ESG em 2022: subindo a régua da transparência
*Por Marcos Matos e Silvia Pizzol - Diretor Geral e Gestora de Sustentabilidade do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé)
O ano de 2022 se iniciou com o ESG no mainstream da economia global e a agenda do clima se se evidenciando nos compromissos de descarbonização e transição para net zero em vários setores. A perspectiva é de aumento da cobrança por mais transparência e detalhada prestação de contas pelas empresas em relação às suas agendas de sustentabilidade e impactos gerados ao longo de suas cadeias de abastecimento.
Como exemplo, em janeiro de 2022 foi publicada a nova carta de Larry Fink, empresário bilionário americano e CEO da BlackRock – multinacional norte-americana de gestão de investimentos –, aos CEOs de todo o mundo.
Todos os anos, esta carta busca encorajar os líderes empresariais a administrar empresas com uma mentalidade de longo prazo, que proporcionará retornos duradouros aos acionistas ao longo do tempo.
A carta deste ano se concentra em englobar o capitalismo de stakeholders como um catalisador de mudança para ajudar o indivíduo a construir um futuro melhor, impulsionar a inovação, construir economias resilientes e ajudar a resolver alguns dos desafios enfrentados por toda a sociedade. A convicção da gestora de investimentos é que as empresas têm melhor desempenho quando são deliberadas sobre seu papel na sociedade e agem no interesse de seus funcionários, clientes, comunidades e acionistas.
A pandemia da Covid-19 reforçou a consciência dos consumidores sobre a natureza global dos desafios socioambientais e sanitários e eles querem mais informações sobre os impactos de seus gastos.
Uma pesquisa conduzida pela consultoria Simon-Kucher & Partners , com mais de 10 mil pessoas em 17 países, reforça que a sustentabilidade está se tornando cada vez mais importante nas decisões de compra. Globalmente, 85% dos entrevistados indicaram mudança em seu comportamento, nos últimos cinco anos, para serem mais sustentáveis. Tal conduta é mais marcante entre os millenials e a geração Z, que amadurece para representar uma parcela maior do mercado consumidor.
No mercado de café, essa tendência se reflete na crescente consciência dos consumidores com a originação responsável dos grãos e por produtos de menor impacto ambiental, como as cápsulas biodegradáveis, compostáveis e embalagens recicláveis.
Comportamento semelhante é observado nos investidores individuais do mercado financeiro. Em 2021, a Workiva conduziu uma pesquisa com mil investidores dos Estados Unidos, Reino Unido, Alemanha e França. Os resultados mostram uma ampla consciência sobre ESG, que se aprofunda no segmento mais jovem – novamente, os millenials e a geração Z são os que mais exigem transparência de dados e consideram as informações ambientais, sociais e de governança das empresas na tomada de decisão sobre onde investir.
No nível regulatório, esse cenário resulta em pressões crescentes nos principais destinos do café brasileiro para a aprovação de legislações que aprimorem a transparência de dados ESG no mercado financeiro e responsabilizem empresas pela mensuração e mitigação dos riscos socioambientais ao longo de suas cadeias de abastecimento.
Um exemplo é a Taxonomia de Sustentabilidade da União Europeia, que, associada à Diretriz sobre Relatórios de Sustentabilidade Corporativa, visa reduzir o risco de greenwashing e mobilizar 500 bilhões de euros por ano de investimento privado para mitigação e adaptação às mudanças climáticas e inclusão social. Pegada de carbono, o uso sustentável da água, transição para economia circular, prevenção e controle da poluição e proteção da biodiversidade são alguns critérios sugeridos para definir a característica ambiental de um ativo.
Do lado do consumo, 2022 inicia com projetos regulatórios em discussão no continente europeu para obrigar as empresas a prestarem contas sobre como enfrentam questões ambientais críticas. São os casos das propostas de União Europeia e Reino Unido (esta já na fase de regulamentação) de due diligence (DD) obrigatória das empresas para mensurar e mitigar riscos de desmatamento em suas cadeias de suprimentos. Na Alemanha, legislação semelhante foi aprovada em 2021, com aplicação a partir de 2023, exigindo que as empresas monitorem riscos e relatem abusos dos direitos humanos e ambientais, estendendo as obrigações de DD aos fornecedores estrangeiros.
Diante desse cenário, a rastreabilidade nas cadeias agroalimentares e programas de sustentabilidade emergem como relevantes ferramentas de DD e podem se transformar em requisitos para o acesso a mercados mais exigentes.
Acompanhando essa realidade em transformação na economia global, o segmento exportador de café do Brasil constrói parcerias e investe em projetos estratégicos para valorizar os ativos socioambientais da cafeicultura nacional e demonstrar como enfrenta os desafios.
Em março, o Cecafé divulgará os resultados de seu projeto de quantificação das emissões e remoções de gases de efeito estufa (GEE) nas três principais regiões produtoras mineiras de café. O estudo, que conta com a parceria de Starbucks, Lavazza e Sebrae-MG e é executado pelo Imaflora, sob a liderança científica do professor Carlos Eduardo Cerri, da Esalq/USP, permitirá comunicar com mais transparência as contribuições de diferentes sistemas produtivos de café para a mitigação e adaptação às mudanças climáticas.
Na dimensão social, o enfrentamento dos riscos trabalhistas está em andamento na inciativa de ação coletiva da Plataforma Global do Café (GCP) “Bem-estar social na cafeicultura”, da qual o Cecafé é um dos coordenadores junto com o Instituto Pacto Nacional pela Erradicação do Trabalho Escravo – InPACTO.
A iniciativa iniciou 2022 capacitando técnicos multiplicadores das empresas e cooperativas parceiras na metodologia de comunicação não violenta, como estratégia para aprofundamento de percepções, aprimoramento do diálogo e transformação social, introduzindo uma abordagem inovadora para a promoção do trabalho decente no campo.
Outros desafios emergentes também serão trabalhados em 2022, como a ampliação da rastreabilidade na cadeia produtiva do café, a digitalização de capacitações de cafeicultores e trabalhadores rurais em temas prioritários para cadeia produtiva e a promoção da imagem dos Cafés do Brasil, com o ESG na temática central dessa agenda. Antecipando-se a tendências, o segmento exportador atua para a consolidação do Brasil na liderança do fornecimento mundial de cafés sustentáveis.
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