Rússia x Ucrânia: Analistas ouvidos pelo Notícias Agrícolas divergem sobre impactos do possível corredor de exportação de grãos

Publicado em 07/06/2022 16:17

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O mercado global de grãos está com quase todos os seus olhos voltados para a reunião que acontece nesta quarta-feira, 8 de de junho de 2022, em Istambul, capital da Turquia, para a possibilidade de se firmar a criação de um corredor humanitário para a exportação de grãos pelos portos ucranianos na região do Mar Negro. Embora a Rússia tenha afirmado que está pronta para apoiar a decisão e a efetivação da medida, o governo da Ucrânia se mostra ainda muito cético diante das declarações. 

As incertezas sobre um possível acordo depois dessa reunião são muitas, já que Moscou avançou com seus ataques à Ucrânia nos últimos dias, inclusive em mais portos locais. Mais do que isso, especialistas falam sobre o tempo que levaria reestabelecer os terminais para que as atividades fossem retomadas, também apesar de notícias da manhã desta terça (7) de que os portos de Mariupol e Berdyansk já estariam aptos para o embarque de grãos. 

Representantes da ONU (Organização das Nações Unidas), a delegação russa liderada pelo Minsitro das Relações Exteriores do país, Sergei Lavrov, e o presidente turco, Tayyip Erdogan, estarão reunidos e o presidente ucraniano, Volodymyr Zelenskiy, afirma que não foi convidado para integrar o grupo. E segundo ele, são cerca de 25 milhões de toneladas de grãos sem rota de exportação, com este volume podendo triplicar até o outono no hemisfério norte. E tem buscado ainda garantias de que seus portos serão protegidos de novos ataques russos tão logo as minas sejam retiradas das áreas em questão. 

“As garantias mais firmes serão armas” que permitiriam à Ucrânia atingir navios russos se eles atacarem portos ucranianos, disse ele, de acordo com uma nota reportada pela agência internacional de notícias Bloomberg nesta segunda-feira (6). 

Na outra ponta,a  Rússia quer o direito de inspecionar navios que que serão destinados à Ucrânia e garantir que não estarão carregando também armamentos. 

AO Notícias Agrícolas foi ouvir alguns especialistas para saber quais as expectativas para esta reunião que acontece nesta quarta-feira. Entenda. 

Rita De Baco, De Baco Corretora

"Na nossa opinião aqui na De Baco, acreditamos que a Ucrânia não vai entregar o único trunfo que tem para negociar aliados. E o questionamento agora é: quanto o mercado cai se eles abrirem (novamente seu escoamento de grãos)? Além disso, temos visto a Ucrânia reticente frente à sua população sendo dizimada e suas cidades sendo destruídas. E apoio efetivo a eles não aparece. Assim, caso façam a abertura de suas exportações de milho e trigo, o povo ucraniano ainda teria que lidar com os impactos de um aumento de custo de seus produtos básicos". 

Jonathan Pinheiro, StoneX

"Aqui na StoneX não acreditamos que essa reunião terminará com um acordo, achamos que isso é bem improvável. A Rússia voltou a atacar Kiev, portos ucranianos e não achamos que as sanções serão retiradas como eles esperam, como eles vêm pedindo", diz. O consultor em gerenciamento de risco da StoneX explica também que a retiradas das minas da região do Mar Negro levaria cerca de seis meses para acontecer e permitir, efetivamente, que o escoamento fosse retomado. E Pinheiro se questiona ainda como e se o Ocidente aceitaria as condições que tem sido impostas por Moscou, entre elas essa inspeção dos navios ucranianos. 

Para o mercado de trigo, os questionamentos também são muitos nos dois cenários: com ou sem acordo. "O mercado hoje volta a cair refletindo o corredor e já vem precificando isso há um tempo", explica, porém, lembra que as incertezas sobre o caminhar dos preços ainda são inúmeras e que sem o corredor, os futuros do cereal deverão voltar a subir. A volatilidade persiste. 

Élcio Bento, Safras & Mercado

"Nunca sabemos o que se passa na cabeça desses líderes. O Putin está com sua imagem pública bastante desgastada - embora ele não queira muito mudar isso -, mas ainda assim imagino que é bem possível que seja liberado esse corredor humanitário, mas as sanções impostas à Russia, de um modo geral, pesam muito. E imagino que se for mesmo efetivado, podemos ter um tombo considerável nas cotações, muito mais pelo efeito psicológico do que prático. Se todo o trigo que estiver lá for exportado, são cinco milhões de toneladas a mais e isso deve ter algum impacto no mercado, dando uma 'boa' aliviada no quadro da oferta, mesmo com alguma dificuldade de escoar estes volumes", explica.

Bento lembra ainda que a nova safra do hemisfério norte está prestes a chegar ao mercado e, somada à efetivação do corredor, poderia exercer essa pressão mais acentuada sobre as cotações do cereal nas bolsas internacionais. "Não creio que o mercado esteja apostando tanto nisso porque os preços hoje estão caindo, mas não estão despencando. A efetivação do corredor poderia traze um tombo bem mais forte. Então, pode ter uma boa queda, testar um novo patamar, mas em não se tendo uma sinalização de que a guerra está perto de um final, o que parece pouco provável, os preços tendem a registrar uma recuperação gradual". 

Roberto Carlos Rafael, Germinar Corretora

"O Putin vem cravando que quer uma moeda de troca. Ele queria uma diminuição das sanções e, de outro lado, os EUA não estão dispostos e não vão abrir mão disso. Então, tomara que haja um bom senso e que liberem isso para que, na verdade, possam liberar a saída desses alimentos, barateando mundialmente. Mas, o Putin é um líder que quer impor as regras do jogo e como ele colocou isso como moeda de troca, e acho que não vai ter, vejamos. Acho difícil sair algum acordo, mas seria uma grande e boa surpresa se houver algo definitivo para liberar o corredor de exportação. Há muita desinformação em torno disso tudo, infelizmente". 

MERCADO EM CHICAGO

Na sessão desta terça-feira, os futuros do trigo negociados na Bolsa de Chicago fecharam com baixas de 17,25 a 21,25 pontos nos contratos mais negociados, levando o julho a US$ 10,71 e o setembro a US$ 10,84 por bushel. O que o mercado global de um dos cereais mais consumidos no mundo reserva depois da reunião desta quarta?! Os especialistas também se questionam. 

CONTEXTO

CONVERSA DE CERCA #55 - O grão de ouro. É assim que o mercado mundial está olhando para o trigo neste momento. Não só por sua importância determinante para a segurança alimentar de uma enorme parcela da população, mas pelo papel político que o produto tem agora, os preços e as estratégias estão sensíveis a toda e qualquer notícia que ainda possa surpreender o mercado. Ritta e Marcelo De Baco estiveram neste episódio do Conversa de Cerca pra nos ajudar a entender como chegamos até aqui! Vem ver!


 

CONVERSA DE CERCA #46 - O trigo é base da alimentação de quase todas as populações a redor do mundo há milênios. O cereal foi uma das primeiras espécies "domesticadas" pelos seres humanos, além de ter sido determinante para que deixassem de ser nômades e passassem a se fixar, formando sociedadeS organizadas, dando início, inclusive, ao comércio. O trigo é parte importante da história da umanidade e ajuda a entender como vivemos o mundo da forma como ele é hoje. Para viajar conosco nesta trajetória, Élcio Bento é um apaixonado por esse grãozinho e nosso convidado deste episódio do Conversa de Cerca.   

    

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Por:
Carla Mendes | Instagram @jornalistadasoja
Fonte:
Notícias Agrícolas

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1 comentário

  • Elvio Zanini Sinop - MT

    QUE VERGONHA ? PARA A RUSSIA E O MUNDO , DIFICULTAREM EXPORTAÇÃO DE ALIMENTOS DA UCRÃNIA , ÀS Naçôes que necessitam , para combater a fome em várias Nações do Mundo, como Trigo, milho, cevada, Giirasol e outros alimentos .. Até parece que estamos Chegando no Fo, do Munco ????;;;!!

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    • Rodrigo Polo Pires Balneário Camboriú - SC

      Sr. Elvio, isso não é novidade na história, Holomodor é o nome da morte pela fome imposta aos ucranianos pelos russos. O comunismo sempre foi mais assassino que o nazismo.

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