Preocupação com oferta brasileira persiste e ICE bate menor nível de café certificado dos últimos 22 anos
A quarta-feira (29) foi mais um dia marcado pela queda dos estoques de café certificado na ICE. Desta vez, a ICE atingiu o menor índice dos últimos 22 anos, ficando abaixo de um milhão de sacas com 925.536 mil. Mais do que um indicativo de demanda aquecida, o mercado continua reagindo à preocupação com a oferta mais restrita do Brasil que avança a passos lentos com a colheita da produção de 2022.
Desde que os problemas climáticos passaram a atingir as áreas brasileiras, os estoques certificados oscilam bastante nos Estados Unidos. Traçando uma linha do tempo, em outubro de 2020 a ICE atingiu o menor estoque dos 20 anos com 1.234 milhões de sacas, registrou leve recuperação e em fevereiro de 2022 registrou pela primeira vez a menor baixa dos últimos 22 anos, com 1.060.424 de sacas.
O início desta semana foi marcado pela queda sequencial dos estoques, mas o mercado reagiu apenas nesta quarta-feira quando o volume atingiu os níveis mais baixos. As cotações avançaram mais de mil pontos na Bolsa de Nova York, chegando a ter negociação acima de 230 cents/lbp durante o pregão.
Haroldo Bonfá, analista da Pharos Consultoria, afirma que o consumo dos estoques volta a ser pressionado pelo mercado praticado na Bolsa, mesmo em dias de baixas como está sendo observado pelo produtor. "Estamos tendo uma variação muito grande nos preços, o nível estava baixo, mas hoje realmente chamou muito atenção. Fazemos a leitura de que está mais barato consumir esse café que já está em estoque do que fechar novos negócios", afirma.
Para os próximos dias, o analista acredita ser possível novas baixas nos certificados caso o mercado futuro continue operando nos patamares atuais. "Quando rompeu o nível de 2,20 nós vimos os estoques caírem. Hoje vimos romper 2,30, não fechou acima dos 2,30, mas rompeu a barreira. Os estoques podem continuar caindo", complementa.
Na visão do analista, o mercado continua operando com muitas variáveis e o produtor deve continuar vendo os preços oscilando bastante nos próximos dias. A colheita no Brasil em atraso, a dúvida em relação ao tamanho da produção, o período de entressafra e os problemas externos continuarão influenciando os preços.
Comenta ainda que os indíces inflacionários elevados, antes traziam alguma preocupação em relação ao consumo de café mundo afora, porém, os últimos meses mostram que acontece uma mudança em relação a qualidade do café, mas a quantidade continua sendo a mesma. O mesmo cenário é observado no mercado interno, de acordo com os últimos dados da Associação Brasileira das Indústrias de Café (ABIC).
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Diante deste cenário, afirma que continua difícil decifrar a movimentação do mercado nos próximos dias. Para o produtor, fica a orientação de continuar fazendo negócios de acordo com sua base de rentabilidade, com trabalho efetivo de gestão. "É preciso que o produtor esteja muito atento aos objetivos, não perder as oportunidades. Ninguém sabe o que vai acontecer e os negócios continuarão sendo fechados dia após dia", complementa.
Nos últimos dias, a agência de notícias Reuters divulgou a transferência de cafés certificados da Europa para os Estados Unidos. Segundo Haroldo, fontes confirmam que houve a transação, mas que no volume físico dos estoques europeu ainda não se sente essa diferença. Essa é outra questão que continuará sendo acompanhada de perto pelo setor cafeeiro.
Origem dos cafés certificados
Historicamente falando, Honduras é o país que tem tradição de fornecer café certificado na ICE. O cenário, no entanto, mudou com a safra volumosa do Brasil em 2020, quando o país pela primeira vez teve participação significativa nos estoques certificados.
Haroldo comenta, no entanto, que o levantamento da Pharos Consultoria, mostra que os Honduras, de forma muito tímida, passou o Brasil e corresponde por 45% dos cafés certificados na ICE. O Brasil tem 44,81% de participação.
Para o analista esse é um cenário que deve permanecer no curto prazo, já que o produtor hondurenho passa por problemas que vão do clima, a compra de fertilizantes e também de impacto social. "Já é esperado que Honduras colha bem menos neste ano. Com isso, esse café vai acabar ficando menos competitivo e o Brasil pode ganhar novo espaço no longo prazo. O número de rentabilidade é muito baixo por lá, não conseguiram comprar fertilizantes o suficiente e o problema social também é muito evidente", finaliza.
Veja a participação do Brasil nos estoques da ICE nos Estados Unidos:
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