Safra 22/23 maior no Centro-Sul afasta temores de desabastecimento de etanol anidro e redução da mistura
O impacto climático sobre a safra 2021/22 (abril-março) de cana-de-açúcar no Centro-Sul do Brasil, com menor produção de açúcar e de etanol, fez com que o último ano fosse marcado por temores de desabastecimento e até possibilidade de redução da mistura do etanol anidro na gasolina.
Em parte de 2021, inclusive, cogitou-se a possibilidade de retirada da taxa sobre a importação de etanol dos Estados Unidos pelo Brasil, que hoje está em 20%, deixando a janela de exportação fechada na maior parte do ano.
Com a chegada da temporada 2022/23, projetada com uma moagem de cana quase 10% maior ante a anterior no Centro-Sul, esses temores perdem força. Tanto é que a União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica) e a União Nacional do Etanol de Milho (Unem) garantem a oferta do biocombustível até abril, quando começa o novo ciclo.
"No mês de setembro, fizemos várias avaliações e tínhamos uma expectativa de que durante o ano safra a importação poderia chegar a 600 milhões de litros. Passado três meses, esse cenário mudou completamente", explicou ao Notícias Agrícolas Antonio de Padua Rodrigues, diretor técnico da Unica.
Padua explica ainda que a oferta pelas usinas teve elevação nos últimos meses do ano de 2021, assim como a demanda por combustíveis se arrefeceu. "Esse movimento fez com que praticamente não precisássemos importar mais etanol. O que chegou de abril até novembro e o line-up já é suficiente para garantir a oferta", diz.
A Unica estimou em dezembro que, em 2021, até novembro, as importações de etanol pelo Brasil estavam em cerca de 332,4 milhões de l, além de um line-up de dezembro de cerca de 50 milhões de l. O volume total representa uma queda de mais de 60% ante o ano anterior.
Na temporada 2021/22, o Brasil produziu cerca de 525 milhões de t de cana, segundo a Unica, com uma queda de cerca de 10% ante 2020/21. A produção de etanol anidro deve ficar em 11,02 bilhões de l, além de 16,69 bilhões de l de hidratado, totalizando 27,71 bilhões de l, incluindo milho. Uma queda de mais de 8% ante a temporada anterior e o menor volume em três safras.
Duas das principais consultorias do Brasil projetam produção maior de etanol na temporada 2022/23 que logo começará. A Safras & Mercado vê um volume de 35,50 bilhões de l de etanol no Centro-Sul do país, incluindo a produção de etanol de milho, ou 20,34% maior sobre os 29,50 bilhões de l na temporada anterior.
"A demanda está no mínimo do mínimo. A gente regrediu pelo menos uns 10 anos em padrão de demanda... Então as usinas devem estar um pouquinho mais focadas para o açúcar, mas é claro que elas não vão chegar e virar toda a chave até porque eles não querem aquela pressão por parte do governo de queda na mistura", pontua Muruci.
A StoneX acredita em números menores para a nova safra do biocombustível, de 29,7 bilhões de l, também incluindo o milho, ou seja, 7,22% a mais do que os 27,7 bilhões de l em 2021/22. A consultoria não vê possibilidade de desabastecimento tanto de açúcar quanto etanol no Brasil mesmo com a entressafra maior em 2021/22 por conta do clima.
"Algumas usinas têm sinalizado que podem começar a safra 2022/23 em março, dado o retorno da umidade, mas a maior parte das unidades produtoras devem dar início aos trabalhos em campo apenas entre abril e maio. Mesmo assim, parece pouco provável que haja desabastecimento tanto de açúcar quanto etanol", aponta Rafaela Souza, analista da StoneX.
Para ela, no açúcar, os estoques ainda se mantêm em níveis confortáveis e as vendas internacionais diminuíram nos últimos meses – embora haja indicativos de retomada na procura internacional. Para o etanol, a tancagem se mostra elevada e tende a garantir o abastecimento doméstico, especialmente com consumo arrefecido.
A indústria de etanol de milho, que tem contribuído para a oferta na entressafra, também não teme desabastecimento de etanol anidro. "Tem produto suficiente para abastecer o mercado, não se fala mais em mistura, não tem o porquê disso", afirma Guilherme Nolasco, presidente da Unem, sobre a possibilidade de desabastecimento.
"Nós fazemos parte de uma mesa de abastecimento, liderada pelo Ministério de Minas e Energia, que a gente traz a programação mensal de demanda, produção e estoques e esse é um assunto superado", destaca Nolasco. "Existe uma responsabilidade do setor de ofertar aquilo que se demanda", ressalta o executivo.
Para 2022/23, as expectativas do mercado são de uma safra de etanol de milho 20% maior ante a anterior, para mais de 4 bilhões de l.
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