Produção consorciada de milho no café tem promovido aumento da ferrugem no parque cafeeiro na Zona da Mata, alerta Matiello
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Entrevista com José Braz Matiello - Engenheiro Agrônomo Fundação Procafé
Neste ano, os cafeicultores das regiões de montanha, especialmente os da Zona da Mata de Minas, plantaram milho em grande escala nas lavouras de café, o que deve prejudicar os cafeeiros.
O uso de cultura intercalar em cafezais é indicado, porém deve ser adotado com cuidados para não prejudicar a cultura principal, que no caso é o café. A primeira recomendação é a adoção de uma cultura adequada, cujas características principais devem ser: porte baixo das plantas, ciclo curto e, de preferência, ser uma leguminosa. Assim, o feijão é uma cultura bem apropriada. A segunda condição a observar é o seu uso quando a lavoura de café oferece maior espaço livre nas ruas, portanto, sendo indicado o cultivo em lavouras novas, em formação, ou naquelas no primeiro ano após podas drásticas, como recepa ou esqueletamento. Eventualmente, pode-se plantar em lavouras que estejam em recuperação, com safra baixa.
A cultura intercalar do milho é tradicional na Zona da Mata de Minas, onde a cafeicultura é explorada, em sua maioria, em pequenas propriedades. Ali, o cereal é utilizado tanto na alimentação humana como na de pequenos animais. Apesar das boas utilidades do milho e do bom preço atual do produto serem fatores estimulantes, o cafeicultor não deve empregar o milho de forma exagerada. Deve conhecer que o milho concorre em nutrientes, água e luz com o cafeeiro. Neste ano, como vem chovendo bem, a água não tem sido problema. Acontece que o plantio de milho vem ocorrendo, na maioria dos casos, em lavouras de café em produção e a condição de concorrência é agravada pelo espaçamento adensado na rua de cafeeiros, usual na região, o que reduz a distância entre as plantas de milho e os cafeeiros.
Três situações adicionais levam ao prejuízo do milho sobre os cafeeiros. A primeira é quanto ao controle do mato, que é dificultado quando do controle com herbicidas, pois o milho fica danificado pelo glifosato, já que a maioria dele não é transgênico (RR) e resistente ao herbicida. Assim o mato mal controlado se soma à concorrência do milho e também acaba prejudicando o cafeeiro. A segunda situação é o sombreamento que as plantas de milho provocam. Além de reduzir a luz para as plantas de café, a sombra pelas plantas altas de milho aumenta a umidade no ambiente e o molhamento foliar nos cafeeiros, agravando o ataque de ferrugem nas plantas de café. Além disso, o milho atrapalha as pulverizações para o controle da doença. Por último, a condição mais comum é a de não adubar ou adubar mal o milho, o que implica em sua concorrência em nutrientes, oriundos do solo ou dos adubos aplicados para os cafeeiros.
Verifica-se que o ideal seria usar um cultivo intercalar mais adequado, como o feijão, e empregar em situações de lavouras com maior área livre e com adubação da cultura. O milho deve ser usado com maiores cuidados, podendo ser útil na condição de áreas mais sujeitas a ventos frios, assim, funcionando como quebra vento temporário. O uso atual e exagerado do milho pode interferir na safra através de perdas na granação dos frutos de café, e, mediante redução no crescimento dos cafeeiros e pelo maior ataque da ferrugem, afetar a próxima safra da lavoura de café.
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