclo normal de abate dos porcos, segurando os animais por mais tempo, demandando maiores volumes de ração.
"Os produtores que estão de olho no aumento dos preços desde abril estão impedindo o abate de suínos e aumentando-os para pesos maiores para se beneficiar da melhoria dos lucros", informaram analistas à Reuters Internacional.
Embora os preços médios do suíno já tenham registrado um aumento de cerca de 60% do início de maio até esta segunda, segundo dados da Shanghai JC Intelligence Co Ltd., as referêcias ainda se mostram aquém do recorde registrado em 2020 e no primeiro semestre do ano passado.
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"Mas, Pequim também está ficando cautelosa com o rápido aumento dos preços, com o planejador estatal convocando uma reunião com os principais produtores de suínos na segunda-feira para discutir as razões por trás do rápido aumento e planos de produção futuros", aponta uma reportagem da Reuters com informações da mídia local Cailianshe.
MARGENS DE PROCESSAMENTO
Apesar do recente recuo nos preços da soja, o momento ainda é de margem negativa para as processadoras e a China busca entender como vai montar esse quebra-cabeça. "Na semana passada as margens na China recuaram mais uma vez, reduzindo muito o ritmo de novas compras de soja importada. Nas últimas duas semanas traders comentam que a China comprou menos de 20 navios de soja, metade do ritmo que vinha comprando no início de junho", explica Vanin.
Recentemente, os números dos estoques da oleaginosa em grão e de farelo de surpreenderam ao terem triplicado de março a junho. Assim, o ritmo de novas compras por parte da nação asiática - em qualquer origem que seja - é bem mais tímido do que em outros ano.
"Os estoques de derivados na China continuam grandes. Traders comentam que a China comprou seis barcos na semana passada no Brasil e alguma coisa na Argentina, o que é muito fraco", complementa o especialista.
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