Preços da ureia sobem mais de 20% em 15 dias no Brasil e deterioram ainda mais relações de troca
O movimento de todas as commodities, no mundo todo, chama muito atenção neste momento. A volatilidade continua se intensificando e, embora elas estejam em uma direção quase sincronizada, podem apresentar comportamentos distintos em locais diferentes. Um dos principais exemplos disso é o gás natural.
A manutenção do conflito entre Rússia e Ucrânia está no centro das atenções quando se trata deste produto, porém, o fechamento prolongado de uma importante planta de produção e exportação no Texas, nos Estados Unidos, ajudou a puxar ainda mais as cotações nesta semana, segundo informa a agência internacional de notícias Bloomberg.
São três semanas de altas fortes e consecutivas, com ganhos de 6,1% nos últimos dias para os futuros. "A extensão da interrupção mais uma vez em Freeport será um golpe fundamental para a Europa, pois garantir o fornecimento para o inverno será muito mais difícil",
disse Tom Marzec-Manser, chefe de análise de gás da ICIS em Londres. "À medida em que a duração da interrupção se aproxima do inverno, haverá maior preocupação com novas extensões assim que a demanda europeia começar a se firmar", completa, em entrevista à Bloomberg.
O impacto principal deste movimento, porém, é para o mercado de fertilizantes, em especial dos nitrogenados. O produto que mais sentiu foi a ureia, por mais uma semana, elevando o intervalo de preços no Brasil - custo e frete - a algo entre US$ 660,00 e US$ 680,00 por tonelada, testando máximas de até US$ 690,00.
Com o ganho, os preços do fertilizante retomam boa parte das baixas registradas no período de abril e meados de junho, de quase 50%, como explica o analista de fertilizantes da Agrinvest Commodities, Jeferson Souza.
"As cotações da ureia sofreram um forte aumento nos últimos 15 dias. O gás natural ainda preocupa bastante a oferta de nitrogenados na Europa para o segundo semestre", afirma. "Não fosse isso, os preços da ureia registravam um tendência de baixa até o início de julho. Há duas semanas o gás natural explodiu na Holanda e os preços da ureia refletiram isso rapidamente".
Considerando o período de 15 de junho a 1º de julho e a mínima do intervalo registrado nesta sexta-feira, de US$ 660,00 por tonelada, a alta acumulada foi de mais de 20%.
O impacto já chega forte para as relações de troca do produtor brasileiro. No último dia 27, o analista esteve no Notícias Agrícolas e destacou uma deterioração das relações para o milho safrinha 2023, com um aumento de 61 para 77 sacas do cereal - base Sorriso/MT -, em apenas sete dias.
Reveja a entrevista:
+ Fertilizantes: Ureia sobe 15% em uma semana e compromete relações de troca com o milho safrinha 23
Na sequência, Souza destacou também as relações de troca para o algodão. "O barter sofreu uma forte alta, os preços da pluma despencaram e a ureia subiu, resultado: aumento de 26% na semana e 7,4% em relação a média de maio (até 28 de junho)", detalha o especialista.
Ambos os gráficos mostram que as relações de troca continuam acima do intervalo histórico, mantendo os custos de produção muito elevados para a próxima temporada, bem como cada vez maior a necessidade do produtor brasileiro de contar com um detalhado planejamento comercial não só para a comercialização de sua produção, como para casá-las adequadmente com a compra de seus insumos.
"Fizemos um levantamento recente, uma pesquisa aqui com os nossos clientes e a grande maioria deles comentou que irá reduzir (o uso de fertilizantes) nas áreas que são possíveis. Nas áreas novas é uma outra conversa, mas nas áreas consolidadas eles irão reduzir a adubação", alertou o analista em sua última entrevista ao Notícias.
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ANGELO MIQUELÃO APUCARANA - PR
Este ano optei por não fazer adubação nitrogenada no trigo, pois os custos não compensam, a conta não fecha. A maior parte da área está coberta de aveia branca, dá dinheiro? Depende, mas a intenção é cobrir a terra e produzir matéria orgânica (palhada), deixando o solo livre de invasoras (buva, amargoso e outros). Ao passo que vamos, nem a soja vai fechar as contas, provavelmente diminuirei a adubação nesta também, sacarei o que tenho no banco (fertilidade do solo), depois veremos como cobrir esta conta, o mais importante neste momento é cuidar para não afundar, pois os preços estão muito além da nossa capacidade de pagamento. Alguém vai dizer "ah, mas assim a produção irá cair, vai ferrar o solo, blá, blá, blá". Cair a produção não vai, tirar do solo sim, mas fazer o que diante da situação? Hoje o soja teria que estar no mínimo em 250,00 (duzentos e cinquenta reais) a saca pra manter o poder de compra, ou equivalência, como queiram. Estejamos atentos, nem tudo o que ouvimos e lemos é a verdade, os interesses, as picaretagens e a intenção de induzir o produtor ao erro são enormes. Tem muita gente de olho, olho gordo... Ou será puxados?